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Luiz Orlandini, CEO da startup gaúcha de educação Schoolastic (Foto: Divulgação)| Foto:

O Rio Grande do Sul desbancou Minas Gerais e o Rio de Janeiro e, em março de 2019, passou a ocupar a segunda posição no Top 10 de estados em concentração de negócios inovadores no país. O levantamento é da Associação Brasileira de Startups, que passou a acompanhar a evolução do setor em 2012. Desde então, o pódio não havia se alterado: trazia São Paulo na dianteira, seguido de mineiros e fluminenses. Agora, com 909 startups, os gaúchos subiram dois degraus na comparação com 2018, chegando à vice-liderança, atrás apenas de SP (que conta mais de três mil dessas empresas). No ranking dos dez mais aparecem ainda Paraná, Santa Catarina, Bahia, Distrito Federal, Pernambuco e Ceará.

A ascensão gaúcha no ecossistema nacional é resultado de um coquetel no qual se misturam diversos ingredientes, entre os quais a cultura de protagonismo local, somada a incentivos governamentais, participação de Universidades e apoio do setor privado e do Sebrae. “O ambiente estava costurado para que pudesse crescer”, resume o presidente da Associação Brasileira de Startups, Amure Pinho, “alguns estados entenderam esse movimento de startups e colocaram mais empenho na realização de eventos, formação de lideranças e principalmente na consolidação dos dados sobre o ecossistema. O resultado disso tudo é não só um crescimento, mas uma visibilidade do que vinha sendo feito e fica registrado de fato”, observa.

Na dianteira

De acordo com a base de dados mantida pela ABStartup, os seis maiores mercados de atuação das inovadoras gaúchas são varejo/atacado, educação, saúde e bem-estar, finanças, desenvolvimento de software e serviços profissionais. Entre os players que integram os segmentos de mais força no Rio Grande do Sul está a Schoolastic.

Fundada em 2015, a plataforma educacional em nuvem utiliza 22 indicadores para avaliar o perfil de estudantes e traçar estratégias pedagógicas que promovam o desenvolvimento das habilidades socioemocionais e de aprendizagem de cada aluno. Segundo o CEO da empresa, Luiz Orlandini, a inteligência artificial utilizada levou três anos para ser criada e identifica padrões de aprendizagem a partir do mapeamento de preferências cerebrais do estudante: “é falar de voltarmos a nos conectar, no sentido humano, com um olhar mais atento, menos conteudista”, afirma.

Acelerada pelo programa InovAtiva Brasil edição 2018.2, realizado pelo Ministério da Economia e pelo Sebrae, a Schoolastic tem 5 mil alunos em 16 instituições de ensino. A startup foi incubada em Porto Alegre e mantém área administrativa em São Paulo. Desde o Sudeste, Orlandini avalia que “[no sul] existe muita movimentação, muita gente imbuída de muito senso de propósito, com vontade de romper com a obviedade das coisas, fazendo um esforço grande não só para pensar fora da caixa, mas para se posicionar fora da caixa”.

Também numa das áreas mais frutíferas em inovação, voltada à oferta de soluções a partir do desenvolvimento de software e da utilização de Inteligência Artificial (IA) e de Internet das Coisas (IoT), aparece a Elysios Agricultura Inteligente. A agritech promove controle e automação no cultivo de hortaliças, leguminosas, folhosas e frutos, com o objetivo de aumentar a qualidade da produção e reduzir o emprego ou o desperdício de insumos. O sistema, que hoje atende mil usuários e tem mais de 30 mil hectares registrados, começou a ser desenvolvido há cinco anos em uma área de produção própria, segundo Frederico Apollo Brito, diretor executivo da Elysios. A empresa também nasceu em Porto Alegre, em meio ao ambiente de universidades, incubadoras e coworking, o que foi fundamental para o avanço da iniciativa. “Estar em contato com pessoas que iam pela mesma trilha, mas em diferentes momentos, o acesso a consultores com expertise, a aceleração pelo InovAtiva foi tudo muito importante”, rememora Brito, mas reforça: “essencial foi conhecer a mentalidade de startup, lidar com esse ecossistema”.

Indústria 4.0

Outro destaque local fica para as startups ligadas à indústria 4.0. Levantamento feito pela KPMG em parceria com a aceleradora Distrito aponta o Rio Grande do Sul como detentor de 11,6% das startups que atuam junto ao setor industrial no país. A porcentagem deixa o estado como o mais representativo da região Sul e em terceiro lugar no ranking nacional, ao lado do Rio de Janeiro e superado por SP e MG (com 39,3% e 18,8%, respectivamente).

Os números demonstram que empresas locais vêm incorporando a tecnologia no dia a dia e se movem em busca da inovação. A análise é do sócio-líder do escritório de Porto Alegre da KPMG no Brasil, Wladimir Omiechuk, que reforça: “hoje, o modelo de startup é a única opção que as empresas da base industrial buscam para reinvenção do seu modelo de negócio, buscando maior produtividade e melhor atendimento dos seus clientes. Por causa da crise que nós vivemos, houve redução da [participação da] indústria no PIB brasileiro e isso vem gerando movimento nas indústrias, o que passa por um modelo de inovação, que não se encontra mais internamente. Esse modelo está no sistema aberto, numa nova forma de ver e expandir o negócio, que é o ecossistema de startups”, conclui.

Fundador da Sirros, startup especializada em internet das coisas voltada à indústria 4.0, Diego Schlindwein também destaca as dificuldades do ambiente tradicional em anos recentes como fator de incentivo: “a gente tem muitos segmentos como o metal mecânico, na Serra Gaúcha, que por muito tempo deu muito dinheiro e foi um dos mais castigados por causa da crise. Isso fez com que várias empresas vissem que a solução era buscar uma maior eficiência produtiva” a partir da relação com atores da inovação. O cenário, para ele, demonstra que os industriais do estado tem se mostrado receptivos e ágeis ao firmar vínculos saudáveis com as startups.

Schlindwein também destaca o apoio de entidades do setor privado, entre as quais o Sebrae, como um diferencial no estado, “são muito ativas, não só para montar eventos, mas também nos ajudam a prospectar”, explica.

O levantamento da KPMG sobre a concentração de startups ligadas à indústria 4.0 mostra 90% concentradas na porção Sul-Sudeste. Isolada, a região sul tem 25% do total nacional. Em todo o país 224 startups foram identificadas como atuantes no segmento; são fornecedoras de soluções em inteligência artificial, robótica, logística, monitoramento e respostas inovadoras para demandas do setor.

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