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Estudantes curitibananos se correspondem com alunos de colégio mexicano. Com a coordenação da Professora Cristiane Ribeiro | Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
Estudantes curitibananos se correspondem com alunos de colégio mexicano. Com a coordenação da Professora Cristiane Ribeiro| Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

Conversa com os imortais da Academia

Em 2008, um projeto criado em Ponta Grossa, no interior do Paraná, permitiu que alunos da rede pública de ensino enviassem cartas para os escritores da Academia Brasileira de Letras.

A iniciativa partiu da professora Eliane Maria Schwab e foi colocada em prática no dia 14 de março de 2008, na Escola Municipal Professora Dércia do Carmo Noviski, em comemoração ao Dia da Poesia, que homenageou o poeta Castro Alves.

Mais de dois mil alunos, entre 3 e 10 anos de idade, e 80 professores estiveram envolvidos no projeto. O objetivo era resgatar a função social da escrita, aproximando os estudantes de 35 escolas de Ponta Grossa dos "imortais". Além das respostas, as crianças receberam muitos livros para as bibliotecas dos colégios em que estudavam. As atividades relacionadas a este projeto foram encerradas ainda em 2008, mas, segundo a Secretaria Municipal de Educação, devem ser retomadas este ano.

Benefícios

Confira como a confecção de cartas contribui na educação das crianças

Aprimora a comunicação, porque os alunos são obrigados a utilizar uma linguagem diferente da oral ou de mensagens virtuais.

Exige maior atenção dos alunos na escrita, por haver um destinatário que precisa entender a mensagem.

Desenvolve o hábito da leitura, uma vez que as correspondências tratam de assuntos de interesse dos estudantes.

Amplia o horizonte de conhecimento da criança, pois contextualiza temas que não têm relação direta com a realidade dela.

Facilita o aprendizado de outras matérias, por englobar assuntos de diferentes áreas.

Promove uma experiência da vida dentro da escola, ao tratar de temas da vida cotidiana dos alunos, com destinatários e remetentes reais.

Fonte: Maria Elizabeth Haro, psicóloga educacional e coordenadora da Comissão de Educação e Comunicação do Conselho Regional de Psicologia do Paraná.

Ensinar por meio de cartas. Muita gente pode considerar esta prática arcaica na chamada era digital, mas iniciativas adotadas por professores no Paraná provam que as correspondências em papel podem trazer diversos benefícios para os alunos. Além do divertimento, as crianças desenvolvem a escrita, exercitam a criatividade e aumentam o interesse por diferentes assuntos.

Há seis anos, a professora de ensino religioso Icléa Gusso desenvolve o projeto Correio na Escola. O trabalho é realizado com alunos do 3.ª e 4.ª ano do ensino fundamental na Escola Municipal Mirazinha Braga, que fica no bairro Bom Retiro, em Curitiba. Ela, que andava preocupada com o pouco contato dos alunos com a escrita, conseguiu colocar 120 crianças escrevendo regularmente para os colegas, professores, inspetores e pais. Uma vez por mês, um aluno é escolhido o carteiro da escola. Ele tem a responsabilidade de receber as cartas, entregar, além de abrir e fechar a caixa do correio. "Sem perceber, eles estão desenvolvendo não só a escrita, mas a socialização, a criatividade e noções de responsabilidade", diz Icléa.

Além das fronteiras

Algumas iniciativas vão ainda mais longe. É o caso da Escola Carrossel Dourado Integração, localizada no bairro Uberaba, em Curitiba, que neste ano iniciou um projeto em que os alunos do 3.º ano do ensino fundamental se correspondem com estudantes de outros países por meio de cartas. O Projeto Intercâmbio de Cartas é coordenado pela professora Cristiane Ribeiro, que entrou em contato com consulados no Brasil para buscar colégios dispostos a trocar correspondências com os seus alunos.

Eles, até agora, enviaram cartas para 18 instituições em 12 diferentes países. "Eles perguntam sobre a cidade, os costumes e as brincadeiras que as crianças desenvolvem nos outros países. A atividade é multiciplinar, já que, além de escrever, eles enveredam por assuntos relacionados à geografia e à história dos países", conta Cris­tiane. As professoras de espanhol e inglês também colaboram para que as cartas sejam escritas no idioma do país de destino. Mas quando o destino das cartas é um pouco mais longe e a língua falada no país, mais difícil, como Itália, Rússia e Alemanha, os alunos têm a ajuda de alunos do curso de Relações Internacionais da Unibrasil, que providenciaram as traduções.

O projeto tem ultrapassado fronteiras. Tanto que a professora Cristiane foi convidada para ir ao México e conhecer os alunos da Escuela Republica del Brasil, na capital do país. Os alunos de Curitiba já estão preparando correspondências para os novos amigos. "Gostaria de saber se sua cidade é bonita e limpa como a minha", escreve a jovem Camille de Souza Airosa, 7 anos, na carta pronta para ser enviada ao México. O garoto Victor Gabriel Gress Lima, 7, declara torcer para o Palmeiras e pergunta o time do seu "primeiro amigo mexicano". E Sofia Letnar Pereira, 7, conta sobre os desenhos que faz nas cartas. "Na carta para a África do Sul desenhei um elefante, uma girafa e um menino jogando futebol. Na carta para a Rússia fiz uma bailarina com patins no gelo", escreve.

Até outubro, a professora pretende juntar os trabalhos do ano e realizar uma apresentação aberta ao público com os alunos interpretando canções e pequenas encenações sobre os países com os quais se comunicaram. Eles também vão visitar a Agência Central dos Cor­reios para entender de que forma são enviadas as correspondências.

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