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O Banco Central (BC) subiu nesta quarta-feira (29) o juro básico da economia brasileira, a taxa Selic, em 0,50 ponto percentual, para 8% ao ano. É a segunda alta seguida da taxa. O aumento foi maior que a principal aposta dos economistas, de elevação de 0,25 ponto percentual, e contrasta com o crescimento da economia abaixo do previsto no primeiro trimestre. Com isso, a poupança continua mais atraente que a maioria dos fundos de renda fixa -considerando o ganho líquido mensal, que desconta taxas cobradas e impostos -, segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Os representantes do comércio, indúsria e sindicalistas criticaram a decisão do Copom. Para as entidades, o receio é que o aumento desestimule o investimento interno no país e retraia ainda mais a economia. Já economistas apostam em novas altas da taxa básica.

O aperto monetário é fundamentado no atual cenário de pressão inflacionária. A divulgação, hoje, do avanço de 0,6% no PIB dos três primeiros meses, ante previsão de 0,9%, havia reforçado, contudo, a hipótese de uma elevação mais branda na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).

A alta de juros é um instrumento usado pelo governo para conter o consumo, uma vez que o crédito (tanto empréstimos em instituições financeiras quanto parcelamentos em lojas, por exemplo) fica mais caro. E, com menos demanda, a inflação tende a ceder. Nas duas últimas semanas, o presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmou, em duas ocasiões, que a instituição fará o possível para reduzir a inflação, que hoje está em 6,49%, bem acima do centro da meta, de 4,5%.

Repercussão

Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú, que estava entre os que projetavam alta de 0,50 ponto percentual, destacou que, apesar do recuo recente, a inflação continua pressionada e merece atenção do Banco Central e do governo. "O impacto das desonerações e a queda cíclica dos preços dos alimentos têm reduzido a inflação, mas num ritmo menor que o esperado. A persistência da inflação está no centro do debate, das preocupações e dos discursos do governo", afirmou em relatório.

O economista apontou, porém, que a incerteza em relação ao cenário externo serviu de argumento para os que defendiam um aperto monetário menor, de 0,25 ponto percentual, que acabou não se concretizando. "Há indícios de desaceleração global que inclusive tem levado vários bancos centrais a adotarem políticas mais expansionistas. Além disso, a recuperação doméstica ainda é frágil e a inflação deve ceder nos próximos meses, ainda que menos do que o esperado", destacou.

João Júnior, especialista em juros da corretora Icap do Brasil, ressaltou que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, "mudou o tom de seu discurso", deixando a porta aberta para uma elevação acentuada da Selic, de 0,50 ponto percentual. "Mas ele fez o mesmo dias antes da reunião de abril, quando o BC subiu a Selic em apenas 0,25 ponto percentual", acrescentou.

André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, afirmou que a Selic tinha que subir em razão do desconforto no mercado financeiro com a inflação e do descontrole fiscal do governo. "Estamos na contramão do mundo, subindo juros e expandido o fiscal. Essa posição invertida tem que ser observada com atenção pelos agentes nos próximos meses", afirmou.

Para Perfeito, a inflação a não será tão ruim em 2013 como o mercado prevê. "Os preços de alimentos estão desacelerando e o mercado de trabalho menos dinâmico pode segurar mais os serviços. Fora isso o governo vem controlando na marra alguns preços como foi o caso do transporte público recentemente", disse. O que é a Taxa Selic?

A taxa Selic é o principal instrumento do BC para manter a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dentro da meta estabelecida pela equipe econômica. De acordo com o Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação corresponde a 4,5% (centro da meta), com margem de tolerância de dois pontos percentuais, podendo variar entre 2,5% (piso da meta) e 6,5% (teto da meta).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde julho do ano passado, o IPCA acumulado em 12 meses vem subindo. Em março, o índice acumulado chegou a 6,59% e ultrapassou o teto da meta de inflação do governo, que é 6,5%. Em abril, a inflação oficial em 12 meses recuou um pouco, para 6,49%.

Por outro lado, o aumento da taxa Selic prejudica o reaquecimento da economia, que cresceu apenas 0,9% no ano passado e ainda está sob o efeito de estímulos do governo, como desonerações e crédito barato. Hoje, o IBGE divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, teve alta de 0,6% de janeiro a março na comparação com o trimestre anterior. O número veio abaixo das previsões do mercado, que apostava em expansão de 0,9% no trimestre. Em 12 meses, a expansão chega a 1,2%.

Usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), a taxa Selic serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la, o Banco Central contém o excesso de demanda, que se reflete no aumento de preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas alivia o controle sobre a inflação.

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