Metodologias inovadoras trazem uma nova perspectiva para o ensino de matemática e ciências.| Foto: U.S. Air Force

Jovem, introspectivo e com pouco traquejo social? Não mais. O Perfil do estudante de exatas mudou e já não comporta mais este estereótipo. Uma pesquisa realizada em escolas britânicas indica que alunos mais comunicativos têm maior probabilidade de alcançar melhor desempenho nestas disciplinas. 

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A descoberta traz uma nova perspectiva para a noção de que crianças com vocação para ciências exatas teriam um perfil de comunicação diferente daquelas que apresentam habilidades em linguagem e ciências humanas. 

Publicada pela fundação Education Endowment Foundation (EEF), o estudo foi desenvolvido em 78 escolas primárias na Inglaterra com maior incidência de alunos de baixa renda. Utilizando um método chamado de ensino dialógico, professores foram encorajados a fazer perguntas abertas aos alunos, o que permite explorar tópicos mais livremente, em vez de perguntas cujas respostas seriam “sim” ou “não”.

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Antes disso, quase 2,5 mil crianças de 9 a 10 anos foram avaliadas (em matemática, ciências e linguagem) para indicar o seu nível de conhecimento prévio à aplicação do método - a avaliação foi repetida ao final do experimento para mensurar a evolução da aprendizagem dos alunos. Análise feita por pesquisadores da Universidade Sheffield Hallam constatou que os alunos tiveram um progresso em ciências equivalente a dois meses de estudo, quando comparados com estudantes da mesma faixa etária que não participaram do experimento. 

Proximidade 

A relação entre comunicação e ciências exatas também foi explorada em outras pesquisas: estudo publicado em 2016 aplicou questões abertas para discussão em aulas de matemáticas e ciências para incentivar o debate. O resultado foi uma aceleração do progresso dos alunos em até três meses em relação a turmas que não fizeram discussões. 

O uso de discussões no ensino de ciências exatas e da natureza tem relação com as bases do processo científico: por meio da argumentação, aprende-se a elaborar hipóteses, analisar possibilidades e trabalhar de modo conjunto na busca por um resultado. Esta é a ideia defendida pela professora e pesquisadora Lexi Wichelt em seu trabalho sobre a importância da comunicação no ensino de matemática.

“Quero que meus alunos sejam capazes de se comunicar com seus colegas e professores. Se os alunos conseguem comunicar seus passos e responder questões sobre como chegaram à resposta, então eles têm um bom entendimento do tópico”, diz. “Eles precisam ser capazes de analisar o problema, encontrar um método apropriado para resolução e então comunicar esses passos aos colegas ou professores.” 

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Do mesmo modo, um experimento realizado por pesquisadores da Griffith University com uma turma de ensino fundamental nos EUA revelou melhorias de desempenho dos alunos com o uso de métodos que incentivam discussões verbais. – a iniciativa foi realizada durante um ano, no ensino de matemática, com um método chamado de argumentação coletiva, em que os alunos e o professor estabelecem discussões sobre problemas matemáticos e os caminhos para chegar a uma solução. 

No começo do ano letivo, estudantes apresentavam um perfil de raciocínio mais voltado para a aplicação de fórmulas matemáticas na resolução de problemas. Ao final, o perfil geral da turma havia mudado: agora existia um foco maior em discussões coletivas, elaboração de teorias e explicação detalhada dos passos necessários para chegar a uma resposta. 

“Os alunos acharam benéfico poder mostrar seu trabalho e ter a oportunidade de justificar suas escolhas em um ambiente em que todos são valorizados”, afirmam os pesquisadores. 

Ganho conjunto 

Os benefícios também se estendem aos educadores. Com maior participação e interesse dos alunos, o método pode ser uma alternativa para professores que encontram dificuldades no ensino de exatas. É o que indica a pesquisa: “Estudantes que antes não participavam preferiram esse método no lugar de abordagens tradicionais de ensino de matemática. Isso pode ter grandes implicações para professores que estão desiludidos com os métodos tradicionais e precisam envolver novamente os seus alunos.” 

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Com um enfoque maior no processo de resolução de problemas – e no próprio processo de aprendizagem – as metodologias trazem uma nova perspectiva para o ensino de matemática e ciências, sem separação entre essas competências e o desenvolvimento de habilidades em linguagem e comunicação. 

“Fazer as crianças pensarem e falarem sobre a sua própria aprendizagem de modo mais explícito pode ser um dos meios mais eficazes de melhorar o desempenho acadêmico”, diz o executivo chefe da EEF, Kevan Collins. “Aplicar isso na sala de aula não é fácil. Mas apesar de não existir uma estratégia ou truque simples para colocar isso em prática na sala de aula, a avaliação atual do ensino dialógico oferece aos professores e diretores de escolas uma evidência prática de uma abordagem que parece ser eficaz em diversas disciplinas”, conclui.