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 | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
| Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Após ficar à beira do abismo entre 2009 e 2010, Portugal fez ajustes econômicos e agora dá sinais de recuperação. O país assinou um acordo com União Europeia, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE) para receber ajuda e impôs medidas penosas para a população. O ministro da Economia de Portugal, António Pires de Lima, esteve em Foz do Iguaçu na última quarta-feira para a inauguração do centro de operações do Programa de Mobilidade Elétrica Inteligente (Mob-i), projeto em que o país é parceiro. Nesta entrevista à Gazeta do Povo, Lima fala da reestruturação econômica de Portugal e das perspectivas do país.

Como foi o processo de reestruturação econômica do país?

O processo ainda não acabou. Estamos nos tornando um país do ponto de vista econômico voltado para a exploração das oportunidades internacionais. Portugal é um país pequeno e se as empresas estiverem focadas só no mercado interno, é óbvio que o país terá dificuldades em crescer. A grande mudança que existiu em Portugal nos últimos anos foi que as empresas passaram a considerar o mundo a sua casa e se transformaram em empresas globais. A CEiiA, que é uma pequena empresa (parceira de Itaipu no projeto de mobilidade), é um bom exemplo disso. Nesse sentido, nossas exportações cresceram mais de 30% nos últimos quatro anos. Há também um retorno do investimento porque é mais fácil convencer empresários a investirem em Portugal, pensando que o país pode ser um centro de negócios para suas operações na Europa, África ou para todo o mundo, do que convencê-los a investirem em Portugal para servir um mercado de 10 milhões de pessoas. Portanto, estamos assistindo nesse momento um retorno de investimento que cresceu 9% no último trimestre de 2013 e 12% no primeiro trimestre de 2014. Isso é um bom sinal porque essa trajetória econômica já é de crescimento, mas será muito mais sólido e forte se conseguirmos associar a este processo de internacionalização das empresas portuguesas, também investimentos fortes tanto de empresários portugueses quanto de estrangeiros.

A troika (palavra russa que designa um comitê com três membros, no caso FMI, BCE, UE) foi muito criticada durante as negociações. Esse pacote ajudou a levar Portugal para o caminho certo?

Ajudou-nos a dar credibilidade e reputação. Eu não gosto de discutir detalhes do caminho até porque isso implicou muitos sacrifícios e sofrimentos para as pessoas. Mas, no final, o importante era que Portugal reconquistasse a reputação, a credibilidade e a confiança dos mercados. E isso aconteceu. Na semana passada, Portugal fez uma emissão da dívida pública a 10 anos com uma taxa de juros de 13,26%. Agora é com especial ânimo que vemos os sacrifícios e esforços que fizemos. Isso produzirá resultados e podemos voltar outra vez a ter acesso de financiamento em mercados, o que significa ganhar autonomia do ponto de vista financeiro, que também é muito importante.

Como estão as contas públicas do país hoje e qual é a perspectiva de crescimento?

Vamos crescer este ano entre 1% e 1,5% e colocar nosso déficit público em 4% ou menos. Essa é a trajetória a ser seguida, vínhamos de um déficit de cerca de 10% e agora já temos superávit comercial. Nós somos, nesse instante, um país que mais exporta do que importa. Durante 70 anos a realidade foi diferente, mas pela primeira vez, em 2013, tivemos um superávit externo das nossas contas. Foi uma correção muito rápida que se fez na economia portuguesa. Estamos em um bom caminho. É evidente que, para continuarmos no bom caminho, é preciso conciliar rigor e disciplina financeira com o crescimento econômico, que é uma realidade em Portugal.

Qual a visão que Portugal tem hoje sobre a zona do euro?

A visão é positiva e nós somos parte da zona do euro. O projeto euro implica desafios muito importantes de integração de políticas financeiras e econômicas a nível europeu, também de grande responsabilidade e coesão social. Nós fazemos parte do euro e estamos muito orgulhosos por provar agora que conseguimos ser uma economia competitiva em um espaço com moeda única.

A zona do euro vale a pena mesmo com os custos de ajustes?

A maioria dos partidos políticos portugueses, que tem 90% de representação na Assembleia da República, defende a presença de Portugal no euro. É uma questão que se pode discutir sempre, mas a larga maioria dos portugueses é favorável a presença no Euro. Esse é um projeto de futuro da Europa e de Portugal.

E como o senhor avalia a ação do Banco Central Europeu contra a deflação?

Não temos deflação nesse momento na Europa. Temos uma baixa inflação e o Banco Central Europeu tem vindo assumir, de forma gradual, uma posição que tem ajudado a credibilidade da Europa como um espaço de moeda única e a sustentabilidade do euro.

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