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Encher as crianças de atividades complementares, como cursos de línguas, danças e esportes, ou mesmo cercá-las de muitos cuidados, pode comprometer o bem-estar delas. Em entrevista à repórter Anna Simas, a doutora em psicologia da educação e professora da Universidade de São Paulo (USP) Sílvia Colello comenta o overparenting, como esse comportamento é conhecido nos Estados Unidos:Qual a principal causa do aumento do overparenting?

Isso ocorre porque a sociedade está cada vez mais competitiva. Os pais têm uma preocupação enorme em preparar seus filhos para o mundo, mas é muito difícil achar um equilíbrio entre todas as atividades porque cada criança tem seu limite e cada família seu grau de exigência. Então, às vezes, pode acontecer um excesso, já que não existe uma fórmula exata de preparação do filho.

Quais são as características que demonstram que os pais passaram do limite ao impor muitas atividades aos filhos?

É a criança que dá o tom, o feedback. Se ela anda irritada, cansada, passa a não levar nada a sério e a fugir das responsabilidades, esses podem ser sinais de que está muito atarefada e de que há um excesso na educação.

Como os pais podem diferenciar o esgotamento da preguiça?

Se a criança faz diversas atividades e está, de certa forma, resistindo, não tem como ser preguiça. Os pais têm que ter a sensibilidade para perceber isso. Já vi adolescentes que se sentem motivados e felizes em fazer muitas tarefas. Mas no caso das crianças pequenas existe uma desvalorização do tempo livre para brincar. Os pais acham que elas não aprendem enquanto brincam, o que não é verdade. A brincadeira é fundamental para o desenvolvimento da inteligência, da so­­cialização e da compreensão de mundo. Chega a ser tão importante quanto realizar uma atividade ligada ao ensino.

O excesso de atividades impostas pelos pais pode ter reflexo na aprendizagem?

Sim. A criança vai ficando saturada e pressionada. Uma forma de lidar com isso é garantir uma certa variedade. Se a criança faz várias atividades esportivas, pode passar a fazer uma artística. O problema é quando ela só faz cursos de línguas, por exemplo, ou só esportes.

Pais de filho único ou de filhos tardios têm tendência ao overparenting?

Acredito que não. Existe de tudo. Os pais fazem isso bem intencionados, querem acertar. Eles entendem que o mundo é uma corrida, uma competição, e querem seus filhos à frente dela. Tem também as famílias que utilizam as atividades como papel de guarda, por não terem onde deixar seus filhos enquanto trabalham.

O overparenting também tem a ver com vaidade pessoal?

Passa por isso sim. E tem a ver também com projeção. Aquele pai que não foi um bom jogador de futebol vai colocar o filho na aula desde cedo para fazer o que não fez. É uma ideia equivocada dar a ele aquilo que ele não teve e que fez falta.

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