Os últimos preparativos para encantar consumidores| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo

Controvérsia

Campanhas não fazem referência aos significados desta época do ano

De um lado, a religião. De outro, o comércio. Grupos religiosos acreditam que o real sentido do Natal perdeu espaço no mundo capitalista. "Não esperamos do contexto comercial uma expressão na decoração de qualquer mensagem cristã que resguarde a veracidade real do Natal", relata o pastor Marcos Mendes Granconato, da Igreja Batista Redenção.

Segundo ele, existe preocupação em relação à decoração de shopping, mas não seria válido tentar impor ao fiel o que ele deve fazer. "Seria uma ingenuidade tola e boba dar esse fardo as pessoas na expectativa de que nosso mundo ateu e secularizado se preocupe em transmitir uma mensagem que ele não tem obrigação de transmitir", conta.

Para o diretor do curso de Teologia da PUC-SP, Valeriano dos Santos Costa, a preocupação que muitas igrejas têm é válida. "Que bom que alguém está preocupado em retornar as antigas tradições de Natal que giram em torno de Cristo, e não somente do Papai Noel."

Para o diretor de arte da Perverts, empresa de decoração, Gilberto Mendes, o Natal, hoje em dia, é um evento comercial. "Eu não faço presépio. Não porque eu não seja religioso (sou católico), mas porque não atrai o público".

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Shopping Curitiba: pista de esqui e pinguins cantores
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Para conquistar o exigente e cauteloso público curitibano, os 13 shoppings da cidade já lançaram suas campanhas de marketing para o Natal. São decorações infantis e adultas, propagandas de televisão, outdoors espalhados em diversos pontos, cupons de descontos e prêmios. As vendas, segundo boa parte deles, devem crescer, em média, 10% na comparação com o Natal do ano passado.

Para chamar a atenção dos pequenos e, consequentemente, a dos pais, os grupos investiram "pesado" em decoração. O shopping Curitiba, por exemplo, montou uma estação de esqui com pinguins cantores. "A ideia é mexer com o emocional da criança", diz Elaine Parolin Maranho, presidente da associação dos lojistas do shopping Curitiba.

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O Shopping Mueller tem como tema de decoração o quebra-nozes, balé do compositor russo Piotr Ilitch Tchaikovsky que virou filme infantil e desenho para televisão. Já o Shopping Estação se transformou na Disney. "Escolhemos esse tema porque é o que tem maior lembrança na cabeça do público infantil", relata a gerente regional de marketing, Andrea Costa.

O ParkShoppingBarigüi está trabalhando com o tema infantil "Proteção Animal do Papai Noel" e com a contação de história para crianças. "Queremos que meninos e meninas entendam o que os bichos comem e onde o papai Noel encontrou esses animais", conta a gerente de marketing, Silvia Pires Omairy.

Luxo

As crianças podem ter influência, mas não o dinheiro. Para atrair os adultos, os shoppings investiram em presentes sofisticados. A peça-chave da campanha do Curitiba é uma Mercedes Classe A. O carro só será sorteado entre aqueles que fizerem compras acima de R$ 350.

O automóvel também é o principal "chamariz" da campanha do Shopping Muller. O grupo vai dar uma BMW Conversível. "O papai Noel deste ano vai estar de ‘BM’", brinca a gerente de marketing, Silmara de Souza. Para concorrer ao veículo da marca alemã, o visitante terá que fazer compras acima de R$ 400.

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Já o ParkShoppingBarigüi vai sortear 5 kits por dia com garrafas de champagnes Veuve Cliquot. "Nós temos 200", relata Silvia. Além disso, o grupo também sorteará dois automóveis da marca BMW. Para concorrer, é preciso fazer comprar acima de R$ 400.

O Pátio Batel montou a campanha "Um Sonho de Natal", que mescla pontos turísticos de Curitiba com conceitos natalinos. "Eu adoro criar aventuras inéditas envolvendo o representante do natal", conta Cecilia Dale, responsável pela decoração do shopping. O grupo também apostou no sorteio de carros – quem fizer compras acima de R$ 400 concorre a quatro Range Rover.

A maioria das campanhas será "360 graus", que no jargão do marketing significa uma comunicação mais ampla, em diversas mídias. A exceção é o Estação. "O próprio assunto (Disney) já é forte o suficiente", conta Andrea.

Vendas devem decepcionar

Se a tendência dos últimos três anos se confirmar, o crescimento das vendas do comércio do Natal será inferior ao porcentual de 8% projetado pela Associação Comercial do Paraná (ACP) e pela Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio). Em 2012 e 2011, por exemplo, as vendas reais foram 4% inferiores às estimativas.

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Segundo o coordenador de pesquisa da ACP, Cláudio Shimoyama, é comum isso ocorrer, já que a ideia da estimativa é ser uma previsão otimista. "É para isso que ela serve. Agora, o cenário das vendas reais é diferente, pois ele é influenciado por diversas variáveis, como a inflação e o preço do dólar", comenta.

A pesquisa ouviu 200 comerciantes dos setores de vestuário, calcados, eletrônicos e supermercado. Do total, 63% deles estão otimistas em relação às compras de Natal deste ano.

Segundo o levantamento, o otimismo é alto porque os comerciantes pretendem lançar novos produtos, criar promoções para estimular o consumo, sortear prêmios no final do ano e gastar mais com publicidade e propaganda.

Para dar conta do crescimento, eles pretendem aumentar o quadro de funcionários em 55%.

Shimoyama também aponta o desemprego como fator para o possível crescimento do mercado. "Curitiba e região apresentam os menores índices de desemprego entre as capitais", conta. A taxa é de 2,9%, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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A sondagem também mostrou que o ambiente econômico instável e o aumento da inflação não alteraram o otimismo do consumidor. O motivo seria a expectativa em relação ao recebimento do 13º salário e das férias. Para realização da pesquisa, 200 consumidores foram ouvidos.