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Confira no gráfico os índices de retração da indústria |
Confira no gráfico os índices de retração da indústria| Foto:

"Marolinha" causará retração, admite Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu ontem, pela primeira vez publicamente, que a crise internacional poderá causar uma "retração" na economia brasileira, mas afirmou que serão mantidos todos os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da Petrobras. "Quem estiver apostando que o Brasil vai quebrar vai quebrar a cara antes de o Brasil quebrar", declarou, em entrevista ao fim de visita ao Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro.

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Juros devem cair mais rapidamente

O tombo recorde da indústria em dezembro e a falta de sinais de recuperação da demanda devem levar a uma redução mais rápida da taxa básica de juros, a Selic. Em janeiro, o Banco Central fez um corte de 1 ponto porcentual, levando a taxa para 12,75% ao ano.

Para o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, o BC "tem espaço de sobra" para cortar os juros na próxima reunião, em 10 e 11 de março. Ele conta com mais uma queda de 1 ponto porcentual. Para 2009, a perspectiva é de um corte total de 2,5 pontos porcentuais. O economista-chefe da Lopes Filho e Associados, Júlio Hegedus, também avalia que haverá um corte de 1 ponto em março, em uma tentativa de reverter a expectativa negativa que se instalou no início de 2009.

O professor de economia do Isae/FGV Alivinio Almeida defende que a ação contra a crise vá além da redução de juros pelo BC. "As medidas pontuais adotadas pelo governo até agora defenderam os setores mais atingidos, mas isso é pouco para garantir uma arrancada depois da crise", diz. "Há agora a necessidade de estímulos gerais para exportações, investimento em infraestrutura e outras medidas de médio prazo." (GO)

Para quem ainda tinha dúvidas sobre a extensão da crise financeira, o resultado da produção industrial em dezembro de 2008, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não deixa margem a interpretações. O setor teve uma retração de 14,5%, na comparação com dezembro de 2007, e produziu 12,4% menos do que em novembro de 2008. A queda é a mais aguda da série histórica do IBGE, que começou em 1991.

Uma retração forte em dezembro já era esperada, mas ela ficou acima até das previsões mais pessimistas – que indicavam produção 10% menor do que em novembro. "A queda foi intensa, mostra uma mudança brusca na atividade econômica", diz o economista Tomás Goulart, da Modal Asset Management. "Partimos de um terceiro trimestre com crescimento de 6,5% ao ano para um quarto trimestre de retração de 2% ou mais."

O resultado da indústria revela que a crise se espalhou rapidamente pela economia. Dos 27 segmentos pesquisados, 23 apresentaram sinal negativo na comparação com dezembro de 2007. As maiores quedas foram verificadas nas áreas de material eletrônico (-60,3%), veículos automotores (-49,5%), borracha e plástico (-31%), e máquinas e equipamentos para escritório (-30%). "Era esperado que as indústrias de bens duráveis, como veículos, tivessem parado em dezembro. Mas a pesquisa mostra queda acentuada também em bens de capital, como máquinas, e em bens intermediários", aponta Júlio Hegedus, economista-chefe da consultoria Lopes Filho e Associados.

Com os novos números nas mãos, os analistas começam a refazer as contas para o crescimento do PIB em 2008 e 2009. É provável que o produto tenha encolhido entre 2% e 3% no último trimestre do ano passado, o que levaria o resultado anual para a casa dos 5% – abaixo dos 5,8% que eram esperados. Para 2009, o mercado previa até segunda-feira, segundo a pesquisa semanal do Banco Central, expansão de 1,8%. Agora, os economistas trabalham com a possibilidade de haver mais uma queda da indústria em janeiro e até de PIB negativo no primeiro trimestre, o que poderia reduzir ainda mais a projeção para o ano.

A Gradual Investimentos, por exemplo, reduziu suas projeções para o PIB. No quarto trimestre, a aposta caiu de -1,66% para -2,25%. A economista da Mauá Investimentos Cassiana Fernandez também iniciou o processo de revisão das projeções para o PIB do quarto trimestre de 2008, de -1,8% para algo mais próximo de -2%. "Está ocorrendo um choque de demanda e isso é realmente algo sem precedentes, é algo que assusta", avaliou.

Janeiro

Segundo analistas, a produção industrial provavelmente vai apresentar nova redução em janeiro em relação a dezembro. Para o superintendente da Área de Pesquisas Econômicas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Ernani Torres Filho, porém, a diminuição da produção industrial em janeiro não deve ser tão forte quanto a de dezembro. "Em dezembro teve redução forte. Mas não é para assustar, nem se deve fazer projeções com base nisso, porque é um ajuste de estoque da economia que não é só no Brasil, está acontecendo no mundo todo."

A redução de estoques ainda não está terminada. Segundo a Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getulio Vargas (FGV) de janeiro, 21,8% das empresas entrevistadas classificaram seus estoques como excessivos. O porcentual foi o maior desde julho de 2003 e ficou acima do de dezembro, que foi de 21%.

O professor da PUC-RJ e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, comenta que a produção é financiada pelos bancos e, com a crise, está faltando capital de giro para várias empresas manterem a produção e o nível de emprego. "Isso aconteceu em outubro, novembro, dezembro e provavelmente janeiro." Para ele, a queda do nível de utilização da capacidade industrial captada pela FGV de dezembro para janeiro – de 79,9% para 78% na série com ajuste – significa queda da produção no primeiro mês de 2009.

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