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Pontes, da Pastre: venda de grandes lotes a clientes que não “pisaram no freio” ajudou receita a crescer, mas a rentabilidade caiu | Felipe Rosa/Gazeta do Povo
Pontes, da Pastre: venda de grandes lotes a clientes que não “pisaram no freio” ajudou receita a crescer, mas a rentabilidade caiu| Foto: Felipe Rosa/Gazeta do Povo

Contexto

Pressionadas pelo aumento dos estoques, montadoras reduzem produção

De janeiro a abril, as montadoras brasileiras venderam 47,6 mil caminhões no mercado interno, 10% menos que no mesmo período de 2011. As exportações recuaram 5%, para 7,3 mil unidades. Pressionada pelos altos estoques, a produção caiu mais ainda: somou 42,9 mil caminhões, 30% abaixo do volume de igual intervalo de 2011.

A Volvo, que tem fábrica em Curitiba, vendeu 13% menos caminhões no primeiro quadrimestre. Para se adequar a esse cenário, deu folga de seis dias a 1,3 mil de seus 4,1 mil funcionários e diminuiu a produção: até a próxima quarta-feira, deixará de montar 600 caminhões, o equivalente a 60% do que vendeu no mês de abril. A situação da concorrência não é melhor. Empresas como Mercedes-Benz, MAN, Ford e Scania têm recorrido a medidas como férias coletivas, redução da jornada de trabalho e até suspensão de contratos de funcionários.

Novo padrão

Embora não na magnitude que se vê hoje, o encolhimento do mercado era esperado desde o ano passado, quando caminhoneiros e empresas anteciparam compras para escapar dos reajustes anunciados para 2012. No início deste ano, entrou em vigor o padrão ambiental Euro 5, que inflacionou em até 15% os caminhões novos.

Combustível

Além do maior custo dos veículos Euro 5, transportadoras e caminhoneiros desconfiam do suprimento de combustível. Os novos caminhões só podem ser abastecidos com diesel S50, que tem teor reduzido de enxofre. Embora a Petrobras garanta que mais de 1,3 mil postos brasileiros já têm o S50, são comuns os relatos de que o combustível não é encontrado em todas as partes do país.

Exceções

Novos produtos garantem expansão de Noma e Pastre

O quadro de recessão da indústria de implementos rodoviários tem algumas exceções. Entre elas estão a Noma, de Maringá (Norte do estado), e a Pastre, de Quatro Barras, na região de Curitiba. Nos dois casos, a boa saída de novos produtos ajuda a explicar por que as receitas crescem em meio à crise do setor.

Uma das cinco maiores fabricantes do país, a Noma vendeu 14% mais nos quatro primeiros meses do ano, diz o diretor comercial, Luiz Mesquita de Arruda Camargo. Além de ter reforçado o investimento em divulgação e estar aumentando sua rede de distribuidores, a empresa – que emprega 1,4 mil pessoas e produz 600 reboques por mês – comemora o sucesso de uma linha lançada em outubro do ano passado.

"Uma das novidades, e que está vendendo muito bem, é a graneleira Ecotech, que usa placas de alumínio e poliuretano em vez de madeira. É um produto mais leve, que não sofre com a variação de temperatura e não absorve umidade", diz Mesquita.

Na Pastre, que tem 415 funcionários e fabrica 170 equipamentos por mês, o faturamento aumentou 22% no acumulado de janeiro a abril, puxado por dois produtos: o semirreboque Carrega-Tudo, usado para o transporte de grandes máquinas e equipamentos, e o semirreboque basculante Slider. Dotado de eixos deslizantes, o Slider carrega até 35 toneladas de carga, 30% mais que um semirreboque convencional.

Segundo Pontes, tanto caminhoneiros autônomos quanto empresas estão retraídos neste ano, mas a Pastre conseguiu negociar lotes grandes com algumas das poucas companhias que não "pisaram no freio". "Devido a uma estratégia mais agressiva de preços, necessária para enfrentar a situação do mercado, a rentabilidade está bem abaixo da observada em 2011", revela o coordenador.

Os efeitos da retração do mercado de caminhões estão se espalhando pela cadeia produtiva do setor. De um lado, a freada nas linhas de montagem se reflete em queda nas encomendas para as empresas que fornecem peças e componentes às montadoras. Na outra ponta, a redução nas vendas desses veículos diminui a demanda por implementos rodoviários – reboques e outros equipamentos acoplados aos caminhões.

Além de hospedar a montadora Volvo, o Paraná tem empresas em vários pontos dessa cadeia. Algumas ainda conseguem elevar produção e vendas, mas a maioria das consultadas pela Gazeta do Povo diz estar faturando menos que no ano passado. As horas extras, frequentes em 2011, desapareceram.

