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Efeito cascata

Problemas na educação básica respingam no acesso à universidade

Os problemas do ensino superior começam na educação de base. Nos últimos dez anos, o número de concluintes no antigo 2º grau ficou praticamente estagnado em torno de 1,8 milhão. Boa parte do crescimento universitário nesse período é explicado por adultos que voltaram a estudar.

Para especialistas, isso é resultado da baixa qualidade e alta reprovação e abandono, que têm como pano de fundo a perda de identidade do ensino médio. A pesquisadora Cibele Andrade, da Unicamp, diz que o ensino médio é um gargalo e que o país precisaria dobrar o número de secundaristas para universalizar essa última etapa da educação básica.

Assim como os problemas do ensino superior são, em parte, explicados pela base, no ensino médio é preciso considerar que há falhas em sua etapa anterior: o ensino fundamental.

Abandono

O consultor e especialista em avaliação Ruben Klein, da Fundação Cesgranrio, observa que, mesmo que, o acesso ao ensino fundamental já tenha sido universalizado, boa parte dos brasileiros é reprovada e abandona a escola antes de terminar o 9º ano. Ele chama atenção para outro aspecto: mais de 99% dos jovens fora da escola dos 15 aos 17 anos chegou a estudar em algum momento. "O grande dilema é que o pessoal entra na escola e não termina", diz Klein.

Augusto da Silva, 21 anos e morador de Olinda (PE), é exemplo disso. Ele fazia o 1º ano do ensino médio, mas largou os estudos há três anos, quando foi trabalhar como auxiliar de cozinha. "Meu pai é caseiro, minha mãe trabalha como empregada e tenho duas irmãs menores. Precisava completar a renda. Quando chegava em casa do trabalho, estava um bagaço e não conseguia estudar", conta. A falta de escolaridade agora lhe custa caro. Há seis meses desempregado, ele tenta conseguir uma ocupação que lhe dê tempo para retomar os estudos.

Membro do Conselho Nacional de Educação, o sociólogo Luiz Roberto Liza Curi concorda que é preciso ampliar o ensino médio. Para ele, no entanto, não é só isso que trava o crescimento do ensino superior. "O número de egressos no ensino médio é um fator relevante para a expansão, mas o ensino superior tem espaço para crescer com o tamanho atual do ensino médio. As vagas existem, só que não estão sendo preenchidas", afirma Curi. Para ele, o crescimento só não é maior porque o curso superior, em alguma medida, perdeu importância em termos de empregabilidade e aumento salarial. (AOG)

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O ensino superior brasileiro, que vinha crescendo até meados da década passada em ritmo acelerado, dá preocupantes sinais de que está perdendo fôlego e a causa mais comum apontada por especialistas para esse problema está mais embaixo: na crise do ensino médio. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, mostram que, de 2006 a 2011, o número de alunos em cursos de graduação cresceu somente 15%, ou 822 mil estudantes a mais. Nos cinco anos anteriores, de 2001 a 2006, essa variação havia sido de 56%, ou 1,9 milhão a mais. Como resultado desse crescimento menor, o porcentual de jovens de 18 a 24 anos estudando no ensino superior em 2011 foi de 14,6%, apenas 0,2 ponto a mais em relação a 2009. A meta do governo federal no Plano Nacional de Educação é chegar a 33% em 2020.

O quadro revelado pela PNAD é ainda mais preocupante se considerado que o país ainda está distante dos países mais ricos. Um relatório divulgado no mês passado pela OCDE (organização que reúne, em sua maioria, nações desenvolvidas) mostra que o Brasil, entre 37 países, é o que apresenta a menor proporção de jovens de 25 a 34 anos com diploma universitário (12%), ficando atrás de México (20%) e Chile (35%) e bem distante da líder Coreia do Sul (63%).

Destrinchando os dados por setor público e privado, a Pnad mostra que, nesses dois anos, o ensino privado chegou a registrar leve queda de 2% contra 16% de aumento no setor público. No entanto, como o setor particular tem muito mais estudantes o crescimento do ensino superior como um todo foi de 1,8%, o menor dos últimos dez anos.

Diferença

O Ministério da Educação (MEC) deve divulgar hoje o Censo da Educação Superior de 2011, que trabalha com metodologia distinta da Pnad, coletando informações diretamente das instituições, e não nos domicílios, como faz o IBGE. Segundo o MEC, o levantamento teve resultado diferente da Pnad. "É questão de metodologia. [Essa queda] não bate com os nossos dados. Temos uma expansão acentuada no segmento público e privado. E o censo é mais preciso", afirma o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Claudio Costa.

Feito pelo Inep, o Censo registra crescimento anual de matrículas até 2010, último dado disponível. Um recorte, porém, revela que o ensino superior cresceu 50,4% entre 2001 e 2005 e 30,6% de 2006 a 2010. Ou seja, a exemplo da Pnad, o Censo também indica perda de velocidade na expansão. É pela Pnad que o MEC monitora a meta de escolarização universitária de 18 a 24 anos.

Para a pesquisadora Ci­­bele Yhan de Andrade, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp, a perda de vitalidade do ensino superior brasileiro é também visível nos dados do MEC. Ela pondera que, como nem todo estudante matriculado no ensino superior efetivamente termina o curso, é preciso olhar para o resultado final. Nesse aspecto, os dados do ministério mostram, em sua avaliação, uma estagnação no número de formados a partir de 2003, que seria ainda pior se não fosse o aumento de cursos a distância.

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