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Um novo estudo feito por um pesquisador brasileiro com dados de 100 países acaba de demonstrar, de forma direta, a correlação entre liberdade econômica e a qualidade da produção científica. Marcelo Hermes-Lima, professor do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília e consultor da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), cruzou duas bases de dados em seu levantamento. A primeira, a da mais recente edição do Índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation, que avalia itens como a carga tributária e as regras trabalhistas. A outra, a lista da respeitada plataforma Scimago, que mede a quantidade de citações por artigo científico (paper) - esse critério é o mais adequado para avaliar a qualidade da produção científica porque o simples volume de artigos pode ser enganoso.

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Recentemente, o professor havia feito um levantamento semelhante, mas incluindo apenas ex-repúblicas soviéticas. No novo estudo, ele levou em conta todos os países com pelo menos 800 artigos acadêmicos no ano de 2018. A lista inclui exatamente 100 nações. Em seguida, Hermes-Lima fez o que os estatísticos chamam de “regressão” para medir a correlação entre a liberdade econômica e o impacto dos artigos científicos produzidos em cada país. O resultado encontrado pelo professor é pouco surpreendente, e ainda assim relevante: a correlação entre liberdade econômica e impacto da produção acadêmica é significativa. Para ser mais preciso, a correlação é de 30% (r2=0,30), o que significa que a liberdade econômica explica quase um terço da relevância de um país no campo da ciência.

A pesquisa do professor da UnB, ainda a ser publicada, evidencia que, embora a liberdade econômica seja um fator de grande importância para a qualidade da produção científica, por si só ela não basta: existem exemplos de países que, mesmo com uma liberdade econômica razoável, obtém maus resultados na ciência - e há até mesmo exemplos no sentido contrário.

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A Indonésia, por exemplo, se destaca negativamente no gráfico produzido pelo professor. Levando em conta a posição do país no Índice de Liberdade Econômica, o natural seria esperar um desempenho muito superior. Mas o que se vê é uma performance abaixo da média: o país teve uma média de apenas 1, 22 citações por paper publicado em 2018. Hermes-Lima explica: “A Indonésia está fazendo o que o Brasil fez uns anos atrás, que é obrigar os alunos a publicarem muito. Assim, o impacto por paper despenca.” O professor afirma que, recentemente, os órgãos de fomento à pesquisa no Brasil têm voltado a priorizar a qualidade em vez da quantidade. Além da consequência óbvia de que pesquisas de baixa relevância acabavam sendo financiadas pelo contribuinte, o modelo anterior acabava pulverizando os recursos e prejudicando os pesquisadores que se dedicavam a estudos mais complexos e que exigiam mais investimento - justamente os que têm grande potencial de impacto científico.

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O Panamá, por outro lado, é a antítese da Indonésia. Apesar de não se destacar no critério da liberdade econômica, o país obtém bons resultados na pesquisa científica: obteve 5,97 citações por paper em 2018, muito acima do Brasil (cujo índice ficou em 2,4). Uma das explicações para o bom desempenho do país da América Central é seu alto índice de internacionalização, o que ajuda a dar relevância à pesquisa: “Em 2018, quase 90% dos artigos do Panamá tinham colaboração internacional, com coautores de outros países. Isso é um dos segredos da melhora na ciência panamenha”, afirma Hermes-Lima. A produção brasileira ainda sofre com a falta de colaboração internacional, e as diferenças linguísticas não ajudam. “Em torno de 28% dos artigos brasileiros são em português. Isso faz o impacto do Brasil cair um pouco, embora não explique porque o desempenho do país é tão ruim”, afirma o pesquisador.

Indonésia e Panamá são exceções relevantes e que merecem ser analisadas - mas, ainda assim, exceções. Para o Brasil, que patina tanto no Índice de Liberdade Econômica quanto nas avaliações que medem a qualidade da produção científica, o professor não tem dúvida que o caminho mais garantido talvez seja o da abertura econômica de forma a promover a inovação e incentivar o progresso, criando um ciclo virtuoso que tem efeitos positivos também sobre o ambiente acadêmico.

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