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Juliana com Alisson: com os filhos matriculados longe de casa e sem transporte escolar, crianças ficam em casa | Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo
Juliana com Alisson: com os filhos matriculados longe de casa e sem transporte escolar, crianças ficam em casa| Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo

"Quero ver os documentos"

O superintendente da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Luciano Mewes, afirma que não existe déficit de vagas em escolas da rede estadual de ensino em Curitiba. Mewes diz que a estimativa feita pelos conselhos tutelares pode ser um grande equívoco e espera receber notificação oficial sobre os problemas apontados pelos conselheiros. "Quero ver estes documentos", diz.

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Ruídos políticos e jogo de empurra

A falta de vagas denunciada pelos conselhos tutelares em escolas estaduais da capital pode ser entendida como um gargalo que existe no atendimento entre a oferta dos anos iniciais e finais do ensino fundamental.

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Pelo menos 3 mil crianças e adolescentes a partir dos 11 anos de idade estão fora da escola em Curitiba, principalmente nos anos finais do ensino fundamental (5.ª a 8.ª séries) e no ensino médio da rede estadual. A contagem é da comissão de educação dos nove Conselhos Tutelares da capital. A falta de vagas agrava a situação neste reinício de ano letivo. Ontem, reportagem da Ga­­zeta do Povo mostrou que 3,5 mil alunos voltaram às aulas em espaços provisórios, devido a atrasos na construção de novas escolas. As escolas estaduais têm 1,4 milhão de alunos.

O cálculo da falta de vagas é baseado em atendimentos feitos nos conselhos tutelares. O problema se concentra nos bairros da região sul da cidade. Apenas as regionais de Santa Felicidade, Matriz e Boa Vista não registram reclamações de falta de vagas nessas etapas de ensino. A Se­­cretaria de Estado de Educação não reconhece o déficit e aponta esforços para garantia de vagas (leia ao lado).

Mas ainda há crianças e adolescentes longe dos bancos escolares. Aos 13 anos, Bruna Alves de Souza esperava retornar à 5.ª série neste ano. Moradora do bairro Tatu­quara, ela estudava no Colégio Estadual Guilherme Maranhão até o ano passado, quando desistiu devido à falta de segurança. Sua mãe, Edna, tentou fazer a matrícula em outra escola para que ela voltasse aos estudos, sem sucesso. "Falaram que não tinha vaga", conta. A adolescente aguarda numa lista de espera, prática que tem se tornado comum em algumas escolas estaduais, de acordo com o coordenador da Comissão da Edu­cação dos Conselhos Tu­­telares em Curitiba, Luciano da Silva Inácio.

Segundo Inácio, um mapeamento do déficit de vagas está sendo feito pelos conselheiros tutelares para ser encaminhado ao Ministério Público. Por enquanto alguns exemplos estão no Colégio Estadual Brasílio de Castro, onde 342 pessoas esperam na fila. Já na região do Pinheirinho, a conselheira tutelar Juliana Guerra afirma que cerca de 500 crianças e adolescentes que deveriam estar matriculados nos anos finais do ensino fundamental ou no ensino médio estão fora da escola. "A situação é emergencial e precisa de providências. Temos escolas fechando turmas de 5.ª a 8.ª série ou matriculando crianças com 11 e 12 anos de idade no período noturno. Isso não pode ocorrer", afirma.

É o caso da estudante Fernanda Ferreira de Maman, 15 anos, que só conseguiu completar sua matrícula no fim da tarde de anteontem na 6.ª série, no Co­­légio Estadual Vitória Régia, na CIC. Até então, segundo conta a mãe, Sueli, Fernanda aguardava na fila de espera do Colégio Estadual Rodolfo Zanineli. "A minha preocupação é com a segurança, pois só tinha vaga para a noite", diz Sueli. Todos os dias, Fernanda terá de enfrentar cerca de uma hora de caminhada para chegar até o colégio no escuro.

Longe de casa

Para driblar o problema da falta de vagas, muitos alunos começam a ser matriculados em escolas distantes do bairro onde mo­­ram. E nem sempre o transporte escolar funciona. Estu­dantes de bairros da região Sul da capital como Tatuquara, CIC e Sítio Cercado foram matriculados em colégios de bairros centrais, com transporte escolar garantido pelo governo estadual.

Anteontem, o menino Dou­glas Vinícius Mattos, 12 anos, aguardou o transporte marcado, que não apareceu. "Não veio nenhum ônibus", conta o garoto, que deve estudar na 5.ª série no ano letivo de 2010, no Colégio Estadual Gabriela Mistral, na Vila Izabel. A espera terminou após uma das mães dos alunos ter ligado para a escola em busca de informações. Foi só então que Vinícius soube que o transporte iria funcionar só a partir da se­­mana que vem.

A tia Valquíria, responsável por Vinícius enquanto a irmã trabalha, reclama que a escola onde ele recebeu a vaga ficou muito longe de onde moram, no Tatuquara. Antes, o menino tinha aulas na Escola Municipal Leonel de Moura Brizola, que atende apenas estudantes de 1.ª a 4.ª séries. "Pra quem estudava tão perto de casa, fica difícil", diz.

A dona de casa Juliana Góes Ribeiro levou um susto quando recebeu a notícia de que seus filhos, Alisson, 10 anos, e Joyce, 14 anos, iriam estudar cada um em um bairro diferente, e ambos longe de casa. "Meu filho é do Tatuquara, mas foi matriculado na Vila Izabel. E minha filha foi para uma outra escola na Ca­­ximba", reclama. Três dias após o início das aulas e sem transporte escolar, Juliana afirma que não tem como mandar os filhos para o colégio.

Mesma decisão tomada por Maria Terezinha dos Santos, mãe de Henrique, 14 anos. Ma­­triculado no Centro de Atendi­mento In­­tegral a Criança e Ado­lescente (Caic), uma espécie de escola agrícola, o menino não pôde ir à escola nos últimos dias por falta de transporte. "Eu mal sei onde é esse lugar. Eu queria um lugar mais perto", diz a mãe. Henrique deveria ingressar na 5.ª série do ensino fundamental. "Ele chora, porque quer estudar."

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Interatividade

De quem é a responsabilidade pela falta de vagas nas séries finais do ensino fundamental?

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