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A Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a unidade mais tradicional da Universidade de São Paulo (USP), aprovou nesta quinta-feira (31), por "aclamação" (unanimidade), recomendação para que a USP adote cotas raciais. A declaração, que deve seguir para o Conselho Universitário, pode ser o primeiro passo para que a instituição comece a discutir esse tipo de ação afirmativa.

A recomendação foi votada na Congregação da faculdade, que reúne professores e alunos. A reunião teve a participação de representantes do movimento negro, que defenderam as cotas. "Esse é um passo muito importante porque reconhece que o debate sobre cotas está amadurecido e que os programas da USP não alteram a desigualdade entre brancos e negros", afirma Clyton Borges, do movimento Uneafro Brasil. A Uneafro faz parte da Frente Pró-Cotas, que reúne 70 organizações do movimento negro e fomentou a discussão.

A USP não adota sistema de cotas ou mesmo bonificação para negros no vestibular. A universidade mantém apenas um programa de inclusão para estudantes da rede pública e o considera satisfatório. Mesmo após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir pela legalidade das cotas, fortalecendo o debate do tema, a USP não cogitou discutir o tema.

Para o professor de Direito Marcus Orione, existe um grande valor simbólico a primeira declaração oficial pelas cotas na USP ter saído do Largo São Francisco. "A decisão nos faz resgatar a história da faculdade em defesa da democracia. Temos uma unidade onde não há negros".

A Faculdade de Direito foi fundada em 1827 e hoje é uma das maiores unidades da USP, com cerca de 2,5 mil alunos. Calcula-se que apenas 2% são negros. O estudante Danilo Cruz, de 22 anos, é um deles. "Isso é importante para que outras unidades tomem posição parecida e o tema ganhe força no Conselho Universitário", diz ele, do 3º ano.

Em 2007, após ocupação da faculdade por movimentos sociais, houve um protocolo para que a recomendação das cotas fosse discutida na congregação, como ocorreu nesta quinta-feira. Na época, o então diretor (e hoje reitor) João Grandino Rodas não apresentou ao grupo, o que causou estranhamento dos professores. Quando eleito, Rodas prometera que as cotas seriam "discutidas" no conselho, mas só foi falado de forma marginal em debate sobre o programa de inclusão.

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