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A divulgação do nome de João Vitor Mancini Silvério, de 19 anos, entre os aprovados no vestibular da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), na última quarta-feira, pode ter surpreendido muitas pessoas, mas não seus familiares, amigos ou ele próprio. "Eu sou uma pessoa normal. Posso desfrutar da vida, ser alguém na vida", resume ele, satisfeito em saber que é a primeira pessoa com Síndrome de Down que passa no vestibular no Paraná. É o terceiro em todo país a entrar para o ensino superior, segundo entidades de apoio a pessoas que tem a síndrome.

Estar entre os calouros de Educação Física é só uma das várias vitórias que este adolescente já conquistou – entra na lista que inclui andar de bicicleta, ganhar a chave de casa, voltar sozinho no caminho de retorno da escola. Resultado de uma determinação e paciência ausente em muitas pessoas por aí que têm os normais 46 cromossomos em suas células. "As qualidades de uma pessoa que tem a síndrome são várias, mas dificuldades existem. Precisa ter vontade própria e o apoio de alguém que mostre como vencer as limitações", avalia o recém-aprovado.

O esforço que ajudou João Vitor a chegar à faculdade começou logo que ele era um bebê. Ele freqüentou a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) até completar dois anos, depois passou a estudar em pré-escolas e escolas regulares. Aos três anos começou a ter a ajuda de uma fonoaudióloga – liberado aos 8 anos porque se comunicava bem, voltou a trabalhar com ela há cinco anos, para desenvolver suas habilidades cognitivas. "A pessoa com Síndrome de Down precisa de apoio e não de ser superprotegido ou subestimado como é freqüente acontecer", destaca a fonoaudióloga Maristella Abdala, que tem acompanhado o desenvolvimento do jovem.

Fã do rock da banda CPM-22, noveleiro, jogador de futebol todos os sábados, João Vitor vive intensamente sua adolescência, inclusive as dúvidas comum à fase. Passou em Educação Física, quer trabalhar com deficientes mentais e ser personal trainer. Fã de Michael Jordan, ele pensa também em se tornar um jogador de basquete, mas não descarta a hipótese de cursar Teologia no futuro e ser padre, apesar de já estar namorando há três anos.

"Estou numa fase de reflexão", diz João Vitor. É educado, comportado, estudioso, mas não é modesto. "Os professores me adoravam", conta orgulhoso, lembrando que sabe pintar quadros e dança de salão muito bem. Talvez por estar ciente de sua capacidade, ele nem ficou nervoso no vestibular ou preocupado em conferir o resultado da prova no momento em que foi divulgado. "Estávamos no cinema na hora que a lista entrou na internet, só fui ver às 11 horas da noite", conta.

Nem precisa fazer muito esforço para imaginar a satisfação dos pais do calouro especial da Tuiuti. Quando ele nasceu, a notícia de haver uma probabilidade dele ter a síndrome veio logo que a mãe, Roseli, 48 anos, saiu da sala de parto. "O médico falou uma série de suspeitas de problemas de saúde, por último a síndrome de down e saiu do quarto. Meu marido perguntou o que mesmo ele tinha falado e eu expliquei que era mongolismo, como era mais comum chamarem na época. Não fiquei triste, demos as mãos, rezamos e decidimos avisar toda a família, pedir apoio", conta Roseli.

Hoje, além de um filho vitorioso, eles têm um distribuidor de carinhos. "Todo dia ele me diz que eu estou linda e me enche de beijos", diz. O pai, Gonçalo Silvério Silva, 54 anos, ganha um abraço de 60 quilos a cada viagem que faz. "Quando ele chega, pulo no colo dele", explica João.

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