Veja como cada um dos protagonistas deixa o encontro de Bruxelas| Foto:

Entenda a crise

Compreenda os últimos acontecimentos na zona do euro:

Por que a Europa está em crise?

Por problemas fiscais de alguns países da zona do euro e pelas divergências políticas que surgiram a partir disso. Países como a Grécia e a Itália gastaram mais do que arrecadaram, inclusive acreditando que poderiam ter benefícios semelhantes aos sócios mais ricos. Na falta de recursos, contraíram dívidas que ultrapassam e muito o limite de 60% estabelecido no Tratado de Maastricht, de 1992, que criou a zona do euro – no caso da Grécia a relação dívida/PIB é maior que o dobro deste limite. Esta crise não deixa de ser também um rescaldo da de 2008, já que foi o desenrolar do subprime norte-americano que provocou a quebradeira de bancos e a escassez de crédito no mercado mundial.

O que acontece se o euro acabar?

Segundo a corretora japonesa Nomura, a maioria das "novas-velhas" moedas nacionais sofreria uma desvalorização frente ao dólar, com exceção, apenas, do novo marco alemão, que ficaria cotado a 1,3 contra US$ 1. Os piores casos seriam das moedas da Grécia, Irlanda e Itália, que perderiam 57,6%, 28,6% e 27,3% frente à moeda norte-americana. Os investidores com contratos em euro teriam seus valores transformados em moeda local.

Por que foi tão difícil chegar a essa primeira decisão consensual entre a maioria dos membros da UE?

Na época da bonança, os atores não tinham problemas em abrir mão de sua autonomia para ganhar vantagem como um todo. À medida que a crise se tornou grave, porém, ninguém quis assumir o custo político das dívidas dos países mais fracos. Mas para salvar o euro é preciso que o conjunto de países assuma o custo político dos erros individuais. Para países fortes, como Alemanha e França, isso é mais fácil. Para os mais pobres, é assustador.

Como isso pode afetar a economia mundial e o Brasil?

Se países como França e Alemanha pararem, a China teria problemas para vender seus produtos. O país asiático, por sua vez, é o principal consumidor das commodities brasileiras, que são o barco de salvação da economia nacional, juntamente com o aquecimento do mercado doméstico. Além das medidas tomadas até agora, no entanto, o Brasil poderia, segundo analistas, aproveitar a desaceleração para fazer mudanças importantes, como a reforma tributária.

Como fica o Reino Unido?

Ainda é cedo para dizer, mas a atitude do primeiro-ministro David Cameron de se isolar das discussões do comitê intergovernamental formado ontem dá um sinal negativo aos seus parceiros comerciais. Em um período em que a condição dos Estados Unidos também é frágil, isso é bastante perigoso.

Fonte: agências e Creomar de Souza, professor de Relações Internacionais do Ibmec Brasília.

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Dos 27 países membros da UE, só o Reino Unido rejeitou as propostas feitas ontem
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Nunca o Reino Unido esteve tão isolado da Europa. Nunca foi tanto uma ilha. Esses eram os comentários mais frequentes após o primeiro-ministro David Cameron se recusar a aderir ao acordo que estreita as relações políticas e econômicas na União Europeia. Os mais alarmistas dizem que o acordo fechado ontem pode salvar o euro, mas rachar de vez a UE, com a saída do Reino Unido do bloco. O país sempre teve uma relação dúbia com a UE e sempre se recusou a transferir poder para Bruxelas. Não aderiu ao euro, a moeda comum; não assinou o tratado de Schengen, que permite a livre circulação de pessoas entre os países sem o controle de documentos; e, agora, rejeita a união fiscal.

Dentro do país, no entanto, a posição de Cameron foi festejada pela maioria dos seus companheiros de partido (o Conservador) e por parte da população e da mídia sensacionalista. Para muitos britânicos, os burocratas de Bruxelas custam caro e a União Europeia fez o país se encher de imigrantes desqualificados que roubam os seus empregos. Agora, vários creem que crescerá a pressão por um referendo para decidir se é mesmo o caso de continuar na UE, com cada vez menos influência sobre o futuro econômico do bloco.

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Mas um suposto rompimento teria implicações sérias. Metade das exportações do país vai para a Europa, e parte de atratividade para as empresas é o mercado europeu, não o interno. Para a oposição, Cameron pôs em risco toda a economia do país para proteger apenas o sistema financeiro. Ed Miliband, líder do Partido Trabalhista, de oposição, chamou de "débil" a ação do premiê.

As divergências entre Cameron e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, foram piorando ao longo do ano. Numa cúpula recente, Sarkozy mandou Cameron calar a boca e disse que estava cansado de ouvir sermões de alguém vindo de um país que não aderiu ao euro e que nunca gostou da moeda. Ontem, Cameron afirmou que o país está em melhor situação financeira por não estar na zona do euro.

Enquanto o Reino Unido perde influência, a Alemanha consolida a sua. À frente da maior economia do continente, a chanceler Angela Merkel conseguiu impor sua receita de disciplina fiscal para quase toda a UE.