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Lina (direita), Rafaela e Otávio aprendem a lidar com o dinheiro na escola: planejamento e mais controle dos gastos | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Lina (direita), Rafaela e Otávio aprendem a lidar com o dinheiro na escola: planejamento e mais controle dos gastos| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Na rede pública, ensino sobre finanças é tímido

Na rede pública, as atividades relacionadas à economia não estão concentradas em módulos, mas em pequenas orientações dadas em sala de aula ou projetos. Nas escolas estaduais, não há nada específico sobre administração financeira, apenas algumas aulas de educação fiscal.

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Aprender a economizar e investir. Essa é a principal lição de casa para estudantes que têm orientações financeiras dentro da sala de aula. Embora o assunto ainda não seja uma disciplina obrigatória indicada pelo Ministério da Educação (MEC), está cada vez mais frequente no ensino fundamental e médio, principalmente na rede particular. O objetivo é ensinar e discutir o consumo consciente, preparando a criança e o jovem para lidar de forma racional com o dinheiro na vida adulta.

Os economistas recomendam que os estudantes tenham pelo menos um ano de base financeira na escola, pois acreditam que não há esse tipo de orientação familiar. Para o professor de matemática financeira do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Antônio Carlos Belli, grande parte das famílias não tem educação financeira e não sabe transmitir isso para seus filhos. "Por isso mesmo é fundamental que se aprenda sobre finanças na escola, pois o jovem vira um agente que leva a informação para casa e acaba educando a família."

Belli recomenda que as escolas ensinem conceitos elementares de juros simples e compostos e noções de financiamento e orçamento doméstico, o que segundo ele todo mundo deveria saber. Essa base vai dar conhecimento para que os jovens organizem e administrem suas dívidas. "Hoje é crescente o número de jovens que começam a vida adulta endividados. Isso é uma preocupação para a sociedade brasileira. Eles devem começar com uma reserva técnica para estudar e investir, não o contrário", explica o professor.

Atividades simples como visitar o mercado para avaliar os preços, anotar gastos feitos com a mesada ou aprender a guardar o troco do lanche podem ser fundamentais na formação de um consumidor consciente. O economista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), José Guilherme Silva Vieira, explica que os professores devem ensinar noções de escassez, mostrar que o dinheiro termina e a dificuldade de consegui-lo. Desde a educação infantil é importante que as crianças entrem em contato com essa realidade.

Exemplos que rendem

Com R$ 50 na mão, alunos da 3ª série – com 8 anos em média – foram ao supermercado na semana passada com a missão de comprar ingredientes para fazer um bolo. A atividade, que acontece todos os meses na Escola Atuação, faz parte de várias ações que a escola desenvolve para trabalhar economia. Cada série tem uma tarefa específica, como vender algo na escola e organizar os lucros; fazer um pequeno financiamento com a família e depois realizar a contabilidade; ou guardar dinheiro em um cofrinho em um ano e trabalhar com as economia que fez no ano seguinte. A diretora, Esther Cristina Pereira, acredita que é na infância que se aprende a cuidar do dinheiro. "Tentamos mostrar que tudo sai das pequenas economias. É na escola que se aprende isso."

No ensino médio, os alunos estão aptos a aprofundar os conhecimentos em economia. De acordo com Vieira, eles podem começar a trabalhar com rentabilidade de aplicação financeira, além da noção de poupança. Os estudantes do 2º ano do ensino médio do Colégio Bom Jesus aprendem ideias básicas de planejamento econômico, mercado financeiro e investimento em ações. Além de pensar em economia doméstica, eles se preparam para entender o funcionamento financeiro de uma empresa e aprendem a decidir sobre investimentos. O conhecimento é ministrado em um módulo específico, que funciona paralelamente à disciplina de Matemática. O curso é dado pela internet mas é discutido também pelo professor que está em sala de aula.

A aluna Lina Rigodonzo Marins, 16 anos, conta que o que aprende faz com que ela tenha mais controle dos gastos e não vê apenas a poupança como forma de guardar dinheiro. Assim como ela, seus colegas de classe Rafaela Fabri Rosenstein e Otávio Augusto Noschang Moreira sentem que as aulas auxiliam até para lidar com a mesada que recebem da família. "Eu ganho dinheiro do meu pai toda semana. Tento controlar e planejar bem o que gasto", diz Moreira.

A economista e professora responsável pela disciplina, Leide Alborgoni, conta que até os pais aproveitam as orientações passadas para os filhos. "Esse tipo de educação é importante porque às vezes a família está endividada e acaba virando um hábito que passa para os filhos. Além disso, no começo da vida adulta o jovem pode se deslumbrar e gastar muito mais do que tem usando o cheque especial. É uma ilusão do mundo de consumo."

O deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), tem um projeto de implementar a disciplina de Educação Financeira no currículo do ensino médio do país. "Cada vez mais cedo o jovem se transforma em consumidor. Para que depois ele não sofra as consequências pela falta de preparo, é importante que aprenda a trabalhar com conceitos como juros e financiamento, por exemplo."

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