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Panagiotis vê nas commodities uma saída para a crise grega | Antônio Costa/ Gazeta do Povo
Panagiotis vê nas commodities uma saída para a crise grega| Foto: Antônio Costa/ Gazeta do Povo

A crise

Entenda o tamanho do problema grego:

Dívida

A Grécia tem uma dívida soberana de 340 bilhões de euros, uma vez e meia o Produto Interno Bruto (PIB) do país ou 30 mil euros per capita, para um país de 11,4 milhões de habitantes.

Primeiro pacote

Em maio de 2010, o país recebeu um pacote de ajuda de 110 bilhões de euros do Fundo Monetário Internacional (FMI), União Europeia e Banco Central Europeu. A ajuda entretanto, mostrou-se insuficiente para assegurar a rolagem da dívida do país.

Segundo pacote

Em julho, ficou acertado um novo pacote de 120 bilhões de euros. O Parlamento francês foi o primeiro a aprová-lo, na quinta-feira. Mas os credores exigem, como contrapartida, um pacote de austeridade que inclua corte de gastos do setor público, privatizações e aumento dos impostos.

Rating

A Grécia tem a pior classificação das agências de rating (apenas um nível acima do calote) e o maior custo da dívida do mundo: a taxa de juros chegou a 50% para rolagem da dívida por dois anos.

Berço da civilização ocidental e da democracia, a Grécia vem passando por maus bocados. Com o governo gastando mais do que podia durante anos, a dívida grega aumentou e bastou a torneira do crédito internacional se fechar para a economia do país ficar à beira de um colapso. A saída para o país pode estar em recomeçar praticamente do zero. De uma economia madura, em que o setor de serviços corresponde a quase 80% do PIB, o país poderia se reerguer voltando a exportar commodities e produtos agrícolas, para o juiz de segunda instância da Justiça grega Papageorgioy Panagiotis. Analisando a situação do país como cidadão, ele critica a adoção do euro, em 2001. "O país não estava preparado para uma mudança tão brusca. A maneira como a troca foi feita deu um impulso enorme à inflação", disse o magistrado, que estava no Brasil para um encontro de advogados.

Antes de a crise estourar, os cidadãos gregos tinham noção de que a situação econômica do país era tão delicada? O povo não tinha percepção de que a crise chegaria ao ponto em que chegou. Pelo excesso de gastos públicos e de endividamento das empresas, houve um desequilíbrio entre o que entra e o que sai. A Grécia se acostumou a pegar empréstimos com juros altos. O endividamento para a realização dos Jogos Olímpicos [em Atenas, em 2004] pesou muito. Os políticos deveriam ter previsto tudo isso, mas só perceberam quando já era tarde.

Qual tem sido o efeito dessa crise na vida dos cidadãos gregos? De um tempo para cá, o governo cortou o salário do funcionalismo público e as aposentadorias. No meu caso, como juiz de segunda instância [equivalente ao cargo de desembargador no Brasil], tive uma redução de 38% no salário. Isso aconteceu em outras categorias também, com cortes de até 40%. O desemprego oficial está em 16%. Com o corte dos salários, está diminuindo o poder de compra da população. O consumo cai, as empresas fecham, mais gente fica desempregada e a crise vai ficando cada vez pior.

Com as medidas de austeridade e os pacotes de ajuda internacionais adotados até agora, já se vislumbra uma saída para a crise? No começo, quando a crise explodiu, pensava-se que tudo seria resolvido no período de um ano. Hoje a população já se conformou que o problema pode durar muitos anos, quem sabe até uma década. A única saída que se vislumbra é aumentar o nível de exportação para os países próximos. Temos grandes reservas de gás natural, petróleo e ouro. Se explorarmos melhor esses recursos, podemos sair da crise.

Mas a economia grega tem uma participação muito forte do setor de serviços, em especial do turismo. Não seria um retrocesso voltar a exportar commodities? Seria, na verdade, um recomeço. Quando a Grécia entrou na União Europeia, a Comissão Europeia orientou que o país deixasse de produzir e exportar alguns produtos agrícolas, dando mais ênfase ao turismo e às companhias marítimas. Com isso, houve restrição e retração no mercado agrícola. Hoje temos muita terra sem ser explorada, além de recursos naturais.

O problema, então, foi a entrada do país na União Europeia? Não digo que foi a entrada no bloco em si, mas a forma rápida como foi feita a substituição do dracma pelo euro, em 2001. A troca foi rápida demais e, a partir dali, os preços subiram e os salários congelaram. O país não estava preparado para uma mudança tão brusca.

Você se referiu aos gastos com os jogos de Atenas como uma das causas do endividamento do país. O Brasil, que vai sediar a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, pode passar pelo mesmo tipo de problema?Não acredito nisso. O Brasil é a quinta economia do mundo e está em ascensão. Há dez anos era o Brasil que vivia uma crise e pagava empréstimos do FMI. Hoje isso é passado.

A crise alterou o cenário político grego? Há dois anos o governo mudou, mas quem entrou pegou uma economia destruída e um país totalmente endividado. As próximas eleições estão marcadas para daqui a dois anos, mas hoje nenhum partido conseguiria formar maioria para governar. Não dá para viver em um país de 10 milhões de habitantes com 2 milhões nas ruas protestando. Também é preciso lembrar que a crise não é apenas grega. Dá para culpar pela crise tanto o governo quanto o próprio povo, pela hipocrisia de estar vendo a situação e não ter feito nada.

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