Queda das exportações garantiu o abastecimento

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Endividada e abalada pela crise global, que secou o crédito para novos investimentos – e, em alguns casos, até para capital de giro –, a indústria sucroalcooleira interrompeu em 2008 um vigoroso movimento de expansão. O patamar a que os preços chegaram agora é, em grande parte, efeito retardado da crise; eles só não dispararam antes porque as exportações do produto caíram justamente a partir de 2008, o que deu um respiro à oferta no mercado interno.

De acordo com a Unica, principal associação do setor, o número de novas usinas baixou de 30 na safra que começou a ser colhida em 2008 para 19 em 2009 e 10 no ano passado. No ciclo atual, o 2011/12, apenas cinco novas unidades entram em operação no país. "Nos últimos dois ou três anos, houve investimentos basicamente em fusões e aquisições, na formação de grandes conglomerados. A produção ficou mais concentrada, mas não maior", explica o analista Marco Saravalle, da corretora Coinvalores.

Ao mesmo tempo em que a área cultivada e o tamanho da indústria pouco cresceram, adversidades climáticas e a concorrência com o açúcar, mais rentável, contribuíram para limitar a produção do combustível. Depois de quase dobrar entre 2003 e 2008, crescendo a uma média de 14% ao ano, o volume produzido empacou na casa dos 25 bilhões de litros anuais no chamado Centro-Sul – que engloba os produtores do Sudeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil e concentra 90% da produção nacional.

Nesse meio tempo, a venda de carros flex só aumentou. Nos últimos dez anos, os brasileiros compraram 12,7 milhões de automóveis que podem ser abastecidos com álcool, segundo a Anfavea, representante das montadoras. Foram 7,9 milhões de veículos bicombustíveis apenas de 2008 a 2010, o equivalente a 87% de todos os carros vendidos no período.

A combinação entre estabilidade da produção de álcool e forte aumento da demanda só não resultou em desabastecimento no mercado interno porque as exportações do combustível, que somaram 5,1 bilhões de litros em 2008, desabaram para 1,9 bilhão no ano passado. Neste ano, em cinco meses, elas não chegaram a 300 milhões de litros.