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Fechados com estardalhaço pela Polícia Federal pouco antes do Natal, os 'shoppings' que vendem produtos piratas e falsificados voltaram a funcionar normalmente na capital paulista. Na verdade, funcionam com modelo de 'outlet', com pequenos boxes que voltaram a ficar lotados de consumidores. Na maioria deles, as mercadorias são ilegais.

A oferta de produtos também continua a mesma: câmeras digitais, equipamentos de informática, eletroeletrônicos, bebidas importadas, som para carro, óculos e roupas, entre outros. A maioria dos produtos, é claro, sem nota fiscal e com o pagamento à vista. Alguns não aceitam cartão de crédito nem cheques, apenas dinheiro vivo. Outros, aceitam cartão de débito e até parcelam com cheque pré-datado. A garantia é dada por três meses num papelzinho vistado pelo vendedor da loja, mas eles já adiantam que a troca é praticamente impossível. No máximo, o conserto.

Nesta quarta-feira, as lojas ainda nem tinham sido abertas no Stand Center, na Avenida Paulista, e um grupo de pessoas já estava parado na porta, esperando para consumir. Vários clientes vêm do interior para comprar a preços quase 50% menores no 'shopping' de eletrônicos que fica quase em frente ao prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

- Pela manhã sempre há perigo de fiscalização. Por isso, algumas lojas preferem não se arriscar e permanecem fechadas. Mas à tarde tudo funciona normalmente. Eu mesma só coloco as câmeras digitais na vitrine depois do meio dia, para não correr o risco da fiscalização chegar - disse a vendedora de um loja do Stand Center.

Na loja em que ela trabalha os produtos são vendidos sem nota fiscal, apenas uma garantia de 3 meses. O pagamento também não é facilitado. Uma câmera digital Sony, P200, custava R$ 930, bem mais em conta do que o encontrado em lojas tradicionais da cidade.

- Tem que pagar à vista e se quiser nota fiscal você terá que ir até a Fnac, há pouco metros daqui. O problema é que lá é bem mais caro - ironizou a vendedora.

No Promocenter, na Rua Augusta, esquina com a Rua Luís Coelho, também na região da Paulista, as lojas também estão a pleno vapor. Uma comerciante chinesa com forte sotaque disse que não aceitava nem mesmo cheque, só dinheiro. Lá, a mesma câmera digital da Sony também custava R$ 930. Ou seja: até os preços são os mesmos nos templos dos produtos piratas de São Paulo. Perguntada pelo repórter se o produto tinha nota fiscal, disparou:

- Pagamento, só à vista e em dinheiro. Se você quiser nota fiscal, vá até o Shopping Center Norte, ao Carrefour ou a Casas Bahia. Lá eles te dão nota fiscal - disse, com muita clareza e sem puxar muito no sotaque, desta vez.

O Shopping 25 de Março, no centro da cidade, de propriedade do empresário chinês Law King Chong, que está preso, estava completamente lotado nesta manhã e havia até mesmo fila para atendimento em algumas lojas. Nota fiscal também é coisa rara e o preço, algumas vezes, um pouco mais barato. Um DVD da Phillips, por exemplo, estava sendo vendido por R$ 200. A chinesa, sem muita simpatia e com português ruim, deixou bem claro que o produto não poderia ser trocado. A garantia, válida por três meses, servia apenas para conserto, "e se ficar comprovado que o produto já estava com problema".

Como o movimento é maior no Shopping 25 de Março, é possível encontrar um mesmo produto com preço diferenciado, mas nunca o pagamento a prazo. A câmara digital da Sony, por exemplo, podia ser encontrada em uma loja por R$ 890. Se o número de pessoas circulando pelos corredores apertados era grande, o número de seguranças também.

Segundo um vendedor ambulante, que montou uma barraquinha bem próxima ao Shopping 25 de Março, o local só ficou fechado por um dia antes do Natal, quando ocorreu a blitz da Polícia Federal. Nesse dia, de acordo com ele, tudo foi lacrado. No dia seguinte, no entanto, a situação já estava normalizada.

- O chinês (Law King Chong) tem dinheiro e o shopping fica aberto, apesar de ele estar preso - disse o ambulante.

No fim do ano passado, vários produtos ilegais foram apreendidos pelos fiscais. Segundo a Polícia Federal, a maior parte dos produtos apreendidos são de origem estrangeira. A ação fazia parte da Operação Sagitário, de combate à sonegação, descaminho (contrabando) e pirataria, e atingiu vários pontos comerciais famosos pela venda de produtos contrabandeados.

Quinze dias antes do Natal, 700 fiscais da Receita federal e estadual, além de policiais, fizeram blitz no Promocenter e concluíram que 90% das lojas tinham problemas - basicamente venda de produtos de contrabando e piratas (CDs e jogos de computador). Disseram ainda que a maioria dos 200 comerciantes do Promocenter tem a inscrição estadual regularizada, mas usam caixa 2 para comprar e vender mercadorias contrabandeadas e falsificadas.

No Stand Center, que movimenta por mês entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões por mês - e segundo a Receita, em dezembro iria faturar R$ 40 milhões se não tivesse a blitz -, foram apreendidos perto de 2.500 sacos de mercadorias. No dia 5 de dezembro, o local foi interditado pelo Departamento de Controle do Uso de Imóveis (Contru), por 'falta de segurança'. Reabriu depois de sete dias, depois de nova vistoria no imóvel, mas com os boxes ainda fechados. Agora, a operação voltou ao normal.

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