Wagner Batella conseguiu parceria com a polícia mineira e participou da criação de curso para policiais, grupo de pesquisa e especialização em Criminologia.| Foto: Divulgação / UFFS

Frase

"A universidade não tem respostas prontas. Deve fazer pesquisas, levantar hipóteses e fazer diagnósticos que permitam a tomada de decisões. Isso com a manutenção da independência e autonomia da produção científica e intelectual."

Pedro Bodê, sociólogo e professor da UFPR.

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Como a universidade pode ganhar espaço dentro das instituições policiais e contribuir com o fim da violência? Que pesquisas podem ser desenvolvidas?

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Em prática Dissertação é usada pela Polícia Militar nas ruas de Floripa

A sugestão de uma dissertação de mestrado em Engenharia Civil na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ganhou as ruas depois de ter sido incorporada pelo 7.º Batalhão de Polícia Militar (BPM), de Florianópolis. O capitão da PM e doutorando em Arquitetura, Miguel Ângelo Silveira, criou um relatório de vistoria residencial com 60 itens. O policial usa o "check-list" para inspecionar residências ou estabelecimentos e identificar pontos frágeis a serem corrigidos. "O atendimento é feito conforme o agendamento e tem tido procura intensa. Nos três primeiros dias, recebemos mais de 60 telefonemas. Agora vou continuar com os estudos nessa linha no doutorado", diz.

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Câmeras de vigilância têm potencial de se tornarem grandes parceiras da polícia para inibir a violência. Para que não haja uma falsa sensação de segurança em torno desse tipo de equipamento, é preciso monitoramento adequado e novos métodos que aproveitem ao máximo os recursos disponíveis. Nesse contexto, a universidade pode ser o berço de boas ideias e soluções inovadoras para que novas tecnologias sejam aproveitadas efetivamente.

Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), por exemplo, o uso de câmeras de vigilância foi estudado inclusive em teses de doutorado. Segundo o professor da pós-graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial Heitor Silvério Lopes, os alunos já sugeriram diversos usos para as imagens captadas nas ruas.

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Recentemente, a polícia recebeu a proposta da UTFPR de submeter o banco de dados com fotos de criminosos para que fosse organizado, padronizado e desenvolvido um sistema automático de reconhecimento de faces. "Há uma grande quantidade de imagens que eles não usam e, se querem procurar uma pessoa, têm de fazê-lo em 40 mil imagens. Trabalhamos por uma pré-seleção para reduzir esse número."

Lopes lembra que um trabalho semelhante foi sugerido para o reconhecimento de pessoas em vídeos. "Se ocorreu um crime ou acidente, alguém tem de assistir a horas e horas de filmes. O ideal seria que o computador pudesse varrer uma grande quantidade de vídeos, de várias câmeras, procurando por pessoas com determinadas características", diz.

Relação

Ideias como essas têm sido desenvolvidas em universidades mundo afora e outras são comercializadas por empresas a um preço muito alto. Parcerias entre instituições de ensino e responsáveis pela segurança pública trariam novas oportunidades ao setor. Contudo, esse diálogo não tem sido fácil. A Tecnológica diz ter apresentado diversos projetos ao Instituto de Identificação do Paraná. Apesar de haver demonstração de interesse, ainda não se chegou a nenhum acordo.

Para o coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Bodê, a universidade é fundamental para o estudo do fenômeno da violência, mas a relação entre as instituições precisa avançar muito, não só no diálogo, mas também na divulgação de dados que deveriam ser de conhecimento público e ficam restritos às corporações da polícia. "Quando eles [policiais] assistem à aula e pegam título da universidade, tudo bem. Mas, na hora de discutir as questões relativas à organização, há uma grande resistência a qualquer possibilidade de discussão acadêmica."

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Em Minas Gerais, professor ganhou espaço para trabalho conjunto com a polícia

A parceria do doutor em Geografia Wagner Batella com a Polícia Civil de Minas Gerais, entre 2006 e 2008, impulsionou a criação de um curso para policiais sobre mapeamento de crimes e uso de tecnologias espaciais, como o GPS, e de um grupo de pesquisa dentro da corporação para que fossem aprimorados os métodos científicos das investigações. Na PUC Minas, foi criada a especialização em Criminologia, com policiais civis atuando como orientadores de monografias.

Hoje, Batella é professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), que tem dois câmpus no Paraná. Por ser uma instituição recente, a formação de pesquisadores ainda se restringe à iniciação científica, na qual Batella criou uma linha de pesquisa voltada à análise espacial da violência. "Essa é a principal contribuição da Geografia para a segurança pública. Em vez de chegar para um gestor da polícia com uma tabela, é melhor um mapa, pois a visão é mais rápida e precisa", diz.

Por aqui, o professor ainda não firmou parcerias, mas acredita que virão à medida que novas pesquisas forem produzidas. "Em vez de chegar pedindo parceria, é melhor chegar com resultados. A relação entre universidade e instituições públicas é uma relação de cativação", afirma.

Núcleos A pesquisa sobre segurança pública nas universidades muitas vezes ocorre por meio de núcleos de estudos, como o Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos (CESPDH), da UFPR; o Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu), da UFRJ; o Núcleo de Estudos sobre a Violência e Segurança (Nevis), da UnB; e o Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da USP. Um dos primeiros do Brasil, o NEV forma pesquisadores desde 1987 e já desenvolveu projetos de pesquisa e cursos de extensão financiados por instituições como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e convênios com agências da Organização das Nações Unidas (ONU), União Europeia, ministérios da Saúde e da Justiça e Secretaria Especial dos Direitos Humanos.

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