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Showroom da JAC Motors em Curitiba: marca vendeu no país nos primeiros sete meses do ano 5,4 mil unidades, 46% a menos do que no mesmo período do ano passado | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Showroom da JAC Motors em Curitiba: marca vendeu no país nos primeiros sete meses do ano 5,4 mil unidades, 46% a menos do que no mesmo período do ano passado| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Investimento

Chery será primeira montadora chinesa a ter fábrica no país

Quando anunciou o projeto de sua fábrica, em Jacareí (SP), a Chery estimou que a planta estivesse operando no final de 2013. No entanto, o prazo foi estendido para o primeiro semestre de 2014 e depois, para o segundo. A montadora deve inaugurar sua fábrica em 28 de agosto, quando começa em ritmo de pré-série e faz os primeiros testes.

A previsão é que a linha entre em operação definitiva em novembro, com a montagem de 50 mil veículos no primeiro ano. Até 2018 esse número deve subir para 150 mil. Junto com a fábrica de motores, os investimentos devem somar R$ 430 milhões e gerar 3 mil empregos.

Adiamento

De acordo com a montadora, os atrasos foram causados pela burocracia dos processos, além das chuvas que atrapalharam as obras. A Chery chegou a ter 80 revendas no país, mas reduziu o número para 60 e atualmente tem 70. De acordo com a empresa, o número de revendas foi reduzido por mudanças na condução dos negócios da rede, tarefa que foi assumida pela matriz, na China.

Depreciação e falta de peças geram críticas

Com a produção local, a tendência é que as vendas das montadoras chinesas voltem a crescer, mas elas vão encontrar um mercado consumidor diferente do que quando desembarcam aqui por meio de importações, no fim dos anos 2000. O Brasil ainda é sedutor – é o quarto maior comprador mundial de automóveis – mas é, agora, mais exigente.

Vendas em queda, concorrência acirrada e crédito mais conservador prometem dificultar a vida das marcas novatas, que ainda terão que provar seu valor. Produzir a custos competitivos no Brasil – mesmo sem contar com uma mão de obra tão barata como no seu país de origem – e rapidamente avançar nos serviços de assistência técnica e pós-venda são os principais desafios.

Atualmente, o reduzido número e a pouca capilaridade das concessionárias de bandeira chinesa no país ainda causam dor de cabeça para consumidores e montadoras. A administradora Maria Aparecida Gonçalves teve que esperar 60 dias para consertar o modelo Tiggo, da Chery, que teve problemas no câmbio no fim do ano passado.

"Na época as concessionárias daqui de Curitiba estavam fechadas e meu carro, que pifou na estrada, teve que ser levado para Chapecó", lembra ela, que hoje tenta comprar um novo veículo e reclama do preço baixo da revenda do modelo. "Comprei por R$ 53 mil em 2010 e hoje está avaliado em R$ 23 mil", diz Maria Aparecida.

Para a economista Viviane Gariba de Souza, analista de fomento e desenvolvimento da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e especialista no setor, as chinesas contam com tecnologia e sistemas de produção que devem conferir competitividade também no Brasil. "Ainda há a ideia errônea de que a indústria chinesa é competitiva só porque tem uma mão de obra barata. Hoje ela tem tecnologia. Mas um dos desafios será melhorar o design de seus produtos, Esse ainda é um ponto desfavorável para essas marcas", afirma.

Depois de uma chegada triunfante, com direito a estratégias agressivas de marketing, as montadoras chinesas têm agora que lidar com um novo cenário. As principais marcas a apostar no Brasil fecharam revendas nos últimos meses, atrasaram seus projetos de fábricas locais e lutam para recuperar espaço na preferência do consumidor. Apesar do preço baixo, hoje elas vendem menos do que marcas de luxo como BMW e Audi.

