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João Felipe Radloff deu prioridade a ações do setor elétrico | Felipe Rosa / Gazeta do Povo
João Felipe Radloff deu prioridade a ações do setor elétrico| Foto: Felipe Rosa / Gazeta do Povo

Investidor ainda hesita em migrar para a bolsa

Em tempos de seguidos cortes na Selic e consequente queda na rentabilidade dos fundos de renda fixa, muitos investidores ainda hesitam em migrar a maior parte das suas carteiras de investimentos para os papéis da bolsa.

Normalmente, a busca por fundos de renda variável, como as ações, aumenta quando os juros estão baixos, impulsionando o crescimento da bolsa. Desta vez, a desconfiança parece frear este movimento. "A renda fixa está pagando pouco e o mercado imobiliário está muito caro. A bolsa seria o caminho natural de investimento", avalia Leandro Martins, analista-chefe da corretora Walpires. Para Felipe Rocha, analista de renda variável da Omar Camargo, a tendência é de que essa migração ocorra mais intensamente nos próximos meses. "Os investidores estão sentindo o mercado", explica.

O consultor financeiro e investidor Wilson Paese conta que suas aplicações se desvalorizaram no primeiro semestre do ano, mas que, com diversificação de portfólio e cautela, o investimento vai render bons ganhos no futuro. "Temos que deixar o tempo correr. Estou há 40 anos neste mercado e, para mim, é uma aplicação a longo prazo", explica. Mesmo com a oscilação dos papéis e corte nos juros, Paese manteve a mesma proporção de investimentos em renda variável, fixa e mesclada.

O investidor João Felipe Radloff também assume que o momento é de cuidado. "A volatilidade do mercado externo é preponderante", afirma Radloff. Ele diminuiu o montante destinado mensalmente a ações e passou a investir no consumo interno, por meio de e-commerce. "Na minha carteira de ações, priorizei papéis de empresas de energia e me desfiz das ações de small caps [empresas menores]", explica ele, que acredita que as grandes companhias são mais seguras em momentos de incertezas.

A participação recorde do investidor estrangeiro na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) resultou em um semestre marcado pela volatilidade dos principais papéis do mercado. Ditado pelo humor do mercado externo, o Ibovespa – índice que representa as principais ações da bolsa paulista – abriu o ano em baixa, com 56.754 pontos, chegou aos 68.394 pontos em março, mas fechou o mês de junho com queda de 4,2% no ano, na casa dos 54 mil pontos.

O desempenho é creditado à grande participação estrangeira no bolo de investidores. Em 2012, este grupo passou a representar 40,1% de todos os que aplicam dinheiro na Bovespa. Investidores institucionais, pessoas físicas e instituições financeiras representam 32,1%, 18,4% e 8,1% da soma do volume de compra e venda no ano, respectivamente. Empresas e outros respondem por 1,3%.

"Com essa relação, as decisões políticas na Europa e Estados Unidos passam a ser cada vez mais determinantes para o comportamento das nossas ações. O índice da bolsa fica excessivamente dependente disso", avalia Wagner Salaverry, sócio-diretor da corretora Geração Futuro. "A bolsa funciona integrada ao mundo. Ao comparar o Ibovespa com índices de outros países, percebe-se que as curvas são bastante parecidas", aponta Frederico Meinberg, diretor do home broker Rico.com.vc.

Quando atingiu seu pico no ano, em 13 de março, a alta era puxada pelas notícias de recuperação da economia norte-americana e pelo anúncio de que o segundo pacote de resgate à Grécia poderia tornar as dívidas do país sustentáveis.

O movimento seguinte, de queda, foi puxado pela instabilidade no sistema financeiro espanhol, eleições gregas, a crise europeia e revisão para baixo das previsões de PIB no Brasil, EUA e China. "Além de migrarem seus fundos dos emergentes para os Estados Unidos, investidores do mundo inteiro saíram das aplicações de renda variável e fugiram para a renda fixa por segurança", explica Meinberg.

Para Salaverry, se a participação de pessoas físicas e investidores institucionais na Bovespa fosse maior, o desempenho do mercado interno seria mais determinante nos índices do que é hoje. "As reduções da taxa Selic, por exemplo, surtiriam mais efeito para animar o investidor", afirma.

Futuro

Se as causas são consenso, o comportamento das ações nos próximos meses parece ser imprevisível. A avaliação é de que o momento é interessante para comprar papéis em função dos baixos preços das ações, que devem aumentar. Só não se sabe quando. "É um bom momento para quem tem calma. Os preços médios estão no mesmo patamar de 2007. Só não sei se a recuperação vai se dar nos próximos três meses ou se só vai acontecer no fim do ano que vem", afirma Salaverry.

Felipe Rocha, analista de renda variável da Omar Camargo, afirma que a tendência é de que o cenário seja mais tranquilo, mas as variáveis políticas são muito grandes. "Ao mesmo tempo em que a crise parece já ter passado pelo seu pior momento, temos eleições americanas e uma série de decisões políticas na Europa que tornam o panorama bastante imprevisível. A recomendação é ser cauteloso", indica Rocha.

Alguns analistas se arriscam em previsões mais objetivas. Frederico Meinberg, da Rico, afirma que a busca por papéis deve crescer no segundo semestre e que a bolsa sinaliza para um final de ano na faixa dos 60 mil pontos. "Isso se não tivermos nenhum sobressalto na política", pondera.

"Caso se confirme o rompimento da barreira dos 58 mil pontos nas próximas semanas, eu acredito que o ano feche entre 65 e 70 mil pontos. O comportamento gráfico aponta esta curva", exlpica Leandro Martins, analista-chefe da corretora Walpires.

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