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Fabián Barros, da consultoria McKinsey: avenidas de crescimento em mercado menos desenvolvido. |
Fabián Barros, da consultoria McKinsey: avenidas de crescimento em mercado menos desenvolvido.| Foto:

Contraponto espanhol vê espaço para o "off-line"

Boa parte dos conferencistas que participaram do 7º Congresso Brasileiro de Jornais dedica seu trabalho a entender os jornais e a tentar antecipar o futuro do setor. São especialistas do porte de Michael Smith, diretor-executivo do Media Management Center (Universidade Northwestern, EUA), Earl Wilkinson, diretor-presidente do INMA (International Newsmedia Marketing Association, EUA), Rosental Calmon Alves (do Knight Center for Journalism in the Americas), entre outros.

O nome do designer gráfico espanhol Javier Errea tem o mesmo peso, mas suas análises são desconcertantes e muitas delas, bastante simples – o que contrasta com muitos de seus pares. Errea assina o projeto gráfico de três dos dez jornais mais bem desenhados do mundo – segundo eleição promovida pela Associação Mundial de Jornais, WAN, na sigla em inglês. São eles o Expresso (Portugal), Eletfheros Tipos (Grécia) e El Economista (Espanha).

À pergunta "como estarão os jornais em 2020?", Errea responde: "Não tenho idéia, mas me parece que vão ficar melhores." Para ele, apesar de todo o esforço para desenvolver a mídia on-line, há muito a ser feito no "off-line" (papel).

O espanhol também vê como "mito" boa parte de "verdades" que circulam no meio. Exemplos. Mito: os diários vão ficar menores (tablóide ou formato Berliner). Diz Errea: "Não conheço um caso de redução [de tamanho] que tenha resolvido crise de circulação." Mito: jovem não gosta de ler. Afirma ele: "Eles lêem livros como Harry Potter e têm mais dinheiro do que nunca. Talvez não estejamos fazendo um jornal que eles gostem." Mito: leitores não gostam de mudanças bruscas. Errea garante que desconhece reclamações consistentes feitas a produtos que mudaram e cita como exemplo a revista Metrópoli, que muda logotipo e capa a cada edição semanal. "Acho que os jornalistas é que são muito conservadores."

Serviço:

O livro "O Destino do Jornal", de Lourival Sant´Anna, aborda, como o nome diz, o futuro do setor e traz entrevistas com os diretores de redação de O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo. Editora Record. R$ 40. 270 páginas.

  • Resultados da pesquisa sobre a circulação de jornais

Os jornais do Brasil estão preocupados, principalmente, com duas coisas. A primeira delas é um problema bem nosso, a liberdade de expressão e a Lei de Imprensa ainda em vigor no país (veja box). A segunda é um problema do mundo todo, literalmente: o que vai ser desse mercado no futuro? No caso do Brasil, a pergunta é mais específica: como estarão os jornais em 2020?

Estes foram os principais temas discutidos pelo setor esta semana, em São Paulo, quando ocorreu o 7º Congresso Brasileiro de Jornais, promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) nos dias 18 e 19. Preocupação atrai: o evento reuniu um número recorde de participantes, 773, entre proprietários de jornal, jornalistas, funcionários de empresas de comunicação e especialistas da área.

O futuro promete um ambiente bem agitado. Para o brasileiro Rosental Calmon Alves, professor do Knight Center for Journalism in the Americas, na Universidade do Texas (EUA), as mudanças nos jornais na próxima década serão mais significativas do que as ocorridas nos 200 anos anteriores. "O jornal está se transformando em outra coisa", diz.

Essas alterações estão sendo motivadas, principalmente, pela concorrência da internet – e suas incontáveis fontes de informação, como sites, blogs, redes sociais etc. Nesse flanco, as empresas jornalísticas já fincaram pé: praticamente todos os jornais têm sites e os incrementam regularmente. Um dos pontos em discussão é como essa plataforma vai ser explorada e até onde ela vai evoluir.

O Brasil está em situação mais confortável para que a concorrência on-line insida menos na circulação dos jornais impressos. Diferentemente do que ocorre com os EUA, onde a circulação e a participação no bolo publicitário estão em queda, o mercado aqui cresce. Há elevação da circulação desde 2004, quando o mercado começou a se recuperar. No primeiro semestre deste ano o aumento foi de 8,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já a participação dos jornais no bolo publicitário cresceu 15%, chegando a 16,38% do total (ou R$ 3 bilhões em anúncios).

Até 2020 as perspectivas são otimistas. É que os problemas norte-americanos vão demorar, segundo os especialistas, pelo menos dez ou 15 anos para chegar. Até lá o avanço por aqui deve vir da melhoria da situação econômica, principalmente pelo reforço da classe média e pelo aumento de poder aquisitivo das classes mais pobres. "A renda per capita do país em 2020 deve ser de R$ 21 mil contra os R$ 16 mil atuais", disse na abertura do evento o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, que por 20 anos foi jornalista. Resumindo: mais dinheiro no bolso significa mais chances de gastar algum para comprar jornal.

A perspectiva encontra bom amparo na situação atual. Boa parcela do crescimento de circulação deste ano deve-se aos jornais chamados populares, voltados para classe C. Mas não é só isso. "A situação no Brasil é muito diferente da dos mercados desenvolvidos", afirmou o uruguaio Fabián Barros, consultor da McKinsey, no painel sobre Estratégias de Crescimento.

Há pelo menos três grandes "avenidas de crescimento": 1) expansão do "core" (o negócio central) com, por exemplo, a criação de jornais populares, novos formatos etc; 2) expansão geográfica (com distribuição em novas regiões ou reforço de regiões já atendidas); e 3) investimento em novas mídias, com investimento na internet e comunicação móvel, entre outros. Para ele, o bom momento do setor cria um ambiente propício para as empresas renovarem suas fontes de expansão e investirem nas "avenidas". "O caminho é a disposição de enfrentar os riscos da mudança", afirmou Randy Covington, diretor do IFRA Newsplex, da Univesidade da Carolina do Sul (EUA) – um centro de treinamento que promove a integração multimídia em redações de jornais impressos.

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