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Sede da GVT, no Centro de Curitiba: empresa é a única do setor a continuar crescendo no Brasil e oferece oportunidade de expansão territorial para a Telefônica | Rogério Theodorovy/Gazeta do Povo
Sede da GVT, no Centro de Curitiba: empresa é a única do setor a continuar crescendo no Brasil e oferece oportunidade de expansão territorial para a Telefônica| Foto: Rogério Theodorovy/Gazeta do Povo

Proposta pode ser prejudicial ao consumidor

A cartada da Telefônica no jogo de aquisição da GVT deve enfraquecer a competição do mercado interno e representa risco para o consumidor. Isso porque concentra o mercado na mão de poucas empresas, se­­gundo avaliação do professor do departamento de economia da UFPR Walter Shima.

Na Agência Nacional de Te­­lecomunicações (Anatel) e no governo, a proposta divide opiniões. Uma corrente vê a compra como positiva, porque fortaleceria o grupo Telefônica em contraposição à Oi, que comprou a Brasil Telecom (BrT) no ano passado. Outros pensam que a proposta da Vivendi seria mais interessante, como pensa Shima. "A intenção de compra declarada pela francesa Vivendi embutia uma notícia positiva para os usuários de telefonia do Brasil, porque significava mais um competidor e tecnologias diferentes no mercado interno", diz.

O ministro das Co­mu­­nicações, Hélio Costa, disse que a oferta da Telefônica é "perfeitamente natural". Ele lembrou que, para aprovar a compra da BrT, foi exigida da nova Oi que atuasse também no mercado de telefonia em São Paulo. "Da mesma forma, a Telefônica fica com a obrigação de entrar na área da Oi", afirmou.

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A Telefônica anunciou que está disposta a pagar até R$ 6,5 bilhões aos acionistas da GVT para comprar a operadora paranaense de telefonia fixa e banda larga. A oferta dos espanhóis compromete as negociações em curso entre GVT e a francesa Vivendi, que fecharia a aquisição por R$ 5,4 bilhões (2 bilhões de euros).

Apesar da proposta agressiva – a GVT informou ter recebido a notícia por meio do comunicado da Telefônica à Comissão de Valo­­res Mobiliários (CVM) –, especia­lis­­tas afirmam que a movimentação era previsível, uma vez que a empresa nacional é a única do se­­tor em expansão no Brasil. "A cada trimestre a GVT apresenta bons índices, ganhando clientes, am­­pliando a margem e aumentando a receita", cita o analista da consultoria IDC Brasil João Paulo Bruder.

Ainda assim, chama atenção de ser muito raro no Brasil esse tipo de oferta, em que os compradores sim­­plesmente vão ao mercado anunciando a intenção de ficar com as ações sem antes negociar com os controladores. Alguns operadores do mercado financeiro chegaram a dizer que é a primeira vez que esse tipo de procedimento, conhecido como Oferta Pública de Ações (OPA), acontece de fato no Brasil.

"A Telefônica já estava estudando essa proposta há tempo; demorou menos de um mês para maturar a ideia e fazer as contas em cima da proposta da Vivendi. Certa­­mente ela levou a sério o perigo de um novo competidor europeu no seu mercado brasileiro", diz Bruder, da IDC. Para o sócio da corretora DLM Invista, Luiz Fernando Iani, a Telefônica sempre foi número um na lista de prováveis compradores da empresa paranaense. "A estrutura da GVT é uma oportunidade única para os espanhóis, que detêm a concessão do serviço em São Paulo, entrarem em outros mercados", analisa. A GVT opera hoje nas Regiões Sul e Centro-Oeste, além dos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Acre, Rondônia e Tocantins. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, a operadora presta serviço para o mercado corporativo. A Telefô­­ni­­ca, por sua vez, é responsável pelas operações da Telecomu­­nicações de São Paulo (Telesp), com atuação no mercado paulista – também controla o portal Terra e a operadora de telefonia móvel Vivo.

Capital pulverizado

A GVT tem 65% de seu capital nas mãos de investidores independentes. O restante pertence aos controladores, a holandesa Global Village Telecom e as americanas Swarth Investments e T Rowe Price Inc. A partir de agora, os acionistas têm de analisar as duas propostas até 18 de novembro. Esse também é o prazo para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que terá de avaliar a nova oferta sob o ponto de vista regulatório.

Para avançarem, as negociações pressupõem a retirada de uma cláusula existente no estatuto da companhia brasileira. Ela impõe uma barreira, conhecida no mercado financeiro como "poison pill" (pílula do veneno), segundo a qual a GVT só pode ser vendida ca­­so o interessado pague R$ 52 por ação.

Vencida essa etapa, caso 51% dos acionistas da opera dora paranaense vendam seus papéis, a Telefônica passa a ser dona da GVT. A proposta dos espanhóis é de R$ 48 por ação – R$ 6 acima da oferta da Vivendi. Ainda não há data definida para a próxima reunião de acionistas da GVT. Nesse encontro, em que todos têm direito a voto, é que a mudança no estatuto pode ser aprovada.

Leilão

Parte do mercado já prevê um "leilão" pela compra da GVT, uma vez que a mexicana Telmex – controladora da Net e da Embratel – também tem interesse estratégico na rede de dados da empresa paranaense. O analista da consultoria Petra, Daniel Malheiros, avalia no entanto que dificilmente a proposta da Telefônica possa ser vencida. "A Telefônica pode investir mais, pois vai abater custos fixos com a sinergia de infraestrutura e de pessoal. Mesmo que emita dívida para realizar a compra, ela tem condições para isso. Já a Vivendi entraria em uma posição mais descoberta, entrando como player em uma estrutura ainda pequena", diz.

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