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Paralisação de professores da rede estadual do Paraná começou na última quarta-feira | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Paralisação de professores da rede estadual do Paraná começou na última quarta-feira| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

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Novo perfil das greves dificulta mobilização geral, dizem estudiosos

A greve geral de julho de 2013, que mobilizou menos trabalhadores do que as manifestações populares do mês anterior, é um indício da mudança de perfil pela qual movimentos sindicais passaram no país. A partir dos anos 1990, as reivindicações ficaram menos generalistas, conta João Silvestre de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese. "As negociações são localizadas, do ponto de vista da categoria, de determinada empresa. Mesmo as greves têm diminuído, tirando as do setor publico".

O resultado é uma dificuldade de mobilização geral que fez com que a participação dos sindicatos nas manifestações fosse esvaziada. Para Oliveira, a situação tem a ver com a redemocratização, mas também com a economia. "Quando a conjuntura é favorável, as greves têm natureza propositiva. Em períodos de desaquecimento, elas tentam garantir direitos ameaçados", explica.

Para a cientista social Maria Aparecida da Cruz Bridi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que estudou movimentos de metalúrgicos no estado nos anos 2000, o ano eleitoral pesará contra qualquer tentativa de mobilização geral em 2014. "Em alguns momentos as centrais estão juntas, mas claro que têm propostas diferentes", diz. Um exemplo foi a 8.ª Marcha Sindical do Trabalhador, que reuniu cerca de 10 mil pessoas no dia 9 em São Paulo. "Para aproveitar o ano eleitoral, elas optam por estratégias que têm a ver também com a visão política que têm".

Educação

Segundo o Sindicato dos Professores do Paraná (APP-Sindicato), 85% dos docentes de toda a rede estadual estavam fora das salas de aula na sexta-feira, afetando 1.720 das 2.149 escolas estaduais. A mobilização começou na quarta-feira e, desde então, cerca de 500 professores permanecem acampados em frente ao Palácio Iguaçu, em Curitiba. A categoria cobra 8,32% de reajuste salarial e o aumento da hora-atividade para 33%. O governo estadual defende que o aumento salarial seja mantido conforme a inflação, em torno de 6%.

  • Ano eleitoral torna raros atos conjuntos de centrais sindicais, como a Marcha do Trabalhador, em São Paulo

Além das eleições, a Copa do Mundo deve criar o cenário necessário para que movimentos sindicais busquem visibilidade em 2014. A Força Sindical anunciou para 6 de junho uma série de manifestações e greves pelo país que, no Paraná, deve ter cronograma definido ao longo da próxima semana, segundo a diretoria regional. No atual discurso da central, que representa 1,7 mil sindicatos, a ideia não é fazer oposição à Copa, mas aproveitar que o evento está no centro das atenções para pressionar governo e empresários.

INFOGRÁFICO: Veja o percentual de reajustes salariais

O fator que levou a Força Sindical a explorar a Copa é a inflação ainda alta, que está sendo o grande empecilho de pedidos de ganho salarial neste ano. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 86,9% das classes tiveram reajuste acima do índice de preços em 2013, percentual que mostra recuo em relação a 2012 (95,1%) e representa o patamar mais baixo desde 2009. O departamento avalia que o resultado ainda é bom, mas o desempenho só se repetirá em 2014 se a inflação for controlada e o desemprego permanecer baixo.

Na semana passada, economistas consultados pelo Banco Central previram, pela primeira vez, que a inflação deve fechar acima da meta de 6,5% neste ano. "Com a inflação, vislumbramos certa dificuldade nas negociações coletivas", explica João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força. Ele reconhece que o evento traz pressão, mas pondera que a "central não está nessa de anti-Copa porque ela traz investimentos e valorizou emprego e salário".

Ao mesmo tempo, outro estudo do Dieese mostra que paralisações de setores ligados a Copa impactam nas negociações coletivas. De 2011 a 2013, greves nas obras de estádios garantiram aumentos reais bem acima da média das outras classes. Construção civil, obras de infraestrutura e mobiliário também obtiveram desempenhos superiores.

Segundo o Dieese, anos de eleição presidencial e nos estados favorecem mobilização de trabalhadores, em especial de servidores públicos. A soma de pré-eleições e greves tem se refletido nos salários. Em 2010, 88,8% dos sindicatos conseguiram aumento real. Em 4% dos casos, a média de reajuste foi de mais de 5% em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) – porcentual superior aos registrados em 2009 (1,3%) e em 2011 (1,5%).

Divisão

O embate político também é responsável por dividir as centrais. Aliada do governo petista, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) não comenta e nem deve apoiar a manifestação agendada para junho pela Força Sindical, assim como a Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Por sua vez, a Força nega motivação política, apesar dos rumores de aproximação com o PSDB. "Ao contrário das outras centrais, não temos candidato à presidência", defende Nelson Silva, presidente da regional paranaense.

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