• Carregando...
Calligaris: insultos enviados por e-mail não seriam feitos cara a cara | Sérgio Castro/AE
Calligaris: insultos enviados por e-mail não seriam feitos cara a cara| Foto: Sérgio Castro/AE

São Paulo - As relações afetivas construídas na internet e a forma como nos mostramos nas redes sociais não são nada virtuais. Ao contrário, são muito reais. Psicanalista que figura entre os mais famosos no Brasil, Contardo Calligaris vai contra discursos que diferenciam relacionamentos ou atitudes na rede dos realizados no mundo "físico". Para ele, amizades ou romances mantidos na web valem o mesmo que os mantidos fora dela E comportamentos muitas vezes exóticos assumidos virtualmente são só o reflexo de características já existentes no indivíduo.

O papo pode parecer muito cabeça para o leitor. É mesmo. Mas na conversa com a reportagem, Calligaris destrincha o assunto, que lhe inquietou a ponto de servir de material para escrever sua primeira peça de teatro. Além de psicanalista, ele é escritor, colunista da "Folha de S. Paulo" e agora dramaturgo. E assina o texto do espetáculo "O Homem da Tarja Preta", em cartaz em São Paulo, no qual retrata um homem casado e pai de duas filhas que, na madrugada, assume o papel de travesti em chats.

Calligaris assume que a peça chega a chocar. Mas diz que é sintoma da web hoje. "Esse foi um dos grandes efeitos da rede. Antes dela, um cara que tivesse uma fantasia desse tipo se sentiria um monstro que precisava de tratamento, pois julgava que só ele tinha isso. E mudou. Na internet, descobre que milhares de pessoas vivem as mesmas fantasias que ele, vê que não está só."

Diz o psicanalista que isso não é somente para fantasias sexuais. Vale para colecionadores de relógios antigos, quem gosta de botões, enfim, tudo o que pode fascinar um indivíduo e que ele deixa escondido por medo de não ser aceito. É justamente aí que entra a questão de o personagem no mundo virtual não ser um personagem, mas o mesmo indivíduo do mundo real.

Nos e-mails que recebe pela sua coluna, por exemplo, Calligaris diz que alguns trazem ofensas, até com palavras de baixo calão. "Pessoalmente, o sujeito não diria isso. Mas na web se sente à vontade, pois já está acostumado com o espírito." Para ele, o jogo de esconde-e-mostra da internet – tanto na personalidade como fisicamente – faz parte da "parte lúdica". "Há casais que se conhecem na web e se casam. E outras pessoas que não se conhecem fisicamente, mas mantém uma relação muito real. Não há distinção entre real e virtual."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]