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A Vale informou que um aperto no crédito na China está por trás da forte queda nos preços do minério nas últimas semanas, que levou algumas companhias a pedir vendas pelo preço à vista, forma aceita pela mineradora para manter os negócios. A migração do sistema de precificação do minério de ferro do modelo de reajuste trimestral para a forma de venda à vista está ocorrendo, principalmente na China, admitiu a Vale nesta quinta-feira (27). A tendência para a mudança é forte porque os preços estão em queda e esta redução tem sido provocada principalmente por falta de caixa das companhias chinesas, afirmou o presidente da mineradora, Murilo Ferreira, em teleconferência com analistas. Com dificuldades em obter recursos, as siderúrgicas e tradings estariam queimando estoques de minério de ferro, levando a redução de demanda e preço. Os clientes chineses pressionaram por repasse desta redução de forma imediata, sem aguardar por três meses para que essa queda fosse ajustada, conforme os contratos vigentes. "Se os clientes acreditam que pela sua situação financeira não podem esperar esse tempo (três meses) e querem precificação à vista, a Vale vai bancar", afirmou o diretor de Marketing, Vendas e Estratégia, José Carlos Martins, no mesmo evento. Martins ponderou, no entanto, que a solução terá de ser justa para os dois lados, com o mesmo modelo vigente tanto na queda quanto na alta de preços. Assim, quem aderir a esse modelo terá que mantê-lo para os próximos meses e se um modelo novo for adotado não haverá volta, disse. Compradores de minério de ferro no Japão preferiram ficar com modelo atual, de ajustes trimestrais, enquanto a maioria dos clientes chineses pediram mudanças para negociar com preços à vista. "Está claro que daí para frente que se o preço aumentar (no spot) como acreditamos que vai ocorrer muito em breve, os preços também subirão na precificação à vista".

Ferreira disse que os preços tendem a se estabilizar ainda em novembro com medidas que a China anunciou para aliviar a situação de aperto no crédito. Além da falta de crédito, a China teria experimentado aumento na oferta de minério de ferro, já que a Vale redirecionou embarques de minério cancelados na Europa para o mercado asiático. Sem cortes Murilo Ferreira afirmou que a mineradora não pretende cortar produção por causa da volatilidade dos mercados. "Isso é uma resposta para aqueles que querem comparar a situação atual com a crise de 2008". No seu balanço financeiro divulgado nesta quarta-feira, a Vale reiterou confiança na economia real dos mercados mundiais. "Observando-se as duas maiores economias do mundo, os EUA e a China, não há sinais de que caminhem em direção à uma recessão. Os últimos dados para ambos os países são animadores, com produção industrial e vendas no varejo crescendo continuamente", acrescentou. Considerando as vendas por país, a China respondeu, mais uma vez, pela maior parte da receita da Vale no terceiro trimestre, com 34,6 por cento do total, seguida pelo Brasil (16,7 por cento) e Japão (11,4 por cento). Os Estados Unidos têm peso de 3,7 por cento nas vendas. A remuneração aos acionistas em 2011 alcançará 9 bilhões de dólares, o triplo do que foi pago no ano passado, segundo destacou a Vale, "recompensando, assim, os investidores que têm sofrido os efeitos de um fraco desempenho dos mercados de ações".

A Vale anunciou ontem lucro líquido de 7,89 bilhões de reais, 25 por cento menor que o apresentado no mesmo período do ano passado. O resultado foi afetado pelo dólar mais forte, que pesou sobre sua dívida. O mercado, contudo, demonstrou que deu mais importância aos resultados operacionais da companhia, com alta de 2,5 por cento nas ações da companhia até o começo da tarde desta quinta-feira. A mineradora apresentou geração de caixa recorde, bem como sua melhor receita operacional líquida da história. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que mede a capacidade de gerar caixa, foi de 16,11 bilhões de reais no período. Com aumento nas vendas de minério, a receita operacional líquida da Vale somou 28,6 bilhões de reais no terceiro trimestre e cresceu 8,5 por cento em comparação com igual período de 2010. Ferreira voltou a dizer que problemas com licenças ambientais estão atrasando alguns projetos da companhia. Conforme antecipou a Reuters, o projeto Salobo, por exemplo, foi adiado. Nos nove primeiros meses do ano, a Vale investiu 11,308 bilhões dólares, um aumento de 49 por cento sobre o mesmo período do ano passado, mas ainda muito aquém do seu orçamento para 2011, de 24 bilhões de dólares.

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