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| Foto: Joseph WilliamsFlickr/Creative Commons

Universidades se tornaram importantes campos de batalha nas guerras culturais americanas. Conservadores protestam contra a “monocultura esquerdista” no meio acadêmico, liberais denunciam a “obsessão” conservadora com os campi universitários, e o ar rapidamente é preenchido com o calor da recriminação mútua. 

No meio do fogo cruzado, alguns analistas liberais têm oferecido interpretações moderadas e embasadas dos problemas acadêmicos. Eles apontam que, apesar das faculdades terem tendências fortemente à esquerda, é raro que estudantes sejam doutrinados “com sucesso” pelos professores progressistas. 

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Outros percebem que já há um certo grau de diversidade de pontos de vista em algumas áreas acadêmicas, já que professores com tendências de direita prevalecem em departamentos como o de economia e direito.

Há alguma verdade nesses argumentos, apesar de eu manter a ideia de que muitos ambientes universitários estão de fato sufocando a liberdade intelectual. 

(Um exemplo pessoal: quando escrevi um texto para o jornal da minha universidade defendendo a Literatura Ocidental, fui prontamente acusado de ter sido “doutrinado pela supremacia branca”. Não é necessário dizer que ninguém gosta de ser acusado desse tipo de coisa.) 

Mas outro ponto de vista em comum entre muitos liberais defende que, mesmo que haja um problema de homogeneidade ideológica nas universidades, ela é artificialmente amplificada pelo vício da ala direitista da imprensa de cobrir os excessos da cultura universitária de esquerda.

É claro que os “Safe Spaces” (lugares autônomos criados por indivíduos que se sentem marginalizados), “Trigger Warnings” (avisos da existência de materiais que podem ser perturbadores para algumas pessoas) e ataques histéricos a respeito de fantasias de Halloween podem ser chatos, mas eles não merecem o incansável fluxo de páginas de opinião, segmentos da Fox News e notícias com histórias direitistas condenando “esquerdistas ultra sensíveis” e “professores radicais”. 

Os bandos da justiça social podem ser assustadores, mas a influência deles está limitada a um pequeno setor da sociedade: universidades. 

Aqui eu argumentaria de forma contrária: enquanto os meios de comunicação conservadores provavelmente gastam muito tempo criticando os absurdos que acontecem no meio universitário, as questões importantes que são debatidas nos campi ainda assim devem ter um grande impacto no futuro do nosso país. 

Consequentemente, elas deveriam receber uma quantidade significativa de atenção. Afinal de contas, o meio acadêmico exerce uma influência enorme na nossa cultura; as ideias que nascem dentro de seus muros raramente permanecem restritas ao seu interior.

Universidades, além disso, treinam nossos advogados, educadores, executivos, gerentes e jornalistas. As crenças com as quais os estudantes de graduação são inseridos em suas profissões vão, inevitavelmente, moldar os contornos de nossas instituições. 

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Ideias que se originam no meio acadêmico frequentemente se espalham na sociedade em uma espécie de osmose. “Homens práticos que acreditam ser isentos de qualquer influência intelectual”, diz a velha citação de John Maynard Keynes, “são normalmente os escravos de algum economista defunto. Loucos em posição de autoridade, que ouvem vozes no ar, estão destilando a loucura de um escritor de qualidade duvidosa, que estava na faculdade alguns anos atrás”. 

Suas observações não estão confinadas à economia; muitas ideias sobre outras questões políticas também são difundidas dentro das universidades. 

O exemplo mais claro desse fenômeno é visto em como a interseccionalidade – uma ideologia acadêmica, se é que um dia existiu uma – tem influenciado movimentos de protesto a respeito de questões de raça.

A ideologia Black Lives Matter (BLM), um dos movimentos de protesto mais importantes da esquerda, mostra claros sinais de ter sido moldado por correntes intelectuais eruditas. 

A plataforma do BLM faz claras referências à política econômica marxista, declarando “que o capitalismo patriarcal, explorativo, o militarismo, e a supremacia branca não conhecem fronteiras” e que seus membros “se levantam em solidariedade a nossa família internacional contra a devastação do capitalismo global e do racismo anti-negros, as alterações climáticas causadas por ações humanas, guerra e exploração”. 

O movimento tem uma dívida com a interseccionalidade também, como podemos inferir da afirmação “as vidas de negros gays e trans, pessoas com deficiências, pessoas sem documento, pessoas com antecedentes, mulheres, e todas as vidas negras ao longo do espectro de gênero”.

Esses não são apenas pontos retóricos abstratos: eles são traduzidos nas demandas políticas do movimento. O BLM, por exemplo, acredita que “a humanidade e a dignidade negras necessitam de desejo e poder político”, pede que a educação superior seja grátis para estudantes negros e argumenta que americanos negros deveriam receber uma forma de renda universal básica. 

O que quer que alguém pense das proposições políticas do BLM, elas são, indiscutivelmente, influenciadas por uma ideologia interseccional com raízes profundas no meio acadêmico. Se o BLM conseguir produzir mudanças políticas com sucesso, essas mudanças terão uma dívida intelectual com a influência dos teóricos interseccionais no meio acadêmico. 

O BLM não é um caso isolado. O mesmo argumento básico poderia ser feito sobre as posições de esquerda que rodeiam as outras duas questões acadêmicas do momento: liberdade de expressão e política de gênero.

Novamente, as questões importantes desses debates (alguém deveria defender a liberdade de expressão de pessoas ofensivas? O gênero é uma construção social? Se não, como nossas políticas deveriam refletir as diferenças sexuais biológicas?) caminham para ter consequências sérias para a nossa sociedade. 

O meio acadêmico não é a única força que guia as políticas americanas, é claro, mas o que acontece no campus raramente fica apenas lá. Apesar da cobertura às vezes hiperbólica da esquerda acadêmica, a verdade é que há muito mais em jogo nos debates universitários sobre liberdade de imprensa, justiça racial e desigualdade de gênero.

©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

Tradução: Carlos Eduardo Carvalho.

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