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A internet permite que qualquer um produza qualquer conteúdo – literário inclusive – e ponha sua obra no mundo. Antes, era só pegar um papel e começar a escrever. Mas quem leria?

A rede resolveu esse problema e gerou outros. O principal: o que garante qualidade, valor artístico e originalidade do resultado? É na contramão do que o historiador inglês Andrew Keen batizou de "cultura do amador" que atua o portal Cronópios (www.cronopios.com.br).

Certos ou não, os três amantes de literatura por trás do site brasileiro acreditam que curadoria inteligente, moderação mínima e edição compartilhada por pessoas capacitadas garantem rica produção colaborativa de textos literários. Eles são como editores tradicionais. Mas não há interesse comercial, nada de preocupação com o "apelo" das obras e nem sinal de cerceamento intelectual. Por isso, lá, quase qualquer um publica quase qualquer conteúdo.

O sucesso pode ser medido pelos 200 e-mails recebidos por dia pelos editores Pipol (apelido de José Pires) e Edson Cruz, com textos inéditos de escritores de todo o Brasil. Feitas as contas, são 4 mil textos por mês. Mais do que se poderia imaginar e mais do que os leitores são capazes de digerir. Assim, só 60 deles são publicados (2 por dia).

"Não publicamos qualquer texto automaticamente porque editar é uma função humana, não deve existir um ranking gerado por computador", diz Pipol. "Sentimos que, no meio literário, publicar no Cronópios é um sinal de prestígio para o escritor iniciante e independente."

Muitos projetos estão sob o selo Cronópios. O principal é a TV Cronópios (www.tvcronopios.com.br), que produz vídeos documentais sobre literatura e mantém dois programas inovadores em formato e conteúdo. O Stand-Up de Literatura, transmitido ao vivo pela internet quinzenalmente, é uma espécie de sarau com autores lendo livros que escreveram. O outro é Bitniks, série de documentários sobre escritores vivos com estética voltada à web. Os programas reúnem entrevistas em vídeo, fotos históricas, sequências de slide e recortes de jornal, em uma mistura que só dá liga no ciberespaço.

Por trás da TV Cronópios está a jornalista Egle Spinelli, doutora em comunicação audiovisual que viu no site a chance de experimentar o que em teoria é vanguarda para o meio acadêmico. O resultado aponta possibilidades para a produção de conteúdo para a web.

Formato é uma preocupação do Cronópios. Desde 2004, quando a tecnologia flip – aquela em que o leitor "vira" uma página virtual que imita uma de livro – ainda não era disseminada, Pipol e Edson Cruz publicam o Mnemozine, revista eletrônica experimental sobre literatura com recursos arriscados de edição, como uma página com vídeos e figuras animadas passíveis de edição pelo internauta.

Foi do zine que germinou o Cronópios, que, por sua vez, deu origem a outro risco: os pocket-books, publicações online híbridas entre e-books, livros e revistas. Há alguns no acervo, inclusive um do próprio Pipol, o livro de poesias "Brinquedos de Palavras". O experimentalismo vira negócio nos próximos meses, quando o Cronópios pretende abrir a editora Nuvem, especializada nos tais pocket-books.

Falar em negócio a essa altura pode soar estranho. Afinal, o site vive da vontade e dos investimento dos fundadores desde 2005. Só agora começa a se pagar, após a parceria com a livraria Martins Fontes e a chancela da Lei Rouanet. É mais uma contradição da economia gratuita além da cultura do amador. O segredo seria transformar em produto rentável um empreendimento artístico. É possível?

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