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Renault compensou perdas no mercado europeu com o bom desempenho da unidade brasileira, que agora deve desacelerar produção. | Benoit Tessie/Reuters
Renault compensou perdas no mercado europeu com o bom desempenho da unidade brasileira, que agora deve desacelerar produção.| Foto: Benoit Tessie/Reuters

Lula discute medidas para ajudar o setor automotivo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne hoje, em São Paulo, com executivos de todas as montadoras brasileiras para discutir medidas que evitem uma redução drástica na produção de veículos. O setor, visto pelo próprio presidente como um dos motores da economia, já prevê redução nas vendas este ano e teme pelos resultados de 2009. As empresas esperam do presidente a liberação de uma linha especial de crédito para financiamento de carros por parte do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, além de crédito para exportação.

Na última quinta-feira, após encontro com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, representantes do setor já haviam obtido a promessa de ajuda. Um dia depois, o BC anunciou medidas como a possibilidade de o BB adquirir carteira de clientes dos bancos vinculados às montadoras. Mas, por enquanto, a indústria não tem conhecimento de nenhuma ação efetiva.

O encontro vai ocorrer antes da cerimônia de abertura do Salão Internacional do Automóvel. Mesmo que deixe o anúncio para depois, Lula deve tentar acalmar executivos, que temem um contágio ainda maior das dificuldades externas em seus projetos locais.

Com perspectivas de vender cerca de 200 mil veículos a menos do que o previsto, as montadoras já adotam medidas para reduzir a produção. A Fiat pára totalmente a linha de montagem de hoje até sexta-feira. Depois de dois anos sem dar férias coletivas de fim de ano, a Volkswagen volta a adotar a medida nas fábricas de São Bernardo do Campo e Taubaté (SP). A GM já havia anunciado férias coletivas de 12 dias nas fábricas de São Caetano do Sul, São José dos Campos e Mogi das Cruzes, e de dois dias em Gravataí (RS).

Agência Estado

Depois de anunciar férias coletivas de dez dias 900 funcionários de seu terceiro turno, a fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais (região metropolitana de Curitiba) ampliou essa medida para outros 900 operários, todos do segundo turno. O primeiro grupo ficará em casa de 3 a 13 de novembro e os demais, entre os dias 10 e 20. De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC), a empresa vai aproveitar o desaquecimento do mercado para promover "readequações logísticas que estavam pendentes desde julho, quando a produção estava em alta", o que deve reduzir a produção média em um terço no próximo mês. Com 3,6 mil funcionários, a Volks produz cerca de 850 veículos ao dia.

A queda de ritmo na Volks já afeta seus fornecedores. Cláudio Gramm, diretor do SMC, diz que as 16 fabricantes de autopeças instaladas no parque industrial da montadora – que empregam cerca de mil pessoas – estão seguindo os mesmos passos da companhia. Entre elas, estão Peguform, Pirelli, Delphi, Krupp, Kaiper, Guanave, Aetra e SAS.

Há algumas semanas, quando a montadora anunciou férias pela primeira vez, os fornecedores de grande porte instalados em seu parque imediatamente protocolaram aviso de férias coletivas "pelo mesmo período e na mesma proporção que a Volks, ou seja, liberando cerca de um terço dos trabalhadores", segundo Gramm. Ontem, conta o sindicalista, essas fabricantes protocolavam o segundo aviso de férias coletivas, novamente acompanhando a Volks. "Algumas empresas de porte menor, que não precisam protocolar esse tipo de aviso, estão antecipando férias já programadas para parte dos funcionários."

Preocupação

Para o presidente do SMC, Sérgio Butka, a situação é preocupante a médio e longo prazo. "Temos notícia de um cancelamento de um grande pedido da Volks que iria para o México, do modelo Fox", disse o sindicalista, em nota. "Não creio em desemprego e demissões agora. A produção estava em 100%, além do limite, e com excesso de horas extras. Acredito que se a situação não deve se resolver até a virada do ano, aí talvez possamos ter desligamentos a partir de janeiro ou fevereiro. A definição eleitoral americana deve estabilizar o quadro."

Segundo o sindicato, não há números consolidados sobre os abalos provocados pela crise internacional sobre a produção automobilística do Paraná, "mas sobram evidências", principalmente entre empresas com maior índice de exportação. No caso da Volks – que no Paraná produz Golf, Fox e CrossFox –, 30% da produção é vendida ao mercado externo, que esfriou com a perspectiva de recessão em vários países.

Além das férias, outra evidência de que a crise já chegou é o fato de que as empresas do segmento não convocam horas extras há dois meses. Até agosto, quando o mercado estava em alta, as convocações eram freqüentes. Em outros estados, as montadoras General Motors, Fiat e Honda também anunciaram férias para evitar a formação de grandes estoques.

Renault

Embora não fale em férias coletivas, a Renault, também de São José dos Pinhais, tem concedido folgas a seus trabalhadores. Em outubro, foram seis dias, segundo Gramm, do SMC. A empresa está usando o sistema de banco de horas, que permite ampliar a produção quando preciso e, no caso atual, dar folgas aos funcionários quando o ritmo diminui.

"A previsão é que a empresa dispense os trabalhadores em mais seis ocasiões até o fim do ano, sem contar as férias coletivas que ela costuma dar entre Natal e Ano-Novo", diz Gramm. Segundo ele, a montadora atribui a medida à falta de chapas de aço para o setor de estamparia (que produz portas, capôs e outros), mas o motivo principal seria uma adequação à nova realidade do mercado.

O presidente da Renault no Brasil, Jérôme Stoll, disse ao jornal "Valor Econômico" que prevê uma queda de 10% a 15% nas vendas do mercado automobilístico nos próximos três meses, e destacou a importância de se controlar os estoques para não sobrarem muitos veículos nos pátios de fábricas e concessionárias. A montadora francesa emprega pouco mais de 4 mil funcionários e produz diariamente cerca de 600 veículos, dos modelos Sandero, Logan, Megane, Megane Grand Tour, Scenic e Master.

Com crescimento de mais de 80% nas vendas até setembro, a subsidiária brasileira vinha sendo um dos destaques mundiais do grupo Renault – que tem sofrido com a persistente retração do mercado europeu. De janeiro a setembro, as vendas de automóveis encolheram 4% na Europa.

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