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Nesta semana, a projeção para 2011 dicou estável após três altas. Confira |
Nesta semana, a projeção para 2011 dicou estável após três altas. Confira| Foto:

Opinião sobre o câmbio mostra alinhamento

A declaração de Alexandre Tombini sobre o câmbio, uma das maiores dores de cabeça da equipe econômica, mostra um alinhamento entre o futuro presidente do Banco Central e o Ministério da Fazenda, que vem adotando medidas para segurar a valorização do real. Segundo Tombini, numa referência implícita à guerra cambial, a moeda não pode flutuar de acordo com as políticas de outros países, mas apenas em relação aos fundamentos econômicos do país.

Conservador em seu discurso aos senadores, a afirmação chamou a atenção do mercado ontem. "O governo brasileiro vai adotar medidas para evitar uma valorização do real. Pelo que eu entendi do discurso, não vai deixar que o câmbio se altere a um patamar muito diferente do que é hoje", diz Paulo Hegg, operador da Um Investimentos. "Um fator positivo do discurso foi tirar a dúvida do mercado em relação a uma possível perda de autonomia do BC", completa o economista.

Varejo

Para Edson Ramon, presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), o que deixou de ser dito foi o mais revelador. "É uma contradição ele falar que a expansão do crédito teve base sólida e duradoura, logo depois do Banco Central mudar as regras do jogo (na última sexta-feira, o BC tomou medidas para restringir o crédito). Quer segurar a inflação, mas não falou que boa parte da liquidez da economia se deve ao gasto excessivo por parte do governo. Restringindo o crédito o ônus novamente fica com o setor produtivo".

Breno Baldrati

  • Alexandre Tombini, ao ser sabatinado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, mostrou ser a favor de medidas para segurar a valorização do câmbio

O futuro presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defendeu ontem que o governo trabalhe para que a meta de inflação seja reduzida do atual patamar de 4,5%, de maneira a se aproximar da média adotada em outros países. Segundo ele, essa meta menor poderia começar a ser perseguida daqui a dois anos.

Em tese, uma meta de inflação mais baixa significa juros mais altos para que os preços sejam mantidos sob controle. Há quem argumente, por outro lado, que o fato de o governo adotar uma meta menor ajuda a induzir o setor privado a crer que a inflação vai, de fato, ser mais baixa, o que poderia reduzir o ritmo de reajustes de preços.

A declaração foi dada pelo economista durante sabatina realizada na Comissão de As­­suntos Econômicos do Senado. Tombini, indicado para o comando do BC pela presidente eleita, Dilma Rousseff, voltou a defender o compromisso da instituição com a estabilidade de preços.

Ele fez elogios ao atual co­­mandante do BC, Henrique Meirelles, e repetiu palavras já usadas por Meirelles ao defender que a instituição busque "de forma incansável e intransigente'' o compromisso com o cumprimento das metas de inflação.

Autonomia

"Para isso, a presidente eleita conferiu autonomia operacional plena ao Banco Central para perseguir o objetivo pretendido pelo governo, por meio do CMN, de meta de inflação medida pelo IPCA de 4,5% para os próximos dois anos'', afirmou.

Ao falar sobre o tema, porém, Tombini defendeu que, passado esse prazo, se discuta uma redução na meta traçada pelo governo. "Precisamos construir as condições necessárias para, no futuro, convergir a nossa meta de inflação para o padrão observado nas principais economias emergentes'', disse o economista, sem entrar em mais detalhes.

Levantamento feito pela Fazenda em setembro mostrava que, dos países do G-20, 11 apresentavam inflação abaixo de 4,5% perseguidos como meta pelo BC. Tombini também defendeu a política fiscal e o sistema de câmbio flutuante adotados pelo governo, embora, sobre este último assunto, tenha ressaltado que, em momentos como o atual, intervenções mais fortes do governo se justificam para evitar valorização maior do real.

Aprovado

Funcionário de carreira do BC, Tombini ocupa atualmente a diretoria de Normas da instituição. Ontem, por 22 votos a 1, seu nome foi aprovado em votação secreta pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Antes de tomar posse, ainda precisa passar pelo crivo do plenário do Senado, o que pode ocorrer hoje. O economista recebeu elogios não apenas de senadores da base aliada, mas também da oposição.

O tucano Tasso Jereissati (CE), por exemplo, se disse tranquilo ao saber que "o Banco Central estará em mãos bastante competentes". Apesar de 23 senadores terem participado da votação, apenas 8 fizeram perguntas Tombini.

Declarações

Veja algumas das principais falas de Alexandre Tombini durante a sabatina:

Autonomia

"Para isso [assegurar o poder de compra da moeda], a presidente eleita conferiu autonomia operacional plena ao Banco Central (...)"

Falso dilema

"Hoje há consenso de que é falso o dilema que contrapunha o crescimento econômico à estabilidade de preços. Nos últimos anos, consolidamos a inflação em um patamar baixo e observamos o crescimento médio muito maior, quando comparado às décadas passadas, quando vivíamos com inflação elevada."

Inflação

"Taxas elevadas de inflação têm efeitos nocivos sobre a economia e perversos sobre a renda da população; em particular, sobre os segmentos de renda mais baixa. Neste sentido, o objetivo primordial da política monetária é manter a inflação em nível baixo e estável."

Redução da meta

"Precisamos construir as condições necessárias para, no futuro, convergir a nossa meta de inflação para o padrão observado nas principais economias emergentes."

Mudança nos compulsórios

"As medidas não são substitutas da política monetária, mas têm impacto e devem ser levadas em conta."

Câmbio

"Temos de trazer mais proximidade do câmbio flutuante em relação aos fundamentos da economia, e não simplesmente deixar que políticas de outros países determinem a direção dessa importante variável econômica."

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