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A presidente do Fed, Janet Yellen: alta dos juros deve ocorrer nesta quarta-feira (16). | GARY CAMERON/REUTERS
A presidente do Fed, Janet Yellen: alta dos juros deve ocorrer nesta quarta-feira (16).| Foto: GARY CAMERON/REUTERS

Praticamente 90% dos negócios com juros futuros negociados nesta semana na Bolsa de Chicago indicavam a alta das taxas nos Estados Unidos na próxima quarta-feira, dia 16. Analistas e especialistas afirmam que, desta vez, quase não há dúvidas deste movimento. E nunca uma decisão do Federal Reserve (Fed, banco central americano) foi tão debatida: após sete anos em patamar próximo de zero, desde a crise global de 2008, a alta dos juros representa um novo ciclo da maior economia do mundo e terá impactos em todo o planeta. Um aumento dos juros nos EUA vai atrair investimentos para a economia americana, deixando os outros países com menos recursos disponíveis.

Há exatamente sete anos — em 16 de dezembro de 2008, no auge da crise global provocada pela quebra dos financiamentos a hipotecas de alto risco nos EUA — o Fed determinou que a taxa básica de juros da economia americana ficaria entre zero e 0,25% ao ano. O objetivo era evitar uma recessão pior. Em 2008, a economia americana encolheu 0,3%. No ano seguinte, o tombo foi ainda maior: 2,8%. Além de zerar os juros — que, desde então, não saíram desse patamar — o Fed injetou mais de US$ 4 trilhões no sistema financeiro americano para tentar reativar a economia. E, agora, finalmente se prepara para sair de vez do “modo crise” e abandonar o juro zero.

Novas altas demoram

Especialistas são unânimes em afirmar que o forte crescimento do mercado de trabalho americano é o ponto mais determinante para a quase certa retomada da alta de juros. A inflação do país ainda está muito baixa, mas, como o desemprego está se mantendo em 5%, patamar próximo ao do chamado “pleno emprego”, teme-se que uma continuada procura por mão de obra possa gerar pressão nos preços. No pior momento da recessão, em outubro de 2009, o desemprego era o dobro do atual: 10%. Para este ano, a previsão é que o país cresça 2,6%. E, em 2016, a expansão do PIB deve chegar a 2,8%, segundo o FMI.

“As medidas do Fed estão olhando para o índice de inflação do núcleo de gastos com consumo, que está em 1,3% ao ano. Além disso, o desemprego nos EUA é agora de 5%, o que é visto por muitos como o nível abaixo do qual as pressões inflacionárias começam a surgir”, explica Karthik Sankaran, diretor de Estratégia Global do Eurasia Group.

Ele afirma que o Fed está deixando muito claro que, após a elevação de juros nesta quarta-feira, as demais altas vão demorar. Para Sankaran, a recuperação global desequilibrada exige cuidados para evitar uma apreciação acelerada do dólar.

Angel Ubide, pesquisador sênior do Peterson Institute for International Economics, afirma que todos os analistas acreditam que chegou a hora do aumento dos juros nos EUA. Para ele, a baixa inflação dá oportunidade ao Fed de escolher com calma sua política de juros, algo que, em geral, é considerado “um luxo” por autoridades monetárias, diz. Em sua opinião, contudo, o mercado agora está olhando outras questões:

“Os próximos passos do Fed serão mais importantes que a alta de juros agora. Acredito que, por cautela, o ritmo de elevação será mais lento, vejo um intervalo em cada alta: ou seja, das oito reuniões de 2016, devemos ter apenas quatro com alta”, disse o economista.

Alberto Ramos, diretor para a América Latina do Goldman Sachs, lembra que a retomada da alta de juros dos EUA é a “saída da economia do país da UTI”, mas ainda não representa a cura final: segundo ele, as políticas monetárias continuarão com incentivos para o crescimento econômico. Ele espera alta de 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira. No ano que vem, o Fed, que desde fevereiro de 2014 é comandado pela economista Janet Yellen, deve elevar os juros em mais um ponto percentual. Ele explica que mundialmente isso é um sinal positivo, mas que o impacto será diferente em cada país.

“Não vejo um grande fluxo de saída de investimentos de países em desenvolvimento, vejo apenas o fim do grande fluxo de entrada de recursos nestes países. Mas teremos agora uma maior diferenciação das economias e, infelizmente, o Brasil não está bem colocado, está em uma situação ruim e pode ser mais afetado por esta alta de juros do que o México, por exemplo”, explica.

Com a alta de juros nos EUA, especialistas esperam que investidores troquem o risco dos países emergentes, que pagam juros maiores, para uma remuneração confortável e segura em solo americano. Assim, o dinheiro que hoje está espalhado em países nem tão seguros atrás de uma maior lucratividade, tendem a voltar para os EUA. Isso tende a pressionar as moedas de países emergentes como o real, que deverá perder valor frente ao dólar.

Impacto em commodities

Muitos, como Ubide, do Peterson, acreditam que isso já está em grande parte no atual valor do câmbio. Para Sankaran, do Eurasia, o impacto da medida do Fed dependerá de quanto os países estão endividados em dólar, do peso da exportação de commodities, que podem ter nova queda de preços, e da dependência da economia chinesa, que deve continuar desacelerando. Ele afirma, por exemplo, que os países asiáticos deverão sofrer menos, por serem grandes importadores de petróleo — que tende a continuar com preços em queda —, terem pouca dívida em dólares e baixo repasse da taxa de câmbio na inflação.

“Infelizmente, o Brasil é um exportador de commodities com níveis relativamente altos de dívida em dólar e alta persistência da inflação”, disse.

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