• Carregando...
George W. Bush fez mais um apelo aos congressistas e disse que estava “muito desapontado” com a votação de segunda-feira. | Kevin Lamarque/Reuters
George W. Bush fez mais um apelo aos congressistas e disse que estava “muito desapontado” com a votação de segunda-feira.| Foto: Kevin Lamarque/Reuters

Perguntas que permanecem sem resposta

Duas grandes perguntas pairam no ar sobre o pacote do governo dos Estados Unidos para salvar bancos e financeiras. E a julgar pelas negociações, reiniciadas em busca de alterações que propiciem a aprovação do documento no Congresso, elas continuarão sem uma resposta concreta. Os US$ 700 bilhões serão, de fato, suficientes para resolver o problema? Mais: o pacote vai funcionar de forma a garantir que os contribuintes, que deverão pagar por ele, receberão o seu dinheiro de volta? As incertezas crescem. Elas são alimentadas por dois fatos notórios. Um deles é o de que bancos e financeiras ainda não revelaram o valor total, real, dos papéis podres – calotes, em geral – que têm em mãos. O outro diz respeito ao silêncio do próprio governo sobre um detalhe crucial da operação de resgate: qual o valor que o Departamento do Tesouro pretende pagar por tais papéis. Essas duas questões são essenciais para determinar o verdadeiro valor do pacote. Especialistas do setor suspeitam que ele, na verdade, acabaria custando o dobro do que o governo está propondo. Para o contribuinte é importante saber quanto o governo pagará e por quanto venderá os papéis, daqui a alguns anos.

Após o susto da segunda-feira, em que a rejeição do pacote da Casa Branca pela Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados) dos Estados Unidos espalhou o pânico nos mercados globais, líderes do Congresso resolveram levar a medida, com algumas revisões, para votação no Senado ainda hoje. O aparente avanço animou os mercados, que recuperaram parte das perdas.

Representantes do governo de George W. Bush passaram o dia reunidos com líderes democratas e republicanos de ambas as Casas do Legislativo, em um dia que começou com nova declaração pública do presidente sobre a crise – o quinto pronunciamento em cinco dias. "Estou desapontado com o resultado", repetiu Bush, ao citar a maior derrota política de seu mandato, "mas garanto aos nossos cidadãos e aos cidadãos do mundo que não é o fim do processo legislativo."

Na seqüência, líderes da oposição democrata e do partido governista vieram a público reafirmar a disposição de voltar à mesa de negociações e aprovar o pacote até o fim da semana. A medida daria liberdade para o Tesouro gastar até US$ 700 bilhões em ajuda a instituições com problemas, na maior intervenção financeira da história do país. "Essa continua sendo nossa meta número 1", disse o democrata Harry Reid, líder da maioria no Senado, que disse ter passado o dia em conversas com Josh Bolten, chefe de gabinete de Bush.

Candidatos

O presidente falou ao telefone também com os dois candidatos majoritários a sua sucessão, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain. "Estamos todos trabalhando juntos para resolver essa questão importante", disse Reid. Segundo seu colega Christopher Dodd, presidente do comitê de bancos do Senado, os que votaram contra o plano "estão pensando melhor e querem dar mais uma chance ao pacote."

De acordo com relatos vindos do Congresso, os gabinetes de muitos republicanos que disseram "não" à medida do governo foram inundados de e-mails e telefonemas de eleitores pedindo que mudassem o voto. "Acho que a mensagem dos mercados de ontem [segunda-feira] foi clara", disse o líder republicano do Senado, Mitch McConnell.

Além disso, o governo acenou com a possibilidade de fazer pequenos ajustes na proposta para acomodar pedidos da base governista. O jogo de cena político daria a justificativa necessária para os congressistas mudarem de idéia sem alienar seus eleitores. Dos 11 deputados republicanos que estão empatados nas disputas eleitorais de seus distritos, nove votaram contra o pacote.

Em 4 de novembro, além do presidente, serão escolhidos também todos os integrantes da Câmara e um terço do Senado. Segundo duas pesquisas recentes, o plano proposto por Bush é impopular para a maioria da população norte-americana.

Ajustes

Entre os pequenos ajustes ao plano da Casa Branca, o mais bem-recebido ganhou força ao longo do dia: a possibilidade de o valor máximo de os depósitos bancários garantidos pelo governo federal passarem dos atuais US$ 100 mil para US$ 250 mil, como maneira de acalmar os correntistas.

O pedido de aumento partiu do FDIC, sigla para Federal Deposit Insurance Corporation, órgão que garante operações do setor bancário, e recebeu apoio dos dois candidatos presidenciais. O FDIC calcula que 37% de todos os depósitos individuais em posse dos bancos estejam acima do limite atual.

Os sinais foram suficientes para animar os mercados. Depois de bater seu recorde histórico de perda de pontos, o índice industrial Dow Jones recuperou 485 pontos dos 777 perdidos na segunda-feira.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]