Efeitos da crise em diferentes áreas| Foto:

Corte de 1 ponto pouparia R$ 13,5 bi

Se o Banco Central reduzir a taxa Selic de 12,75% para 11,75% ao ano, vai permitir uma economia de R$ 13,5 bilhões ao governo federal neste ano. Isso porque a Selic remunera os títulos da dívida pública – quanto menor o juro básico, menor a despesa. Caso o Copom corte a taxa em um ponto porcentual nas próximas cinco reuniões, e em mais 0,75 ponto no encontro seguinte, a taxa básica terminaria 2009 em 7% ao ano e geraria uma poupança de R$ 30 bilhões. Se tal redução, de 5,75 pontos, fosse feita de uma só vez na próxima quarta-feira, a economia seria ainda maior, de R$ 43 bilhões. Os dados constam de um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ligado ao governo, que sugeriu o uso do recurso extra em gastos sociais e investimentos. "É possível enfrentar a crise mantendo ou ampliando os gastos do governo, sem desorganizar as finanças públicas", afirma o documento.

No entanto, alguns economistas alegam que baixar a Selic a tal patamar reduziria a atratividade dos títulos da dívida brasileira, impedindo o governo de "rolá-la", ou seja, de empurrar o pagamento mais para a frente. Marcelo Curado, da UFPR, discorda. "A rigidez do Banco Central não se justifica nem do ponto de vista do financiamento de dívida pública. Não dá para imaginar que os investidores não estariam dispostos a comprar títulos que rendam 8% ou 9% ao ano, o que é muito em um contexto de crise. Até porque as taxas de juros caíram para níveis baixíssimos em outros países." (FJ)

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Economistas se dividem entre indicadores e rigidez do Banco Central

Embora a expectativa média do mercado aponte para uma Selic em 11,75% ao ano a partir de quarta-feira e em 10,25% até dezembro, ainda há muitas divergências entre bancos, consultorias e economistas. O Banco Fibra, por exemplo, já prevê taxa de um dígito (inferior a 10%) antes do fim do ano. O mesmo espera o Itaú, que também revisou suas previsões na sexta-feira. Agora, o banco projeta três baixas seguidas de um ponto no juro básico, que assim cairia para 9,75% já em junho.

Por outro lado, Pedro Raffy Vartanian, professor da Trevisan Escola de Negócios, tem dúvidas sobre o corte. "Pode ficar entre meio e um ponto porcentual. Apesar da retração observada desde o fim do ano passado na atividade industrial, no Brasil os preços não caíram tanto quanto em outros países. A inflação brasileira tem uma espécie de ‘inércia’, já que muitos contratos são reajustados com base na inflação passada."

"A desaceleração mais lenta é característica da inflação brasileira. O setor de serviços, por exemplo, tem defasagem maior nos repasses. As mensalidades escolares sobem apenas uma vez por ano, e recentemente tiveram um aumento forte por causa da inflação de 2008. Isso mantém a inflação um pouco mais pressionada", acrescenta o economista Francis Kinder, da Rosenberg.

Marcelo Curado, da UFPR, também diz não ter certeza sobre a atuação do Copom. Mas por outro motivo: o conservadorismo característico do comitê. "Há uma grande diferença entre o que eu acho que deve ser feito e o que eu acho que o Banco Central vai fazer", explica. "O ideal seria reduzir o juro em um ponto, com viés de baixa. Mas, se eu tivesse que apostar, apostaria em baixa de apenas 0,75 ponto agora." (FJ)

Se no início da crise econômica havia dúvidas em relação a seus efeitos sobre o Brasil, nos últimos meses o país reuniu uma variada coleção de indicadores que apontam, com rara eloquência, para uma violenta desaceleração da economia. E todos os dados sugerem que a inflação tende a se acomodar em níveis mais baixos que os observados em grande parte do ano passado (veja quadro nesta página). Fazia tempo que o Banco Central não dispunha de tantas e tão claras evidências a favor de um corte agressivo da Selic, taxa que influencia o custo dos empréstimos e financiamentos no país. Atualmente, ela está em 12,75% ao ano.

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Não por acaso, a maioria dos bancos e consultorias acredita que, ao avaliar esse cenário, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidirá por um novo corte de um ponto porcentual no juro básico. Foi o que apontou, nas últimas duas semanas, a pesquisa Focus, feita pelo BC com quase cem bancos e consultorias.

Para quem ainda tinha dúvida sobre o tamanho do estrago, os dados da indústria, divulgados na sexta-feira, foram bastante ilustrativos. Em janeiro, a produção industrial desmoronou 17,2% em relação ao primeiro mês de 2008. Foi a pior queda da série histórica do IBGE, iniciada em 1991, e surpreendeu todos os analistas – ninguém contava com um número pior que o de dezembro (-14,8%), recorde negativo anterior.

"A ociosidade da indústria está elevada, o desemprego vai subir. Há espaço para cortes agressivos no juro", diz Bráulio Borges, economista da LCA Consultores. Em relatório, a Rosenberg Consultores Associados avaliou que o "movimento tão drástico da atividade deve trazer rapidamente a inflação à meta [de 4,5% em 2009]" e, por isso, um corte de um ponto na reunião de quarta-feira "é o mínimo que se pode esperar". O Banco Fibra foi mais longe, e disse esperar que o Copom baixe a Selic em 1,5 ponto. "Em um cenário de fortes quedas do ritmo de atividade e da inflação mundial, parece pouco provável um aumento das pressões inflacionárias domésticas", afirmou o banco, em nota.

Pirambeira abaixo

O tombo da indústria eleva as chances de que, no relatório Focus de amanhã, o mercado revise para baixo suas projeções para a produção industrial, o Produto Interno Bruto (PIB), a inflação e, consequentemente, a própria Selic. No momento, a expectativa média para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza as metas do BC, aponta para uma alta acumulada de 4,7% em 2009 – no ano passado, a variação foi de 5,9%.

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"A inflação que tivemos em 2008 foi fruto, principalmente, das elevadas cotações internacionais das commodities. O aquecimento da demanda no Brasil também pressionou, mas não foi um aquecimento descontrolado, como o Banco Central insinuava", avalia o economista Marcelo Curado, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Agora, não há mais pressão externa, como bem mostram os dados do atacado. E muito menos pressão de demanda interna."

O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas (FGV), que reflete o comportamento dos preços no atacado, despencou de uma variação acumulada de 15,1% em julho passado para 7,9% em fevereiro. Ou seja, já não há mais tantos repasses a serem feitos do atacado para o consumidor, ainda mais em tempos de demanda cadente.

Outro argumento a que o BC se apegava para manter a rigidez da política monetária era o aumento do nível de ocupação da capacidade industrial. Ele chegou a 84% em julho, indicando que os fabricantes estavam sobrecarregados e poderiam elevar seus preços. Em janeiro, no entanto, o mesmo indicador passou a marcar 77%, nível mais baixo para o mês desde 1993, segundo a FGV.

Embora o aumento do consumo de energia tenha sugerido uma certa reação da indústria em fevereiro, outros indicadores mostram que a coisa continuou feia. Levantamento feito pelo Banco Santanter com 450 empresas mostrou que "a produção e os novos pedidos continuaram a cair acentuadamente". O indicador de novos pedidos, por exemplo, ficou em 39 – números abaixo de 50 representam contração.