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O Banco Central atirou na regulação macro­pru­dencial para acertar o câmbio e, bem, acertou na regulação. Como con­­se­quência indireta, pre­parou o terreno para su­­bir os juros. Como mostra o comportamento da taxa de câmbio hoje, ao li­­mi­­tar as posições vendidas dos bancos, o BC não atua na causa da valorização do real.

Os bancos têm tomado dinheiro a juro zero no exterior e vendido no mercado brasileiro (compondo, assim, posições vendidas) para aplicar em coisas mais rentáveis. Para fechar a posição, eles compram dólares no mercado futuro, pois um dia pretendem pagar a dívida e embolsar os lucros. Seria uma operação praticamente neutra no longo prazo, não fosse seu perfil cíclico – há tempos o BC entra na ponta compradora, oferecendo um canal de entrada para os dólares que sobram lá fora, o que faz crescerem as posições vendidas.

O risco desse ciclo é os bancos criarem posições vulneráveis a movimentos bruscos do câmbio. O limite imposto ao BC reduz o risco e também a necessidade de o banco entrar como a ponta compradora dos dólares. É um refresco para uma troca cara para a autoridade monetária, e que vai ficar ainda mais cara quando os juros subirem, já que ele paga a estratosférica taxa de juros brasileira para neutralizar os reais que en­­tram na economia via conversão cambial.

Mas até que ponto a medida segura o câmbio, como quer o governo? O efeito deve ser marginal, como foi o au­­mento do IOF para investimentos em títulos brasileiros. Isso porque as posições vendidas dos bancos geralmente são protegidas com a compra no mercado futuro. Essa operação é chamada de carry trade e ela tende a derrubar cotações quando está em crescimento, mas sua influência sobre a taxa de câmbio de longo prazo é mais incerta.

O BC deve elevar os juros em janeiro para controlar uma inflação que bateu nos 6% em 2010. Seria inocência da autoridade monetária acreditar que o teto para posições vendidas vai evitar que investidores queiram aproveitar de alguma forma o diferencial entre os juros daqui (descontada a inflação, na faixa de 5% ao ano) e lá fora (zero). Ou que as multinacionais deixariam de investir em um mercado com boa perspectiva de crescimento.

Pelo menos o ministro Guido Mantega deixou de argumentar que não existe relação entre política fiscal, inflação e juros. Tudo seria mais fácil se as contas do governo voltassem para a trajetória anterior à crise. Também ajudaria se a economia dos EUA crescesse bem, como afirmam alguns analistas. Isso fortaleceria o dólar e quem sabe faria com que os juros lá saíssem do zero.

Guido Orgis é jornalista, mestre em Economia Política

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