• Carregando...
Fachada da sede da Freddie Mac: esforço do governo para manter dinheiro disponível à população para novos empréstimos imobiliários | Paul J. Richards/AFP
Fachada da sede da Freddie Mac: esforço do governo para manter dinheiro disponível à população para novos empréstimos imobiliários| Foto: Paul J. Richards/AFP

Cálculos

Mais provável é que casas ainda se desvalorizarão até 2011

Desde setembro de 2008, o Tesouro dos Estados Unidos já injetou US$ 148 bilhões na Fannie Mae e na Freddie Mac. No mesmo período, as duas financeiras devolveram aos cofres públicos US$ 13 bilhões em dividendos. Isso significa que os contribuintes norte-americanos arcaram com um prejuízo líquido de US$ 135 bilhões. Como as instituições continuam deficitárias, o pagamento de dividendos sai direto do dinheiro repassado pelo Tesouro. Na prática, portanto, as empresas apenas devolvem parte da ajuda federal.

A Federal Housing Finance Agency (FHFA, agência responsável pelos financiamentos imobiliários) fez as duas instituições passarem por três "testes de estresse". Dessa forma, estabeleceu que valor elas ainda poderão demandar.

No pior cenário traçado pela agência, a economia dos EUA voltaria a entrar em recessão e o preço dos imóveis despencaria mais uma vez – a queda total seria de 45% em relação aos picos registrados em 2006. Nessa projeção, Fannie Mae e Freddie Mac precisariam de mais US$ 215 bilhões do Tesouro norte-americano, dos quais US$ 91 bilhões retornariam na forma de dividendos. Custo total para os contribuintes: US$ 259 bilhões (incluindo os US$ 135 bilhões já desembolsados) ou uma nova assistência de US$ 124 bilhões.

Na estimativa mais otimista, o valor dos imóveis atingiria o fundo do poço neste ano, numa queda total de 31% em relação a 2006. Em pouco tempo, esse mercado começaria a se recuperar junto com a economia. As duas companhias precisariam, então, de uma ajuda extra de US$ 73 bilhões e pagariam dividendos de US$ 67 bilhões.

O socorro custaria, nesse caso, US$ 141 bilhões – ou pouco mais do que os atuais US$ 135 bilhões.

A FHFA considera mais realista a projeção intermediária. Nela, as casas continuariam a se desvalorizar até o terceiro trimestre de 2011, numa redução total de 34% em relação a 2006, para só depois começarem uma lenta recuperação. Fannie Mae e Freddie Mac teriam de receber aproximadamente outros US$ 90 bilhões. Os repasses ao governo somariam US$ 71 bilhões, fazendo com que os contribuintes terminassem de socorrer as empresas após um gasto total de US$ 154 bilhões – US$ 19 bilhões acima dos US$ 135 bilhões já consumidos.

Nos dois cenários mais moderados, a agência prevê que a Freddie Mac voltará a ser rentável – com isso, os dividendos teriam origem nos lucros em vez de apenas reembolsarem parte da ajuda governamental.

Se a economia dos Estados Unidos continuar sua trajetória de recuperação, o resgate das duas gigantes hi­­potecárias do país, Fannie Mae e Freddie Mac, pode chegar ao fim com um custo adicional relativamente baixo para os contribuintes norte-americanos. No caso de uma nova recessão, entretanto, o socorro estatal dobrará de tamanho. Isso é o que revelam as projeções divulgadas recentemente pelo governo dos EUA.

No cenário mais provável traçado pela Federal Housing Finance Agency (FHFA, agência responsável pelos financiamentos imobiliários), as duas instituições financeiras deverão exigir cerca de US$ 19 bilhões em ajuda extra federal nos próximos três anos. Se o reaquecimento econômico for mais rápido do que o esperado, o estudo mostra que as companhias precisariam de apenas US$ 6 bilhões em novos aportes. Por outro lado, em uma eventual recaída da economia, mais US$ 124 bilhões seriam sugados dos cofres públicos.

Desde 2008, quando a Fannie Mae e a Freddie Mac sofreram in­­ter­­venção estatal, o Departa­men­to do Tesouro dos EUA já aplicou nas duas instituições US$ 135 bilhões para cobrir perdas causadas por títulos podres. O governo sustenta essas empresas para garantir que o dinheiro dos empréstimos imobiliários continue disponível à população. Mesmo no pior cenário, a FHFA mostra que o ritmo da infusão financeira governamental cairá bruscamente nos próximos anos.

Papel do Estado

Segundo a agência, os números servem para alimentar o debate público a respeito do futuro das duas instituições. No início de 2011, o governo Obama deverá propor mudanças no papel que o Estado hoje assume na área de crédito imobiliário. "As projeções têm a finalidade de oferecer, tanto para os políticos como para o público em geral, informações úteis sobre as consequências do resgate", disse o diretor da FHFA, Edward DeMarco. Em estimativas anteriores, o custo total para sanear as finanças das duas empresas variava bastante – alguns analistas de mercado chegaram a dizer que a operação demandaria até US$ 1 trilhão.

A Fannie Mae e a Freddie Mac podem enfrentar novas perdas, à medida que um número crescente de mutuários questiona a legalidade de execuções de dívidas e afirma que os responsáveis pela co­­brança das hipotecas não têm cumprido requisitos legais para a retomada de um imóvel. O atraso nas execuções de dívidas custa caro às duas instituições.

Comemoração

A equipe de Obama comemorou o resultado das projeções. Na visão do governo, os números revelam que ambas as instituições acabaram em grande parte com as práticas que deram origem aos prejuízos. Ainda segundo essa percepção, os empréstimos garantidos pela Fannie Mae e pela Freddie Mac nos últimos anos não estariam causando mais problemas. "No cenário mais provável, 90% das perdas das duas instituições já foram cobertas", afirmou, por meio de nota, o subsecretário de finanças domésticas do Depar­ta­mento do Tesouro, Jeffrey Golds­tein. Para ele, no entanto, esse sucesso "não minimiza a necessidade de reformas, para que os contribuintes não tenham de arcar com novos prejuízos no futuro".

Se estiverem corretas, as projeções também confirmariam estimativas lançadas pelo governo Bush, que diziam que o resgate das empresas não consumiria mais do que US$ 200 bilhões. A administração de Obama, por sua vez, ga­­rantiu inicialmente que deixaria US$ 400 bilhões à disposição da Fannie Mae e da Freddie Mac. Mais tarde, retirou o limite e prometeu fornecer a quantia que fosse necessária para salvá-las.

Tradução: João Paulo Pimentel

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]