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Em uma das pesquisas publicadas, pesquisadores mentiram ter examinado os órgãos genitais de 10 mil cães para entender mais sobre a “cultura do estupro e a performatividade queer”. | Foto ilustrativa / Unsplash.
Em uma das pesquisas publicadas, pesquisadores mentiram ter examinado os órgãos genitais de 10 mil cães para entender mais sobre a “cultura do estupro e a performatividade queer”. | Foto ilustrativa / Unsplash.| Foto:

Para pleitear um aumento ou conquistar uma cadeira de titular, um professor universitário nos Estados Unidos precisa publicar artigos em revistas acadêmicas. A estupidez dessas revistas diz muito sobre o que é ensinado nas faculdades hoje em dia.

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Recentemente, três pessoas enviaram “pesquisas” intencionalmente ridículas para importantes revistas de estudos sobre mulheres, estudos de gênero, raça, sexualidade, obesidade e estudos queer.

“A pesquisa nessas disciplinas está totalmente corrompida”, diz o doutor Peter Boghossian da Universidade Estadual de Portland, um dos envolvidos no “teste”. “Elas priorizam uma agenda, e não a verdade”.

O matemático James Lindsay explica o que fizeram para demonstrar isso: “Reescrevemos uma seção de 'Minha Luta', de Hitler, como se fosse feminismo interseccional”. E conseguiram publicar o texto na revista acadêmica especializada em mulheres e Serviço Social, Affilia: Journal of Women and Social Work.

Em outro artigo, eles alegaram ter examinado de perto os órgãos genitais de 10 mil cães em parques de cães para entender mais sobre a “cultura do estupro e a performatividade queer”. Boghossian supôs: “Não é possível que vão acreditar que fizemos isso!” Mas a revista Gender, Place & Culture acreditou e tratou o artigo como “excelente estudo acadêmico”.

Outras sete revistas também aceitaram os artigos absurdos. Boghossian, Lindsay e a editora da Areo Magazine Helen Pluckrose explicam a razão da pegadinha. “Acreditamos que vale a pena estudar temas como gênero, raça e sexualidade, e por isso é extremamente importante fazê-lo corretamente”, diz Lindsay.

De acordo com eles, os pesquisadores dessas áreas tornaram-se preguiçosos e politizados. “Desenvolveu-se uma cultura na qual apenas certas conclusões são permitidas – como aquelas que tornam problemáticas a masculinidade e a pele branca”, diz Lindsay.

Basta chegar a conclusões “politicamente corretas” e seu artigo poderá ser aceito pela maioria das publicações. “A gota d’água foi um episódio recente”, explica Lindsay. “Um artigo generosamente financiado pela National Science Foundation sobre ‘glaciologia feminista’ dizia que o estudo dos glaciares é sexista”.

Como disse uma glaciologista em uma TED Talk, “a maioria dos conhecimentos glaciológicos que temos hoje é fruto do conhecimento criado pelos homens sobre os homens dentro das existentes narrativas machistas”.

Oi?

Outro artigo sugeriu que a solução para o sexismo na glaciologia está nas “pinturas feministas de glaciares e projetos de arte feminista”. O texto elogiou projetos de arte, entre os quais um projeto no qual “uma linha telefônica foi conectada a uma geleira para que você pudesse telefonar para a geleira e ouvi-la”.

Para Lindsay, essa foi “a última gota”.

Ele acrescenta: “O que parece indiscutível é que é possível fazer com que as mais absurdas ideias sejam atraentes o suficiente, do ponto de vista político, para figurar com destaque nos estudos acadêmicos sobre vitimismo”.

Os autores da pegadinha não conseguiram concluir a experiência porque Jillian Kay Melchior, do The Wall Street Journal, notou o absurdo do artigo sobre cães. Ela expôs a farsa antes que qualquer uma das vinte revistas se manifestassem.

O que mais me incomoda é o que aconteceu – ou melhor, não aconteceu – em seguida. Nenhuma universidade disse que pararia de usar essas revistas e nenhum editor declarou publicamente: “Temos de elevar os nossos padrões”.

“Imagine se isso acontecesse com estudos de engenharia civil sobre construção de pontes”, diz Boghossian. “Eles teriam nos agradecido, certo? Como eles atravessam pontes com a família, não querem que pontes desabem”.

Porém, em vez de admitir que às vezes suas revistas acadêmicas publicam disparates, os editores atacaram os autores da pegadinha, acusando-os de fazer “pesquisa antiética”.

No jornal da Universidade Estadual de Portland, Boghossian foi criticado anonimamente por uma dúzia de colegas e descrito como um palhaço. Ele se tornou um pária em sua própria universidade. “Eu fui cuspido e fisicamente ameaçado”, diz ele.

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Em vez de aplaudir Boghossian por expor os absurdos, a universidade, que se recusou a me conceder uma entrevista, o ameaçou. Como pode uma universidade criticar quem expôs esses absurdos e reverenciar as próprias publicações absurdas?

“Isso faz todo sentido para quem convive nesses ecossistemas”, diz Boghossian. Para as pessoas que vivem na pequena bolha do pensamento acadêmico, “a cultura do estupro está impregnada e todos os homens são maus”.

Isso vem acontecendo há algum tempo. A Social Text chegou a publicar um artigo nonsense enviado por um físico, no qual ele afirmava que a gravidade é apenas uma “construção social”. Na época o episódio envergonhou a revista, mas vinte anos depois ela continua firme e forte.

No meio universitário, os “estudos acadêmicos” ficaram ainda mais loucos. A verdadeira pegadinha é o golpe aplicado nos alunos que pagam milhares de dólares por diplomas inúteis nessas áreas chamadas de… “estudos”.

Tradução de Ana Peregrino.

©2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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