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No lançamento da Expedição Safra Gazeta do Povo, na última semana, em Goiânia, entre as temáticas que dominaram os discursos, destaque à questão, ou melhor, preocupação com a infraestrutura logística, de armazenagem e escoamento da produção de grãos. As abordagens foram motivadas a partir de uma projeção prévia feita pela Expedição sobre um potencial produtivo de quase 20 milhões de toneladas adicionais à safra 2012/13 em relação ao ciclo 2011/12. Se confirmadas as projeções, o volume a ser produzido no país pode saltar de 165,9 milhões para 185 milhões de toneladas.

O potencial é resultado do incremento em tecnologia, ampliação de área e recuperação da produtividade de soja e milho na Região Sul, que na última campanha operou abaixo do rendimento médio por conta da estiagem que castigou as lavouras. E se há investimento é porque há preço e mercado, no ambiente doméstico e internacional. Um cenário motivado pela quebra da safra nos Estados Unidos em 2012, bem como pela crescente demanda mundial por commodities agrícolas, seja ela para alimentação humana ou animal, assim como para energia.

Não resta dúvida que estamos diante de uma excelente oportunidade à economia agrícola brasileira. Contudo, um posicionamento que traz responsabilidade e preocupação. O mercado está aí, aberto e de olho no Brasil. A produção, a considerar o comportamento da variável climática, tem tudo para estabelecer não apenas um novo recorde, mas um novo patamar de produção ao Brasil. O país tem condições de dar um salto acima de 10%, no intervalo de apenas um único ano. Ou seja, temos pela frente não apenas uma grande chance, como um grande desafio.

Como colher, armazenar e transportar uma safra desse tamanho? Dessa eficiência e agilidade depende também nossa credibilidade e confiança no mercado internacional. Se temos condições de plantar e colher, deveríamos, em tese, ter condições de entregar essa produção. É nesse momento que nossa vitrine, responsável pela exposição mundial do nosso potencial, expõe também nossas limitações, onde a ação de plantar ou colher fica fácil diante da enorme dificuldade logística que o Brasil impõe ao processo.

A Expedição Safra é um indicador periódico, atualizado ano a ano, que oferece informações e condições para essas análises de conjuntura, sobre o impacto que o dado estatístico pode representar em outros elos da cadeia produtiva. Porém, existem tantas outras fontes, públicas e privadas, que seguem na mesma linha. Uma das mais relevantes, dada a ampla capilaridade da coleta e interpretação de dados, está em uma publicação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

O documento Projeções do Agronegócio – Brasil 2011/12 a 2021/22 – Projeções de Longo Prazo, que mostra as perspectivas da produção de inúmeras culturas no Brasil, revela um número surpreendente, que endossa ainda mais a preocupação do setor com a logística. Conforme a publicação, a produção nacional de soja só deveria romper as 80 milhões de toneladas na safra 2016/17. Para o ciclo atual, não iria ultrapassar as 75 milhões de toneladas. Para o milho, uma constatação ainda mais surpreendente. As 70 milhões de toneladas previstas para a temporada em curso é igual à projeção feita somente para 2021/22.

Na prática, o Brasil antecipa as projeções, amplia os riscos e potencializa os problemas de infraestrutura. De qualquer forma, a oportunidade está aí. Como lidar com ela é que vai a questão. Não dá para resolver demandas logísticas da noite para o dia. O desafio é como minimizar o impacto dessa variável, extremamente negativa não somente ao custo Brasil, como à imagem do país em um momento de consolidação e posicionamento de sua agricultura no mercado internacional. Vale lembrar, apenas como exemplo, que na safra atual vamos consolidar nossa posição, agora irreversível, de maior exportador de soja em grão e assumir, pela primeira vez, o ranking de maior produtor da oleaginosa. Nos dois casos, desbancando a liderança histórica dos Estados Unidos.

Manter essa liderança – não na produção, porque isso não é problema – é que será o desafio. Para manter e ampliar o espaço no mercado internacional é preciso ser cada vez mais competitivo, dentro e fora da porteira. Temos de ser eficientes tanto na oferta quanto na demanda. A conjuntura é favorável, mas é preciso fazer a lição de casa, investir e de certa forma correr atrás do prejuízo. Deveríamos estar prontos para este momento. Mas não estamos. E isso é fato. São inúmeros os projetos em andamento, mas nenhum capaz de fazer produção e consumo conversarem e estabelecem a sinergia necessária à crescente produção de Norte a Sul do país.

Também é preciso reconhecer que, tarde ou não, o fato é que governo e iniciativa privada se mobilizam na busca por soluções e alternativas que possam dar resposta a esses gargalos logísticos. O Ministério da Agricultura acredita – e eu também – que nos próximos anos será possível diminuir as distâncias percorridas no escoamento da produção de grãos em 700 quilômetros, encurtamento que pode reduzir o custo logístico em 30%, em média. Mas quando? Esse é o nosso drama, o grande ponto de interrogação, que apesar de não limitar o avanço na produção, compromete a competitividade e afeta a sustentabilidade do agronegócio brasileiro.

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