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Em meio a uma onda de aumentos de preços que chegam a 100% no interior do país, os postos da Shell na Argentina reajustaram nesta segunda-feira os combustíveis em 12%, desencadeando uma nova queda de braço entre a empresa e o governo, que na semana passada havia pedido aos empresários que limitassem os incrementos a 7,5%, no máximo. Irritado, o chefe de gabinete, Jorge Capitanich, acusou a companhia de ter uma "atitude conspirativa e contrária aos interesses do país", uma vez que, segundo ele, não há razões técnicas para justificar a elevação de preços. A decisão da Shell pode abrir as portas para que outras distribuidoras, entre elas a Petrobras, anunciem reajustes no país.

Em nota, a Shell justificou a correção pelo aumento de até 23% nas matérias-primas e pela "evolução de variáveis econômicas distintas e pela alta (em pesos) dos custos de produção de petróleo no país".

Esta não é a primeira vez que Shell e governo se desentendem publicamente na Argentina. Em 2005, também irritado com o reajuste da distribuidora, o então presidente Néstor Kirchner conclamou a população a fazer um boicote à rede e "não comprar nem uma latinha" de qualquer produto nos postos.

Descontrole nas províncias

O governo tem intensificado os ataques à Shell. Na semana passada, logo após a forte desvalorização do peso, o ministro da Economia, Axel Kicillof, acusou a petroleira de, em conjunto com bancos estrangeiros, forçar a elevação do dólar acima dos 8 pesos no mercado oficial. O presidente da Shell Argentina, Juan José Aranguren, negou a informação. O executivo, que está à frente da companhia desde 1º de janeiro de 2003, já sofreu, na última década, 54 processos por acusação de desabastecimento e até pedido de prisão movidos pelo então secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno.

O pacto de preços controlados proposto pelo governo no mês passado não encontra eco no interior da Argentina, onde, em várias cidades, há aumentos de até 100%. Levantamento realizado pelo jornal "Clarín" em 25 províncias do interior revela altas generalizadas. Em Bariloche, por exemplo, a saca de cimento passou de 60 a 120 pesos em apenas um dia no fim de janeiro, enquanto os financiamentos por cartão em 12, 18 e 24 meses simplesmente desapareceram.

Mercados sem referência

Várias lojas têm fechado por dois ou três dias a cada semana por desacordo com fornecedores ou falta de mercadorias. Muitos atacadistas estão exigindo pagamento antecipado ou liquidação da fatura em sete dias. Em Rosário, a Secretaria de Saúde detecta reajustes de 35% em remédios e artigos descartáveis. Em Tucumán, os pneus ficaram de 20% e 25% mais caros em um mês. Em Mendoza, a farinha de trigo subiu 30%, enquanto nos armazéns de Córdoba 27 listas de produtos chegam com aumentos entre 20% e 30%.

A política de reajustes elevados se espalha por praticamente todos os setores. Em Gualeguaychú, postos das redes Oil, PDVSur e Shell vendem o litro de combustível premium a 17 pesos. Também na cidade, as concessionárias de veículos aplicaram correção mínima de 20% nos modelos, enquanto em Santiago del Estero o mercado está parado, e os usados são vendidos com parcelamento máximo de seis meses e só com cheque.

Em meio a esse quadro, há quem preveja um agravamento da situação. Artigo publicado pelo "Wall Street Journal" considera quase inevitável uma megadesvalorização do peso. O texto afirma que o país vem perdendo reservas rapidamente - hoje estão em US$ 28,5 bilhões - e que o governo não aprende as lições da economia.

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