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Imagem de e-mail com a propaganda sobre a venda de diplomas certificados pelo MEC| Foto: Reprodução

Criminosos estão comercializando diplomas da faculdade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, pela internet. Eles se apresentam como “um grupo de despachantes especializados em diplomação sem burocracia”, e cobram mais de R$ 6.000 por um certificado de graduação. A instituição nega qualquer envolvimento no delito (veja posicionamento abaixo).

A Gazeta do Povo conversou com um empresário que realizou a compra do material para comprovar a fraude e depois denunciou o caso à polícia. Higor de Souza, de Londrina (PR), ficou sabendo do esquema quando recebeu uma proposta por e-mail. “Estou te escrevendo para te apresentar uma solução definitiva sobre uma pendência que está te impedindo de crescer na sua profissão. Você ainda precisa de um DIPLOMA Original de Nível Superior?”, dizia a mensagem. “Como o meu endereço de e-mail fica disponível no site da empresa, recebemos todo o tipo de propaganda”, explica Higor. Mas esta foi a primeira vez que ele se deparou com uma oferta do tipo. Ele resolveu ir adiante e denunciar a prática ilegal.

A negociação aconteceu por Whatsapp. Desde o início, ficou claro que o negócio oferecido pelos “despachantes” é a simples venda de diplomas universitários. Higor enviou uma mensagem 3 de junho, dizendo ter interesse em um diploma de Direito. O golpista responde com agilidade e, depois de pedir alguns dados pessoais de Higor, afirma que vai “dar entrada no processo.” Poucos dias depois, a confirmação: “Consegui aprovar com o coordenador uma turma que se formou em 2018”, diz o criminoso. Na mesma semana, ele informa sobre os detalhes do caso. “A coordenação já está revisando a sua monografia. Vou ter acesso amanhã cedo e te envio uma cópia”, afirma. Em 12 de junho, ele anuncia que a operação foi bem-sucedida. “Estou aqui na faculdade para liberar a sua documentação.” Horas depois, Higor recebeu uma fotografia com o seu novo diploma.

Além disso, para que o nome do falso aluno conste no sistema interno, o “pacote” inclui uma monografia completa (que não foi escrita pelo comprador) e um histórico escolar. No caso de Higor, o trabalho de curso recebeu o título de “A eficácia dos ritos de regime prioritário implementados em adoção especial.” O material tem 26 páginas, repletas de erros de português. Higor não escreveu uma linha sequer. Tampouco esteve na Estácio. O pacote também inclui a certidão de colação de grau (com data de 17 de julho de 2018) e outros documentos necessários para comprovar a conclusão do curso.

Em apenas 9 dias, o criminoso conseguiu que Higor fosse registrado no sistema da Estácio como alguém que se formou em Direito em 2018. O diploma consta como tendo a assinatura do reitor da instituição — mas não é possível saber, de antemão, se a rubrica é falsificada.

Depois de o criminoso enviar as imagens comprovando que o diploma havia sido emitido, Higor fez o pagamento de R$ 6.200 para receber o certificado pelo correio. É possível saber que o documento foi de fato emitido pela faculdade porque o certificado possui um QR code único, atrelado ao Cadastro Geral de Diplomas do Ministério da Educação. Os dados da plataforma são cadastrados pelas faculdades.

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Identidade fictícia 

Nas conversas, o golpista se apresenta como “professor Cristiano Gomes”. Um dos endereços de e-mail copiados na mensagem enviada por ele é professor.gomes@mec.gov.br. A parte final do endereço poderia indicar algum vínculo com o Ministério da Educação (MEC). Mas o quadro de servidores da pasta não inclui qualquer pessoa com o nome de Cristiano Gomes. A reportagem da Gazeta do Povo constatou também que o endereço de e-mail não está ativo ou simplesmente não existe. Além disso, o padrão dos endereços de e-mail do MEC não permitiria o uso de “professor.gomes” como prefixo. Tudo indica que Cristiano Gomes é um nome fictício.

O telefone usado pelo criminoso é de São Paulo. Mas o mais provável é que o responsável pelo esquema esteja no Rio de Janeiro. O destinatário da transferência bancária é Leandro Silva dos Santos. Em seu nome, ele tem uma microempresa registrada em uma rua residencial, de casas simples, no bairro Nova Campinas em Duque de Caxias (RJ).

Os responsáveis pelo esquema podem ser indiciados por falsificação de documentos e estelionato. Higor — que chegou a cursar seis semestres de Medicina antes de trancar o curso — espera que casos como o da Estácio deixem de acontecer. “O que me levou adiante é o fato de inúmeras pessoas tentarem acesso a uma instituição, seja ela pública ou privada e não ter oportunidade”, diz ele, que registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil do Rio de Janeiro.

A Gazeta do Povo procurou o Ministério da Educação, mas não recebeu resposta até o fechamento desta reportagem.

Em nota, a assessoria de imprensa da Estácio afirmou que “repudia essa prática criminosa e quaisquer outras que sejam contrárias aos seus valores”. Segundo a instituição, o diploma e os demais documentos comercializados pelos criminosos são falsificações. A faculdade afirma que, em 2022, substituiu os diplomas de papel pelos digitais. A Estácio diz ainda que “segue com rigor o código de ética e conduta”, além de possuir um programa de compliance com as melhores práticas de governança.

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