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"E Jesus, andando junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos, os quais lançavam redes ao mar, porque eram pescadores. E disse-lhes: ‘Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens’", diz o evangelho de Mateus. Vinte séculos depois, a rede usada pelos operários da fé é virtual e bastante abrangente. Nela encontra-se de tudo um pouco: padre online, cultos evangélicos ao vivo, velas e terços virtuais, jogo de búzios e até troca de mensagens com entidades espirituais. No século 21, definitivamente, Deus está disponível – e online.

A Primeira Igreja Batista de Curitiba, por exemplo, tornou possível aos seus membros acompanhar ao vivo os cultos ministrados aos domingos sem que eles tivessem que ir ao templo. Uma câmera e um computador cumprem a missão de transmitir dois cultos por semana no site da igreja (www.pibcuritiba.org.br)

"A internet tem sido muito útil, com bom retorno. Um casal me disse que nos conheceu pela internet e, após assistir ao culto, resolveu visitar a igreja", conta o pastor fluminense Vítor Manoel Valente.

Para ele, é preciso se adaptar à tecnologia: "Ainda estou me acostumando, mas nos cultos já há momentos em que me dirijo diretamente aos internautas. Eu os saúdo, oro com eles e faço o apelo para que eles entreguem a vida a Jesus, mesmo pela internet."

No território virtual a fé católica não fica atrás e o site do Santuário de Aparecida (www.santuarionacional.com.br) é a maior comprovação disso. Os números são impressionantes: 8 milhões de page views por mês e acessos de mais de 55 países – o Japão lidera a lista, seguido pelos Estados Unidos.

Ao acessar o site, o internauta não só pode ver a história do santuário e da Nossa Senhora Aparecida, mas também dispõe de alguns serviços religiosos. É possível rezar um terço virtual, ver uma apresentação da via-crúcis e acender uma vela de sete dias, também virtual. A vela é o carro-chefe dos serviços mais acessados, segundo o responsável técnico do site, Giovani Mariano. "São acesas em torno de 85 mil velas virtuais por mês. Em três anos foram mais de três milhões. É o serviço mais acessado", diz ele. "Temos recebido e-mails de pessoas que tiveram graças alcançadas por meio do pedido virtual."

Giovani diz que todos da sua equipe estão empenhados em tornar mais fácil o contato do fiel com Nossa Senhora Aparecida: "Tentamos levar um pouquinho de Nossa Senhora para o mundo, e nos dedicamos a fazer isso com o máximo de realismo."

O babalorixá Pedro de Oxum Docô, presidente da Sociedade Ilê de Oxum Docô, em Porto Alegre, cita exemplos práticos em que a fé do internauta se sobrepõe à realidade. Na página da sua sociedade religiosa há o jogo de búzios e o tarô online. "Os jogos são os links mais acessados e fazem muito sucesso. Eles servem apenas para familiarizar a pessoa com as cartas e com os búzios e não passam de programas de computador. São jogos randômicos, aleatórios e sem nenhum agente sobrenatural", confessa o babalorixá, que também é programador.

O padre jesuíta Guy Ruffier, responsável pela seção "Padre Online" do site católico "Amai-vos", tem certeza de que o espaço da internet pode e deve ser usado por religiosos. "Seria tão bom se todo sacerdote que tem a vocação de orientar pessoas descobrisse o canal fabuloso que tem nas mãos", disse. No entanto, o padre diz que não crê que a interlocução online possa substituir o contato direto. "O ‘Padre Online’ é um conselheiro, um psicólogo, pai, mãe, amigo. Muitos chegam a pedir para se confessar pelo chat, mas não é possível. O amor também nunca poderá ser virtual."

Um site hospedado nos EUA, que também oferece espaço para o acendimento de velas, tenta elucidar a questão com uma pergunta: "Desde tempos imemoriais, as pessoas acendem velas em locais sagrados. Por que o ciberespaço não pode ser sagrado?"

É uma questão que, convenhamos, deve ser pensada com muita calma – e com muita fé, evidentemente.

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