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Um maluco trancado num laboratório com idéias e fórmulas mirabolantes na cabeça. Nos desenhos animados e filmes de ficção científica, os físicos podem até parecer gênios incríveis com inteligência acima do normal, seres muito diferentes das pessoas comuns. Desligue a TV e se surpreenda, bastando uma olhada rápida na história de Albert Einstein.

Um dos mais importantes cientistas a revolucionar a ciência curiosamente teve dificuldades de aprendizado na infância: só pronunciou as primeiras palavras depois dos três anos e, na escola, demorou a aprender a escrever. Mesmo assim, foi capaz de conceber a teoria da relatividade, a teoria quântica da luz e o movimento browniano, que comprovou a existência de átomos e moléculas. Tudo isso com apenas 26 anos de idade. Não é à toa que 2005 foi declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) o Ano Mundial da Física, em homenagem aos 100 anos da publicação desses famosos trabalhos de Einstein.

Momento oportuno para avaliar o setor no país, as novas oportunidades nas universidades e no mercado de trabalho, e quem sabe dar um chega para lá no preconceito. Quem é físico sempre tem uma história inusitada para contar sobre as visões distorcidas em relação à profissão. Que o diga o doutorando Felipe Tovar Falciano, de 27 anos. Depois de longos minutos de conversa com uma menina que acabara de conhecer, finalmente contou que era físico.

"Foi a deixa para ela começar a dar gargalhadas. Fiquei surpreso, mas depois a paquera rolou".

Traumas momentâneos à parte, o físico no fundo gosta de encarar desafios. E o principal: a intensa maratona de livros. O lema? Estudo, estudo e mais estudo.

"Em 2001, me formei no bacharelado da PUC-Rio e entrei direto no mestrado na área de cosmologia e gravitação, no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Não satisfeito, encarei direto o doutorado. Fiz um ano e faltam outros três. Essa história de que precisa ser gênio para fazer física é bobagem. O que precisamos é de esforço e muito estudo. E isso eu faço com prazer",diz Felipe.

Físicos podem trabalhar até no mercado financeiro

O presidente da Sociedade Brasileira de Física, Adalberto Fazzio, explica que esse é o destino de grande parte dos estudantes. Há, no entanto, outras opções interessantes fora do mundo acadêmico, como a atuação dos físicos na Bolsa de Valores.

"Ao fim de tantos cursos, as principais portas hoje no Brasil são as universidades e os institutos de pesquisa. Quem faz a graduação em licenciatura geralmente vai dar aulas em colégios. Percebo que muitas empresas e indústrias ainda não possuem laboratórios suficientes para absorver nossos doutores. Elas preferem importar tecnologia do que produzi-la no país. É uma mentalidade que deveria mudar", sugere Adalberto.

Uma recente novidade para quem ainda não bateu o martelo quanto à escolha das ciências exatas ou biológicas é a área da física médica. O aumento do uso de novas tecnologias na medicina deverá render frutos num mercado promissor. Segundo a Universidade Estadual Paulista (Unesp), o Brasil necessita de pelo menos 1.800 físicos médicos para dar conta de aproximadamente 50 mil equipamentos de raios X odontológicos, 18 mil de radiodiagnóstico e 80 centros de radioterapia, sendo 40% no Estado de São Paulo. De acordo com a Unesp, atualmente existem apenas 500 desses profissionais em atividade. Um deles é Bruno Rossi, de 24 anos, que se formou no ano passado na primeira turma do curso de física médica da USP de Ribeirão Preto.

"Sempre gostei de matemática, mas não faria um curso de física comum porque acho muito difícil e restrito. E também não me inscreveria na área biológica puramente. A física médica conseguiu unir as duas áreas que eu gosto", diz Bruno, que ganhou uma bolsa de especialização no Hospital do Câncer de São Paulo e trabalha com radioterapia.

As instituições que oferecem bacharelado em física médica ou habilitação dentro do curso de física, além das citadas, são: Universidade de Campinas, PUC-SP, Universidade Federal do Rio de Janeiro, PUC-RS, Centro Universitário Franciscano (RS), Universidade Federal de Sergipe e Universidade Católica de Pernambuco. No ano que vem, a UFRJ lançará a graduação em biofísica.

Pesquisa comprova que mais estudantes vem se formando em física

Os incentivos aos alunos de física vêm crescendo tanto que até a evasão dos cursos diminuiu. Uma pesquisa coordenada pelo professor Amando Siuiti Ito, da USP de Ribeirão Preto, constatou que o número de formandos em física aumenta a cada ano. Em 2002, 1.360 terminaram o curso e 6.500 se inscreveram. No ano anterior, 950 finalizaram e 5.200 iniciaram. Em 1998, os números foram bem mais baixos: 400 e 3.300, respectivamente.

"Hoje, a média de concluintes chega a 40%. É até bastante se imaginarmos que, há dez anos, a imensa maioria desistia logo nos primeiros semestres", afirma o professor, acrescentando que cerca de 180 físicos terminam o doutorado por ano.

Segundo ele, os salários dos físicos são bem variados. Um professor de uma universidade de São Paulo, por exemplo, ganha em torno de R$ 4.500. Já um pesquisador recebe menos: cerca de R$ 2.500. De acordo com Amando, o mercado de radioterapia paga melhor, por volta de R$ 10 mil.

Um detalhe sobre a profissão preocupa Amando: ela ainda não é regulamentada pelo Ministério do Trabalho.

"O ministério apenas reconhece a profissão. Uma comissão da Sociedade Brasileira de Física está elaborando um projeto de lei para ser enviado ao Congresso Nacional propondo a regulamentação", conta o professor, explicando um dos problemas que o profissional da área enfrenta:

"Um físico que não se interessa pela pós-graduação e desenvolve um produto para colocá-lo no mercado, por exemplo, precisa que um engenheiro assine a responsabilidade técnica, mesmo que ele próprio tenha criado aquele produto. Isso é uma incoerência.

A boa notícia é o crescimento dos investimentos em pesquisa por parte do governo federal. O orçamento de 2005 do Ministério de Ciência e Tecnologia na área é de R$ 3,2 bilhões, acima dos R$ 2,9 bilhões de 2004 e dos R$ 2,6 bilhões de 2003. O governo prevê que, entre 2004 e 2007, os investimentos em ciência, tecnologia e inovação deverão somar R$ 37,6 bilhões. De 2000 a 2004, o valor foi de R$ 24,4 bilhões. Parte desse dinheiro vai para bolsas de estudo, financiadas pela Finep e concedidas pelo CNPq, que variam de R$ 1 mil a R$ 1.500. No ano passado, 50 mil foram concedidas para mestrado e doutorado. A meta do governo para 2006 é formar 10 mil doutores por ano.

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