Instrutora orienta aluno em classe do Kumon nos EUA| Foto: Divulgação / Kumon

Criado em 1954 no Japão, o Kumon completou quatro décadas de existência em território brasileiro nesse ano. A técnica se baseia em quatro pilares: a atenção individualizada, o autodidatismo, progressão gradativa de dificuldade e a presença de orientadores que incentivam os alunos a avançar. O método, que no Brasil oferece aulas de matemática, português, inglês e japonês, é empregado como um complemento ao ensino regular, e não substitui a escola. Mas será que funciona?

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A história do surgimento do método é quase folclórica: conta-se que Toru Kumon, professor do Ensino Médio, criou-o apenas para auxiliar nas dificuldades do filho, Takeshi, em resolver questões de matemática e cálculo básico.  Um entusiasta da autoinstrução por parte dos alunos, Toru Kumon desenvolveu uma rotina de exercícios para que o jovem pudesse, por conta própria, progredir a ponto de sanar qualquer dúvida posterior. Assim, estudando apenas meia hora por dia, Takeshi foi capaz de passar de ano e inspirou o pai a seguir além com a ideia. 

Pouco mais de 30 anos depois, o Kumon desembarcou no Brasil em Londrina, em 1977, onde foi aberta a primeira unidade. 

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A História comprova o sucesso comercial da metodologia: apenas na América Latina, o Kumon está presente em seis países da América Latina e tem filiais em dez unidades da federação no Brasil. No Paraná, são 124 unidade, e outras três devem ser inauguradas no segundo semestre.

No mundo todo, são 4,3 milhões de alunos em mais de 25 mil unidades.

O fenômeno não passou inócuo a especialistas da área, que por anos têm divergido sobre a eficácia de um único jeito ser adequado a crianças e pré-adolescentes de diferentes perfis. O consenso é apenas um, nesse caso: não existe fórmula mágica para o aprendizado. 

 Problemas conceituais 

“É arriscado dizer que um único método se aplique a todos, já que cada criança ou adolescente apresenta uma modalidade de aprendizagem própria”, observa Danielle Gross de Freitas, psicopedagoga do Espaço Mediação, instituição focada em desenvolver estratégias de aprendizagem. “Não é possível generalizar porque aprender abrange uma variedade ampla de aspectos, como a significação, a lógica, o simbólico, a corporeidade, a estética”, analisa ela. 

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O problema se torna mais evidente porque é na infância que costumam ser diagnosticados casos de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou autismo. Para a psicopedagoga Michelle Klaumann Pedrozo, o fato do Kumon ter professores que possuem ensino superior, mas nem sempre na área educacional, torna mais incômoda a situação. 

“Dominar conhecimentos acerca de síndromes e transtornos é essencial para a formação de qualquer educador, independente da especialização do seu trabalho”, destaca. “Compreender o modo particular do aluno aprender e traçar estratégias objetivas e subjetivas, para que construa e reconstrua conhecimentos, é que determinará se uma ou outra metodologia funcionará”, completa. 

Danielle observa que o Kumon é positivo em dois sentidos: autoconfiança e autonomia. “Certamente, ambos são chaves fundamentais para o desenvolvimento humano e para a aprendizagem. Porém, não se trata de uma ‘fórmula mágica’”, conclui. 

A motivação pessoal do aluno e o papel do professor – que no Kumon é reduzido ao de instrutor de exercícios – são dois aspectos considerados importantes que acabam em segundo plano na metodologia. 

Em tese de doutorado apresentada na USP em 2011, Flávia da Silva Ferreira Asbahr ressaltou o quão importante é o papel do docente no conteúdo assimilado pelo aluno. “Sua mediação na atividade de aprendizagem resulta em conduzi-la na direção de teorizar sobre o real”, observa a autora, para concluir: “O professor, como adulto experiente e com finalidades claramente delimitadas, deve realizar ações que criem motivos para o estudo”. 

 Elogios ao método 

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Para Priscila Chupil, mestre em Educação e professora da graduação em Pedagogia à distância da Universidade Positivo, o Kumon traz dentro do método uma metodologia consistente e apresenta ótimos caminhos para a sistematização, memorização e evolução da aprendizagem. 

“Talvez a lacuna apareça para alguns alunos na memorização”, observa. Na visão da especialista, o aspecto da metodologia incentivar a autoinstrução é algo a ser louvado. “Trabalhar com autonomia torna a criança capaz de caminhar por si e superar obstáculos, mas é um trabalho que precisa ser acompanhado, respeitando a faixa etária e a capacidade cognitiva de cada um”, aconselha. 

O sistema de aprendizado gradativo – com exercícios cujo nível de dificuldade muda a partir do progresso do aluno – é estimulante e positivo, na visão da especialista. “Também considero positivo, pois gradativamente o aluno vai ampliando seu conhecimento e se expõe a novos desafios e a superar-se, conforme sua capacidade cognitiva”, elogia. 

A ressalva de Priscila é a mesma de boa parte dos educadores: diferentes pessoas exigem diferentes estratégias de ensino. “O encaminhamento que é dado a cada caso de dificuldade de aprendizagem difere conforme seu grau”, observa a psicopedagoga, que faz ainda um alerta: “não se deve generalizar como um método eficiente para todos e universal. Pode funcionar para alguns e para outros não”. 

Em relação ao trato com alunos que possuam autismo ou TDAH, Priscila acrescenta que a rotina é fator crucial para “ele se sentir seguro”, assim como um diagnóstico de avaliação psicopedagógica que auxilie na escolha de um bom profissional, apto a auxiliá-lo em aulas de reforço. “A rotina de estudo e de hábitos facilita a organização da vida do estudante e contribui para seu processo de aprendizagem. Aprender com autonomia e tornar o aluno responsável pela própria aprendizagem é a grande tendência e necessidade da sociedade atual”, avalia.