Cinquenta alunos da Escola Municipal Cândido Portinari produziram um filme em uma semana| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Docência

Ensinar "nativos digitais" é desafio para professores

O ensino de técnicas para a produção de vídeos na escola faz parte de uma mudança na cultura docente, explica a professora Suyanne Souza, dos cursos de Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Segundo ela, desde os anos 1980 se faz uso de televisões e vídeos em sala de aula, mas, cada vez mais, a educação é feita "para" os meios, e não apenas "com" os meios. "Aprender a fazer confere uma visão mais crítica daquilo que você assiste", afirma.

Para Suyanne, os docentes atuais passam pelo desafio de se atualizarem o tempo todo no uso das mídias, já que dão aulas a "nativos digitais", alunos habituados a conviver com as novas mídias desde a primeira infância.

Há, no entanto, cuidados a serem tomados nessa tendência, alerta o professor Alexandre Rafael Garcia, que ministra oficinas de Cinema no Colégio Medianeira. Segundo ele, por gostarem tanto de vídeos, crianças e adolescentes tendem a supervalorizar o audiovisual, em detrimento de outras linguagens como a escrita e a oral, por exemplo. Por isso, Garcia destaca a necessidade de se vincular a história das linguagens artísticas como um todo à produção de vídeos. "O Cinema possui uma linguagem própria, mas que é muito vinculada a todas as outras – Literatura, Teatro, Música, Fotografia etc." Garcia considera que há uma profunda relação, por exemplo, entre a alfabetização e o ensino de audiovisual, mas essa proximidade nem sempre é destacada.

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Produzir, gravar e exibir um filme de animação em apenas cinco dias é o desafio proposto aos alunos da Escola Municipal do CAIC Cândido Portinari, na Cidade Industrial (CIC), e da Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag, no Cajuru. Cinquenta alunos de cada escola foram selecionados para participar do Cine Escola, um projeto itinerante financiado pela Fundação Telefônica Vivo, que oferece o ensino de técnicas audiovisuais a crianças do ensino fundamental.

Neste curto espaço de tempo, os estudantes são envolvidos numa rotina intensa – e divertida – de atividades. Depois de um primeiro momento assistindo a vídeos e habituando-se às linguagens do Cinema, eles partem para a criação de roteiro, confecção de cenário e personagens – feitos de cartolina, papel ou massinha –, filmagem e edição. No último dia é feita a exibição do material na escola.

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"Nosso filme fala de uma floresta que nasceu bonita, mas que depois foi queimada e apareceu uma cidade em seu lugar", conta o aluno Gian Lucca do Amaral, 12 anos, enquanto recorta de uma revista os animais para a animação. A oficina da qual participou é apenas uma das frentes do projeto.

Segundo a coordenadora da iniciativa, a cineasta Marina Santonieri, além de ensinar princípios básicos do Cinema, o Cine Escola monta espaços específicos para a exibição de filmes, os cineclubes, e oferece workshops sobre o uso de recursos audiovisuais aos professores da rede pública. "Consideramos o audiovisual uma ferramenta superimportante para lidar com todos os temas. É um recurso que sensibiliza, inclusive, em assuntos mais polêmicos na escola, como a questão do bullying", diz.

Tendência

O método e o alcance do Cine Escola chamam a atenção – em um ano ele já passou por nove estados – mas o incentivo à produção audiovisual tem se tornado prática comum em várias instituições de ensino. Atentas à facilidade de filmar qualquer coisa com um celular, e ao hábito de postar vídeos na internet, as escolas sabem que o assunto atrai os estudantes e pode ser usado para a aprendizagem de múltiplas disciplinas.

No Colégio Marista Pa­­­­ra­na­ense, por exemplo, os alunos produzem videoclipes nas au­las de inglês. Os materiais são julgados, distribuídos em categorias e os selecionados participam do "Marista Music Awards", um evento para exibir as produções, aberto a pais e familiares dos alunos.

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Nas aulas de artes, os alunos do Colégio Novo Ateneu contam histórias familiares usando massa de modelar. Fotografam várias cenas e depois as imagens para montar um filme em um programa de edição de vídeo. Há ainda as instituições que optam por manter um programa fixo de ensino de audiovisual como opção extracurricular, como faz o Colégio Medianeira.

Também há no estado o projeto Cinema Nosso, vinculado à Faculdade de Artes do Paraná (FAP). A iniciativa promove um olhar crítico sobre a narrativa cinematográfica em comunidades carentes e escolas públicas.