“Agora não estou precisando mais, porque já melhorei bastante.” Cristian Lucas Prizytocki, 7 anos, estudante da 2ª série que, durante parte deste ano, usou o caderno de caligrafia| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

Para escrever

Os especialistas que defendem o caderno de caligrafia ressaltam alguns aspectos que tornam esse tipo de exercício importante. Confira:

- Controle da pressão da mão

- Observação e aprimoramento do traçado

- Diferenciação de letras maiúsculas e minúsculas

- Em casos extremos de ilegibilidade

- Nunca em forma de castigo, punição ou repetição.

CARREGANDO :)

Na lista de materiais escolares, o caderno de caligrafia é um item que não aparece há algum tempo. Temido por ter sido usado como castigo no passado, o exercício agora tem aplicação restrita. É adotado por algumas escolas apenas quando a criança apresenta dificuldades na escrita. Muitas vezes nem o caderno de brochura chega a ser usado, mas folhas pautadas soltas ou encadernadas no estilo apostilado.

O estudante Cristian Lucas Prizytocki, 7 anos, fez uso do caderno de caligrafia nas aulas de reforço, durante o semestre passado. "Agora não estou precisando mais, porque já melhorei bastante", conta. A coordenadora da educação infantil da Escola Nova Geração (onde o menino estuda) Evelin Baranhuke, explica que a dificuldade de Cristian estava com o traçado das letras.

Publicidade

A caligrafia, assim como outros exercícios relacionados à coordenação motora fina (que influencia no traçado), é adotadana escola para alunos desde o 1º ano do ensino fundamental. "Muitas escolas construtivistas fecham os olhos para a questão da legibilidade, da limpeza da letra. Isso também é importante. E a caligrafia pode ser utilizada de maneira prazerosa, junto com outros métodos", defende.

Mecânicos

Nas escolas da rede municipal de Curitiba a caligrafia não é regra, mas recomendação, de acordo com a diretora de ensino fundamental da prefeitura, Nara Luz Salamunes. "Os professores são orientados a fazer exercícios que não sejam mecânicos, mas sirvam para o aprimoramento da letra. É preciso que o texto escrito à mão tenha legibilidade para não trazer dúvida ao leitor", explica.

O método também é usado nas escolas da rede Dom Bosco. O objetivo é a melhoria da destreza gráfica, como explica a orientadora educacional Cristiane Sliva. "Não acreditamos que resolva a questão de erro de escrita, mas traz legibilidade e organização espacial. A caligrafia deve ser utilizada com os outros métodos que trabalham a coordenação motora", afirma.

A professora de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Ermelina G. Bontorin Tomacheski ressalta que recentes pesquisas indicam necessidades que surgiram pela falta de um trabalho de caligrafia em algum momento da escolaridade. "O caderno de caligrafia não pode ser totalmente condenado. Não é necessário submeter a criança ao trabalho penoso, sem sentido e no início da alfabetização. Mas depois dessa fase é bom como um exercício de aprimoramento da escrita. Por mais que a tecnologia facilite esse processo, em algum momento da vida, as pessoas irão ter de escrever nem que seja um bilhete à mão", diz.

Publicidade

Ermelina acredita que se a caligrafia carregar o significado de prazer, da manutenção de um caderno bonito, desenhado, pode ser produtiva. "A questão não é ter letra bonita ou feia, mas sempre existe o aspecto legível, que é importante. Sem contar que a letra também é um reflexo da personalidade e da liberdade de expressão. Ou seja, cada um vai desenvolver seu próprio estilo", diz.

Limitação

A professora aposentada Terezinha Rodrigues de Oliveira, com 30 anos de experiência no magistério, também considera a caligrafia válida. Mas ela tentou usar as tradicionais tarefas do caderno de caligrafia com o neto Rodrigo, hoje com 27 anos. "Não adiantou muito para a letra dele. Até agora, depois de ele estar formado, é difícil de entender o que escreve", diz.

Já para a orientadora educacional das Escolas Positivo Gilciane Baggio Ortolani, o uso desse tipo de caderno no momento em que a criança está iniciando o traçado das letras limita a escrita. Ela diz que até o 1º ano do ensino fundamental as crianças escrevem em a caixa alta (ou letra de forma) como maneira de expressão. Na fase de passagem da letra de forma para a manuscrita, são utilizadas atividades grafomotoras. "Ocorre em folhas maiores, com linhas do tamanho do caderno mesmo. O atendimento é feito de maneira individualizada pela professora, sem tracejado nem movimento obrigatório", afirma. Gilciane ainda ressalta que as letras das crianças oscilam muito na fase inicial da alfabetização. "Só na 3ª série que vão definir melhor o estilo da escrita. O caderno de caligrafia não muda isso", diz.