Não há consenso entre empresários e economistas sobre quando a crise econômica no Brasil vai acabar. O que há de certo é que a retomada do crescimento será capitaneada pela iniciativa privada. Mais precisamente, a reação será puxada por empresas que se prepararam e conseguiram se manter sólidas no período de turbulência.

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Investimento em inovação, treinamento de pessoal, controle rigoroso de custos e um olhar atento às novas oportunidades de mercado são algumas características comuns a essas empresas. Elas também preferem não contar com a sorte e se mantêm na linha mesmo nos tempos de bonança. É o que o americano Jim Collins, um dos mais respeitados gurus da gestão de empresas, chama de “paranoia produtiva”.

Em uma entrevista recente, Collins explicou que as organizações mais bem-sucedidas estão preparadas para eventos imprevisíveis. Elas erguem redes de segurança e traçam planos de crescimento cuidadosos em momentos econômicos tranquilos de modo a preparar a organização para quando chegarem as tempestades. Uma das principais recomendações do especialista é que a empresa mantenha dinheiro em caixa.

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Esta é uma recomendação recorrente dos especialistas em gestão. De acordo com o professor José Mauro Nunes, da Fundação Getúlio Vargas, momentos de crise são inerentes a qualquer ciclo econômico e as empresas devem estar preparadas para isso. “Empresas que têm resiliência agora entendem a turbulência como algo regular no mercado. É certo que a crise vai acontecer um dia, por isso a empresa deve ter uma gestão proativa, não reativa ao cenário”, diz.

Obsessão por custos

De fato, o planejamento e a disciplina em bons momentos são características comuns das empresas quem têm performado bem no atual cenário econômico nacional. A Klabin, maior produtora e exportadora de papéis do Brasil, segue esta cartilha. Na apresentação dos resultados da empresa no primeiro trimestre de 2016 (período em que ela teve um lucro de R$ 1 bilhão), o diretor geral da companhia, Fabio Schvartsman, disse que o controle de custos é uma preocupação constante. Para isso, a Klabin recorre aos serviços da consultoria Falconi, uma das mais conceituadas do país.

“Estamos iniciando uma nova rodada de ataque aos custos das nossas fábricas de papel, fazendo um novo projeto com o intuito de produzir ao longo dos próximos meses uma redução relevante nos custos da produção de papel”, afirmou Schvartsman aos investidores.

Com essa atenção aos custos de operação, a Klabin teve fôlego para investir R$ 853 milhões no primeiro trimestre deste ano – 86% deste valor foi destinado ao projeto Puma, a nova fábrica da companhia em Ortigueira, no Paraná, que entrou em operação no início de março e custou R$ 8,5 bilhões. O investimento foi certeiro e entrou em funcionamento com 90% de sua produção já vendida. Segundo Schvartsman, a nova fábrica também será submetida a uma avaliação de custos da consultoria Falconi.

Com atenção contínua ao caixa, as empresas não precisam recorrer à redução de custos de forma desesperada em período de crise. “Neste momento de corte de custos, há que se ter clareza do que é custo e o que é investimento”, afirma o professor José Mauro Nunes. Empresas que mantêm seus projetos de inovação, pesquisa e desenvolvimento dos funcionários têm mais chances de encontrar novos nichos de mercado, ou de implementar mudanças que reduzam substancialmente os custos. Foi o que permitiu, por exemplo, à fabricante de autopeças Brose enxergar no mercado de SUVs o caminho para crescer mesmo durante a maior retração já vista no mercado automotivo (leia mais ao lado).

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A aposta no capital humano faz com que a empresa tenha mais agilidade para encontrar soluções. “Desenvolver pessoas e processos é o que fortalece a empresa. Investir em treinamento é fundamental, mas essa cultura é restrita às grandes empresas, as pequenas e médias não o fazem”, afirma Jorge Biancamano, consultor que atua na área de planejamento estratégico. Uma lição aprendida pela Neodent, que decidiu manter os treinamentos para não atrasar a união de processos com sua matriz suíça (leia mais ao lado). O resultado é um crescimento de dois dígitos em 2015 e 2016.