A formação em valores morais influenciou a escolha de Flávia Ramos pela escola em que o filho Nícolas, 7 anos, vai estudar| Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo

Crença

Contra a maré, instituições mantêm perfil doutrinário

Apesar da tendência contrária, alguns colégios confessionais preferem manter sua identidade religiosa de forma mais explícita, adotando práticas específicas da fé professada pela instituição. Nem por isso o público dessas escolas é homogêneo.

No Colégio Internacional Everest, mantido pela Congregação dos Legionários de Cristo, em Curitiba, são muitas as referências à tradição católica. Os padres que prestam serviços religiosos à escola andam sempre de batina, há orações todos os dias, uma missa por mês e o colégio é autorizado pela arquidiocese a oferecer catequese aos alunos.

Mesmo num ambiente tão marcado pelo catolicismo, a escola tem entre seus alunos evangélicos, espíritas, judeus e muçulmanos. A coordenadora de Formação Integral do colégio, Leonora Maria Josefina, explica que grande parte das famílias de outras religiões vai ao Everest atraída por outros diferenciais, como o ensino bilíngue e a disciplina. "Temos pais não católicos que dizem preferir que os filhos escolham a religião", conta Leonora.

A empresária Solange Fantim Gonçalves destaca a formação de bons hábitos. "Eles trabalham toda uma postura de virtudes, que inclui até pontualidade", diz. Solange tem uma filha na 8ª série e outra que estudou todos os anos do ensino fundamental no colégio.

Termo assinado

Na Escola do Bosque, no bairro São Lourenço, todos os pais que matriculam seus filhos assinam um documento no qual ficam cientes de que os alunos terão aulas da disciplina Religião Católica. "Temos famílias evangélicas que preferem que os filhos não assistam a essas aulas. Então eles participam de outras atividades", explica o diretor Roberto Abia.

A Escola do Bosque adota um sistema de educação diferente, com meninos e meninas em turmas separadas. Os serviços religiosos da escola são realizados por um capelão vinculado ao Opus Dei.

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Optar por escolas confessionais na hora de matricular os filhos nem sempre é uma escolha motivada por identificação religiosa. Bons resultados em rankings de desempenho, bilinguismo ou uma formação moral baseada em valores universais são aspectos que têm atraído até mesmo quem não segue com rigor alguma crença.Especialistas consideram que essa atração se deve especialmente a uma mudança no perfil das escolas confessionais. Há poucas décadas, o fato de fornecerem formação religiosa aos alunos e uma infraestrutura melhor do que a do ensino público era suficiente para garantir turmas cheias. Hoje, o ensino privado tornou-se um concorridíssimo setor da economia e a popularização dos índices de medição de desempenho estimula todas as escolas a traçarem objetivos comuns, como um alto número de aprovados no vestibular ou uma boa média no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

O acirramento da concorrência levou essas instituições a elaborarem novas maneiras de conciliar a identidade religiosa com um ensino eficaz. Na opinião da psicopedagoga Mari Angela Calderari Oliveira, professora do curso de Psicologia da Pontifícia Univer­­sidade Católica do Paraná, muitas estão obtendo êxito. "A maioria das confessionais trabalha hoje a questão de valores morais, mas sem impor uma crença. Paralela­­mente a isso, melhoraram muito a qualidade de ensino", diz.

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Convívio

No Colégio Marista Paranaense essa é uma das características que chama a atenção. O colégio católico que já serviu de seminário não inclui na grade horária nada de confessional e mesmo a disciplina de Ensino Religioso é tratada como uma área de conhecimento mais amplo, sem enfoque no catolicismo. "Temos alunos de várias religiões aqui, então, trabalhamos a questão do sagrado presente em todos os povos", conta o diretor educacional, Mario José Pykocz.

O único colégio luterano de Curitiba também opta por uma postura mais abrangente ao tratar a religião em sala de aula. "Todos os dias iniciamos nossas aulas com uma meditação, mas qualquer cristão se reconhece nela", explica o diretor do Colégio Martinus, João Lima.

Pertencer à mesma confissão religiosa da escola também não é critério para a contratação de professores. Segundo Lima, somente uma minoria participa da comunidade local, que possui uma igreja bem ao lado do colégio. "Quando contratamos alguém explicamos nossa orientação confessional, mas a pessoa precisa apenas compartilhar de valores cristãos fundamentais, como amor e perdão", explica o diretor.

Ambiente familiar

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Embora o direcionamento confessional tenha deixado de ser co­­mum nessas instituições, o am­­biente familiar tradicionalmente valorizado em instituições religiosas continua a pesar na escolha dos pais. Foi esse o critério usado por Flávia Toledo Ra­­mos na hora de matricular o filho Nícolas, de 7 anos. Mesmo vizinha de um grande colégio não confessional de Curitiba, ela colocou o filho em uma escola com vínculo religioso localizada em outro bairro da cidade.

Apesar de não ter uma vivência religiosa intensa, Flávia diz sentir fa lta da formação em valores mo­­rais nas outras opções que conheceu. "Acho que escolas sem perfil religioso se preocupam muito com conteúdo regular e pouco com o caráter do indivíduo", opina.