INFOGRÁFICO: Veja dados sobre as importações de carros da China

A euforia causada pela chegada dos carros chineses – que prometiam modelos mais equipados mas com preços de entrada – parece ter perdido o fôlego. O Brasil começou a deixar de ser um negócio da China quando o governo decidiu sobretaxar em 30 pontos porcentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre as importações.

As importações de carros chineses despencaram de US$ 482,5 milhões para US$ 114,6 milhões entre 2011 e 2013. No acumulado do primeiro semestre desse ano, tiveram queda de 37%, para US$ 37,7 milhões, segundo dados da Secex, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Exterior (MDIC). Em volume, a queda foi de 39%, para 7,6 mil unidades nos primeiros seis meses desse ano.

Hoje os carros chineses respondem por 3% dos veículos importados no país, contra os 9% registrados há três anos. "A grande vantagem do carro chinês foi o preço. Com a sobretaxa, o valor se igualou ao das demais montadoras. Com isso o consumidor migrou para as outras marcas. E em um cenário de vendas em queda e muita concorrência, elas perderam mercado", afirma Luis Antonio Sebben, diretor geral da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) no Paraná.

Segundo levantamento nacional da entidade, as três marcas chinesas mais bem posicionadas no mercado brasileiro – JAC Motors, Chery, Lifan e Hafei – têm hoje juntas cerca de 1% das vendas. A JAC comercializou no país, nos primeiros sete meses do ano, 5,4 mil unidades, 46% menos do que no mesmo período do ano passado. A Chery vendeu 5 mil, 56% acima na mesma base de comparação, mas ainda assim abaixo do que a marca vendia em 2010. A Lifan vendeu 2,5 mil unidades.

As chinesas, mesmo com o preço baixo como principal chamariz, vendem menos do que veículos importados do segmento premium, cujos preços partem, em geral, de R$ 100 mil. A BMW, por exemplo, vendeu mais de 8 mil carros nos sete primeiros meses do ano, enquanto a Audi vendeu 6,9 mil e a Mercedes-Benz, 7,8 mil.

Maioria das fábricas não saiu do papel

Nos últimos anos, foram mais de dez anúncios de fábricas de montadoras chinesas no país – de automóveis e caminhões, principalmente. Mas da safra de asiáticas interessadas no Brasil, a maioria nem sequer iniciou as obras. Estão nesse grupo a fabricante de caminhões Sinotruk e das montadoras Changan e Lifan. Essa última, que tinha planos de montar no Brasil o compacto 320, similar ao Mini Cooper, congelou seus planos de produzir no Brasil.

O novo regime automotivo Inovar Auto, que entrou em vigor em janeiro do ano passado, permite o abatimento da sobretaxa do IPI em troca da construção de fábricas no país. Mas as montadoras terão que desenvolver uma rede de fornecedores local que garanta um mínimo de 60% de nacionalização dos veículos, o que aumenta os custos dos investimentos.

Para Luis Antonio Sebben, diretor geral da Fenabrave no Paraná, a sobretaxa do IPI e a necessidade de investimentos mais elevados acabaram desestimulando algumas empresas. Na área de caminhões, por exemplo, as chinesas têm tido dificuldade porque dependem de índices de nacionalização para que os veículos possam se enquadrar no financiamento do Finame, que tem juros mais baixos.

De concreto, apenas a JAC Motors e a Chery se enquadraram ao novo regime e estão tocando com regularidade seus projetos, mas com atrasos. A JAC, que chegou a contratar a peso de ouro o apresentador Faustão como garoto-propaganda, fechou 15 concessionárias no país. No Paraná, a marca fechou uma das três concessionárias que mantinha.

A montadora, que não retornou o pedido de entrevista da reportagem, esperava inicialmente inaugurar já no fim deste ano sua fábrica em Camaçari, na Bahia, mas jogou para o fim de 2015 o prazo para início das obras. A ideia da empresa é montar 100 mil automóveis de passeio e 10 mil veículos comerciais por ano.

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