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Divulgado no último dia 3 de maio, o resultado do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) ainda está dando o que falar no meio acadêmico. Opiniões contrárias ao sistema de avaliação demonstram que a questão ainda não foi totalmente aceita por professores e estudantes, enquanto avaliações mais aprofundadas do exame demonstram que é necessário cautela para enxergar os reais resultados.

A primeira edição do Enade foi aplicada no ano passado e substituiu o antigo Provão, obrigatório para os formandos dos cursos selecionados. A idéia do governo era mudar completamente a avaliação, mas há quem acredite que pouca coisa foi alterada. O exame é composto por 40 questões, 10 de conhecimentos gerais e 30 de conhecimentos específicos do curso. As questões gerais são iguais para todos os cursos. A mesma prova foi aplicada para estudantes ingressantes e concluintes, ou seja, calouros e formandos.

Na opinião do professor de Economia e Serviço Social da PUCPR, Lafaiete Neves, o Enade não avalia completamente a formação do estudante universitário. O professor cita diferenças regionais, disparidades em grades curriculares e até as dimensões continentais do Brasil como barreiras que o Enade não conseguiu transpor. "O Enade é feito por professores do sul e do sudeste do país e não analisa a realidade da universidade, a estrutura, a titulação e a produção do corpo docente, ou seja, acaba nivelando por baixo as instituições de ensino superior", diz.

Para Neves, outra falha do Enade é justamente um dos pontos criticados do extinto Provão, a atribuição de notas para os cursos. Os estudantes ficam então marcados para o resto de suas vidas com o desempenho do curso na avaliação, o que refletiria na procura de emprego ou cursos de pós-graduação. Além disso, o sistema criaria distorções, como nos casos em que estudantes boicotam a prova por motivações políticas ou ideológicas e acabam deixando o curso com uma nota baixa. O presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe), José Manoel de Macedo Caron Júnior, também acredita que os dados do Enade podem gerar distorções. "Alguma forma de avaliação tem que ter, mas é preciso tomar cuidado ao analisar os dados", conta.

Caron dá como exemplo as diferenças de desempenho entre instituições particulares e públicas. O número de alunos participantes no Enade foi de 143.170. Deste total, 73,8% eram da rede particular de ensino superior. Assim, é natural que as instituições particulares pareçam ter uma qualidade menor do que as públicas. Para o presidente do Sinepe, as amostragens deveriam ser iguais para todos os setores. Resumindo: é preciso uma avaliação profunda dos dados retirados do Enade para que a realidade não seja mascarada.

O presidente da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes), o professor Hélgio Trindade, rebate as críticas e afirma que a primeira edição do Enade não pode ser analisada sozinha. Ela faz parte do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), um processo maior que compreende também uma auto-avaliação e uma avaliação externa das instituições. "Em três anos nós teremos avaliado todos os cursos, de todas as áreas existentes, e todas as instituições. Esse sistema permite lançar um olhar sobre a instituição, sobre o curso e sobre o aluno, diferente do Provão, que só avaliava o aluno", explica. Quanto ao suposto caráter punitivo da prova, Trindade responde que a função do Enade não é punir nem premiar, mas mostrar às instituições como melhorar.

A primeira edição do Enade foi realizada em 7 de novembro de 2004. As áreas avaliadas foram: Agronomia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional e Zootecnia. Foram 155.654 inscritos no total, sendo que 95.766 foram ingressantes e 59.888 concluintes. Também 918 estudantes fizeram o exame como voluntários. A próxima edição do Enade acontece em 6 de novembro deste ano. Serão avaliados os cursos das áreas de Arquitetura e Urbanismo, Biologia, Ciências Sociais, Computação, Engenharia, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras, Matemática, Pedagogia e Química.

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