As medidas de estímulo anunciadas a partir de abril pelo governo – queda dos juros e ampliação dos prazos da linha Finame, do BNDES – são elogiadas, mas na maior parte dos casos inspiram apenas um otimismo moderado entre empresários e executivos do setor.

Fornecedora de algumas das maiores montadoras do país, a curitibana Ibratec reduziu sua produção pela metade neste ano. Sem abrir números, revela que já teve de dispensar funcionários. "Se fizermos uma fotografia do que acontece hoje e projetá-la no futuro, poderemos fechar o ano com queda 40% no faturamento", conta Dorival Soares, diretor de produção da empresa, que produz peças usinadas para suspensão, motor e cabine de caminhões.

Na MVC Soluções em Plás­­ticos, de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), a retração foi ainda mais forte. "Nos últimos cinco meses produzimos para algumas empresas o mesmo volume de peças que, no ano passado, produzíamos em um mês", conta o diretor-geral, Gilmar Lima. Em 2011, a produção de componentes para caminhões respondeu por 20% das receitas da empresa; neste ano, a fatia deve cair para 10%. Parte dos 200 funcionários dessa linha foi deslocada para outras áreas da empresa, que estão crescendo.

Os fabricantes de implementos rodoviários, que no ano passado celebravam recordes, agora enfrentam uma redução média de 7% nas vendas para o mercado interno, segundo dados nacionais da Anfir (representante do setor) referentes ao período entre 1.º de janeiro e 28 de maio.

A situação varia conforme a empresa e seu nicho de atuação. Na Metalesp, de Rio Branco do Sul (RMC), as vendas de equipamentos do tipo silo e tanque caíram 20% no primeiro trimestre. "É o pior cenário dos últimos cinco anos", lamenta João Manuel de Carvalho Cardoso, gerente de vendas e marketing. Segundo ele, a negociação de preços com fornecedores ajudou a baratear os implementos, mas nem isso reverteu a baixa nas vendas. "Toda vez que havia alguma redução de juros, a melhora no mercado era percebida imediatamente. Não é o que acontece hoje", diz Cardoso.

A contração da indústria de implementos se reproduz em seus fornecedores. A Aesa, que produz molas e acessórios em Cambé (Norte do estado), informa que as vendas para o setor caíram 30% no primeiro quadrimestre. "De tudo o que produzimos, 40% vai para as fábricas de implementos", conta André Bearzi, diretor comercial. "Evitamos ao máximo dispensar funcionários, mas, se não houver alguma recuperação nos próximos meses, existe essa possibilidade."

Colaborou Dilvo Rodrigues, especial para a Gazeta do Povo.

Taxa de juros caiu, mas efeito é incerto

Após sofrer duas reduções em dois meses, a taxa de juros do financiamento de caminhões e implementos rodoviários caiu para 5,5% ao ano na semana retrasada. A nova taxa é equivalente à inflação anual, o que significa que o juro real da operação é próximo de zero. Ao mesmo tempo, os prazos máximos de pagamento foram estendidos para 120 meses. Pelas condições do programa Finame/BNDES, responsável por 85% das vendas de veículos comerciais pesados, empresas poderão financiar até 90% do bem e autônomos, 100%.

As novidades foram bem recebidas, mas há dúvidas sobre o tamanho da recuperação que elas podem estimular. "Medidas assim foram testadas anteriormente e tiveram o efeito esperado. Mas não sabemos classificar a intensidade com que elas vão chegar ao mercado desta vez, e se a velocidade da retomada será suficiente para ‘salvar’ o ano", diz Alcides Braga, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir).

Contribuem para essa desconfiança o encarecimento dos caminhões, as dúvidas quanto à oferta do diesel S50 e, principalmente, o fato de que os bancos comerciais – que repassam os recursos do BNDES – estão mais seletivos, o que prejudica principalmente os caminhoneiros autônomos, donos de 46% da frota nacional de caminhões. Foi por dificuldades na aprovação de crédito, diz Braga, que em seis anos a linha BNDES Procaminhoneiro conseguiu renovar apenas 3% da frota.

Estica-e-puxa

Para o executivo, a atuação do governo peca pela falta de continuidade. As últimas mudanças do Finame, lembra, fazem parte da "quarta versão" do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), lançado em meados de 2009. "Não deveríamos estar no ‘PSI 4’, e sim no ‘PSI 1’. O que o governo tem feito é lançar o programa, o mercado reagir e, no auge da reação, o governo ir lá e encerrar o programa, para esfriar a economia. É um esquenta-esfria, um estica-e-puxa muito ruim para o comprador e a indústria, que não conseguem se planejar", diz Braga. "Não é diferente agora, uma vez que o governo marcou para 31 de agosto o fim deste novo plano."

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