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Os entrevistados elegeram alguns livros que contribuem para o desenvolvimento intelectual. Confira |
Os entrevistados elegeram alguns livros que contribuem para o desenvolvimento intelectual. Confira| Foto:
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Opinião

Saiba como alguns estudantes e a orientadora educacional do ensino médio do Colégio Dom Bosco, de Curitiba, avaliam o comportamento em sala de aula:

"Tínhamos um colega que sofria com os apelidos. Ele não aguentou e acabou saindo da turma. Como tivemos muitas palestras sobre bullying no colégio, os alunos se arrependeram e foram pedir desculpas."

Maria Carolina Ronkoski, 13 anos.

"Eu tenho amigos que fazem coisas que não são legais, respondem ao professor com ironia, por exemplo. Eles se acham superiores e querem chamar a atenção. Eu já defendi professor. O aluno que o estava provocando era meu amigo e não ficou chateado."

Stefhany Lovato, 15 anos.

"O comporta­mento dos adolescentes está mu­­dan­­do, por mais que te­­nha­­mos algumas trans­gressões. Hoje não temos a suspensão, o pro­­blema com o aluno é resol­­vido dentro da escola."

Francisca Maria de Fauw, orientadora educacional.

"Uma vez vi o programa CQC falando do livro Como se tornar o pior aluno da escola. Uns dias depois estava em uma livraria e peguei a obra para dar uma olhada. Não achei nada demais, encarei tudo aquilo como uma brincadeira."

Rodrigo Gabriel Fett, 15 anos.

Quando a artesã e professora Laís Ferelli da Cruz ouviu o filho de 14 anos e um amigo dele rindo no banco de trás do carro com um livro aberto nas mãos, passou a prestar atenção no que os garotos estavam conversando. "No momento em que um deles falou que ia levar um martelo para a escola, eu questionei do que se tratava", conta Laís. Os estudantes liam uma obra que ensinava todas as "brincadeiras" que po­­dem ser feitas na escola, trazendo lista de apelidos para colocar nos colegas e dicas para sacanear professores e diretores. Revoltada, Laís devolveu o exemplar para a livraria e fez uma reclamação ao Ministério da Educação (MEC) e à editora responsável pelo material. "É um livro que faz apologia ao crime, ensinado a montar bombas para colocar na sala de aula ou na cadeira da professora e a passar trotes no 190 da polícia", exemplifica.Autor do livro em questão, Como se tornar o pior aluno da escola, o repórter do programa CQC (Custe o Que Custar), da emissora Band, Danilo Gentili, diz que se trata simplesmente de um material de humor. "Meu objetivo é vender livro. Então trabalhei e escrevi esse. Se o objetivo dos pais e da escola é que seus alunos não sejam expulsos e tenham comportamento exemplar, eles que trabalhem pra isso", diz. Depois de receber reclamações sobre a obra, o Ministério Público obrigou a editora a colocar um selo na capa, dizendo que se tratava de uma leitura inadequada para menores de 18 anos. Para o autor, isso só ajudou no marketing da obra.

Conteúdos inapropriados enchem prateleiras em livrarias e bancas de revistas, e são encontrados com facilidade por qualquer um na internet. Por isso especialistas aconselham os pais a estarem atentos ao que o filho lê e a conversarem a respeito dos interesses do adolescente. "Eles devem conversar sobre a leitura, e não mostrar preconceitos. São oportunidades para discutir questões de valor e para compartilhar as próprias experiências", afirma o psicólogo Rubens Marcondes Weber.

O fato de o jovem estar se interessando pela leitura deve ser considerado positivo, avalia a pedagoga Elisa Dalla Bona, professora de Pedagogia da Uni­­versidade Fede­ral do Paraná (UFPR). Se a revista ou o livro trouxerem conteúdos considerados inadequados, é fundamental conversar a respeito. "Se um adolescente é proibido pelos pais de ler algum livro, vai acabar lendo escondido. A proibição é o pior caminho. Em vez de se indignar, é melhor conversar e tentar entender o motivo de o filho ter se interessado por aquela leitura. Os livros são ótimos para falar de assuntos que as famílias têm dificuldade de abordar, como o racismo e o homossexualismo", diz.

A psicóloga e doutora em Educação Helga Loos lembra que não é possível manter os filhos o tempo todo afastados de tudo o que se considera nocivo. "Não podemos mantê-los em redomas", afirma. Em relação ao livro que "ensina" alunos a se tornarem os piores na escola, Helga dá um conselho: "Podemos levar os adolescentes a encarar obras como esta de forma crítica, procurando descobrir o que faz com que a criança ou o jovem venha a apreciar ou reproduzir coisas que são, em princípio, execráveis", diz.

A figura do valentão que intimida os colegas, porém, não é o único problema que precisa da atenção dos adultos. "O aluno que faz mais barulho e apronta merece ser observado e até punido, mas o que está oprimido, quietinho, precisa ser apoiado e ouvido. Muitas vezes aquele adolescente que está em silêncio e reprimido pelo grupo é o que vai ter a resposta mais violenta em algum momento", diz Weber.

* Colaborou Anna Carolina Azevedo, especial para a Gazeta do Povo.

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