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O formando de Design Gráfico Bolívar Escobar reclama de que a greve atrapalha até quem espera ser contratado pela empresa em que faz estágio | Antônio More / Gazeta do Povo
O formando de Design Gráfico Bolívar Escobar reclama de que a greve atrapalha até quem espera ser contratado pela empresa em que faz estágio| Foto: Antônio More / Gazeta do Povo

Relato

Panelas, colchões e All Star

Texto de Anna Simas, repórter do Vida na Universidade

Ao abrir a porta principal do prédio da Reitoria – ocupado por estudantes desde o início de julho –, a primeira imagem é de enormes panelas de alumínio que esquentam o almoço. Com uma cozinha improvisada no térreo, é ali, bem no hall de entrada, que os alunos fazem suas refeições. Os balcões foram afastados e deram lugar a cadeiras, violões e diversos cartazes que, inclusive, tampam todos os vidros – o que impede que curiosos vejam da rua o que se passa lá dentro.

Nos outros andares a imagem é semelhante. Vários tênis All Star largados pelo chão indicam que ali agora não estão mais reitores e pró-reitores da Universidade Federal do Paraná, mas sim jovens dispostos a reverter a ordem para conquistar o que desejam.

Em uma das salas, eles montaram uma espécie de assessoria de comunicação. É ali que conversam com outros setores da instituição e da sociedade. A sala de reuniões – onde costumam ser tomadas as decisões mais importantes da universidade e estão os quadros de antigos reitores da instituição – está com o chão repleto de colchões, travesseiros e cobertores.

Um cartaz grudado na porta indica que é o local onde os estudantes têm passado suas noites de protesto: "Tire o tênis antes de entrar. Queremos dormir limpinhos".

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"Sensação de desânimo"

Hugo Harada/Gazeta do Povo

Embora esteja no 1º ano do curso de direito da UFPR e bem longe de se formar, o estudante Jonatha Rafael Pandolfo (foto) também se sente prejudicado pela greve. "Na primeira semana de aula disseram que as greves eram raras. Agora, que já dura dois meses, estou desapontado. A gente faz o maior esforço para entrar em uma universidade federal, fica ansioso para estudar e aí acontece isso. Dá uma sensação de desânimo."

A greve dos professores das universidades federais completa, amanhã, dois meses embalada pelo apoio da paralisação dos servidores e pela mobilização de estudantes. Com o calendário letivo cancelado, além de haver a necessidade de repor aulas em períodos de férias, alunos dos últimos anos de graduação convivem com o fantasma do atraso da formatura.

Para que as datas de colações e bailes não tenham de ser alteradas, as aulas têm uma data-limite para serem retomadas. Conforme Pedro Luís, assessor comercial da Polyndia, empresa especializada em organizar formaturas, esse prazo seria o final de agosto. Assim, as cerimônias seriam mantidas entre fevereiro e abril, como costuma ocorrer com os cursos da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Caso a greve se prolongue, além da preocupação com o trabalho de conclusão de curso (TCC), os formandos terão de negociar novas datas com os locais de festa.

Para os estudantes que se formam agora, no meio do ano, a situação é diferente. Mesmo com a continuidade das aulas, alguns obstáculos ocorreram no meio do caminho. Na colação do curso de Tecnologia em Gestão da Qualidade da UFPR, por exemplo, os professores não puderam usar suas becas. Isso ocorreu porque as vestimentas estão no prédio da Reitoria, que está tomado desde 3 de julho por estudantes que defendem a greve.

Para impedir que aconteça o mesmo em sua formatura, a turma de Medicina, que terá a colação no final deste mês, planeja pagar o aluguel das becas dos docentes caso a Reitoria permaneça invadida até lá.

TCC

A falta de orientação para o TCC durante o período de greve também tem irritado os estudantes. A maioria dos orientadores aderiu à paralisação. Isso fez com que os trabalhos que devem ser concluídos até o final do ano ficassem parados. "Não tem mais data prevista para a entrega. Não sabemos quando será nossa banca. O problema é que esse atraso prejudica tudo, principalmente quem precisa se formar para ser contratado no estágio. É uma reação em cadeia", conta o estudante do último ano de Design Gráfico Bolívar Escobar.

Em 60 dias de greve, as atividades acadêmicas não foram as únicas prejudicadas. Por causa da ocupação da Reitoria, a Pró-Reitoria de Planejamento e Finanças (Proplan) ficou sem funcionar e não pagou alguns fornecedores e empresas terceirizadas – como a de segurança – nem repassou bolsas aos alunos – como de permanência, alimentação e extensão.

Conforme a assessoria da universidade, os pagamentos referentes a esses benefícios foram feitos para solicitações que chegaram até o dia 3 de julho. Pedidos posteriores a essa data não serão atendidos até que a Proplan volte a funcionar normalmente.

UTFPR adota medidas para ajudar formandos e intercambistas

Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), os alunos que estavam para se formar neste mês puderam optar em ficar em greve ou continuar com as aulas e os trabalhos finais. Segundo a assessoria da instituição, para que concluíssem o curso, os formandos tiveram aulas ou fizeram trabalhos valendo como nota do semestre. A reitoria ainda não tem o balanço de quantos cursos adotaram esse sistema, mas garante que, até agora, ninguém teve a formatura prejudicada.

Alunos inscritos no programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal, também foram tratados de forma diferenciada. Para participarem do intercâmbio neste semestre, eles teriam de ter concluído uma carga horária específica. A UTFPR informou que, mesmo com a greve e com as disciplinas atrasadas, eles ingressarão no programa normalmente.

>>> E você, como está sendo prejudicado pela greve?

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